Bolsonaro: Saúde Pública X Economia, e sua “Escolha de Sofia”

Por Luciano Lima*

Em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão (24/03), o presidente Jair Bolsonaro demonstrou estar contaminado pelo vírus da insciência. Perdeu o time político, demonstrou profunda insensibilidade social e sinalizou ter feito a sua “escolha de Sofia”.

O discurso de Bolsonaro seguiu a mesma linha da entrevista do presidente americano Donald Trump, realizada na última segunda-feira (23/03).

Naquela data, Trump afirmou estar examinando a retomada da vida comercial americana, quando a paralisação de 15 dias, decretada em 16 de março, se encerrar, na próxima semana.

Mesmo sabendo que o Coronavirus se espalha rapidamente nos EUA, onde já foram registrados mais de 60 mil casos de contaminação e mais de 820 pessoas já morreram; que a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou, nesta terça, que os Estados Unidos têm o potencial de se tornarem o epicentro global da pandemia de Corona vírus, citando uma “aceleração muito grande” nas infecções e que líderes do Pentágono já afirmaram que o surto pode continuar por meses. Trump insiste em seu desiderato eleitoreiro.

Na mesma linha, trazendo um pouco de retórica, o presidente brasileiro, pratica em sua própria família a ventriloquia, vendo seu filho Eduardo Bolsonaro, Deputado Federal por São Paulo, fazendo coro com o presidente americano – que sempre se refere ao Covid-19 como “vírus chinês” – atacando e culpando a China pela crise pandêmica em curso em todo o mundo.

Bolsonaro sabe que nos EUA, o “voto econômico” – aquele que é dado pelo eleitor com base na situação econômica do pais é extremamente valorizado. Sabe também que isso pode acontecer em nosso pais. Mas Bolsonaro olvidou-se, que as eleições americanas acontecerão em 3 de novembro deste ano e a eleição presidencial brasileira acontecera em outubro de 2022.

Esqueceu que o discurso utilizado pelos grandes líderes mundiais é o da união. De uma guerra de todos contra o Covid-19, de superação da crise pandêmica.

Ambos os presidentes trabalham as respectivas reeleições com o discurso do “crescimento econômico”. Daí ser essa pandemia a maior ameaça aos respectivos projetos políticos.

Bolsonaro propôs, com seu pronunciamento uma sofismática dualidade entre saúde pública e economia, entre um “eu atleta” e “vocês sedentários”, entre Coronavirus e “Gripezinha” ou “Resfriadinho”. Ele fez a sua “Escolha de Sofia”.

O termo “Escolha de Sofia” é uma expressão que invoca a imposição de se tomar uma decisão difícil sob pressão e enorme sacrifício pessoal, como a vista no filme homônimo de 1982 que valeu a Meryl Streep o Oscar de melhor atriz.

A trama conta a história de Sofia, uma polonesa que, sob acusação de contrabando, é presa com seus dois filhos pequenos, um menino e uma menina, no campo de concentração de Auschwitz durante a II Guerra.

Um sádico oficial nazista dá a ela a opção de salvar apenas uma das crianças da execução, ou ambas morrerão, caso não escolha uma elas, obrigando-a à terrível decisão.

Com sua escolha dissonante com a sociedade, Bolsonaro: propôs o fim do isolamento social, criou o “isolamento político”, deu ainda maior protagonismo a governadores e prefeitos e recolocou o Impeachment na ordem do dia.

Bolsonaro estabeleceu uma falsa dualidade, em detrimento de uma correta prioridade.

Temos que resolver ambas as crises, bem como suas consequências. Contudo, numa relação entre causa e efeito; o Coronavirus e a saúde pública, são a primeira; a crise na economia o segundo.

A Sofia foi dada o direito de escolher entre 2 mortes, ou a ambas, pelo silencio. Já Bolsonaro avocou para si escolher entre saúde ou economia, entre mortos ou desempregados.

Ele já fez a sua “Escolha”. Mas nesse caso, penso que o “Silencio de Sofia” ou “de Bolsonaro” evitaria muitas mortes pelo Coronavirus. Mas, para isso ele teria que desligar-se um pouco das redes sociais e conectar-se mais a realidade mundial. Tarefa difícil para quem acredita ser um “MESSIAS” até no nome.

*Luciano Lima Advogado, Pós-Graduado em Direito, Professor de Direito Civil e Processual Civil. Mestrando em Ciências Jurídicas e Ciência Política, pela Universidade Infante Dom Henrique. Articulista e Consultor Político.

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