O “caso Neymar”, Zuñiga e as infelizes reações

Por Cláudio Lisboa da Silva*

Enojado com as declarações racistas, de ódio e de ameaças direcionadas ao jogador Camilo Zuñiga, da seleção colombiana. Foram feitas ameaças à filha pequenina do jogador, bem como a demais membros de sua família. Isso é, no mínimo, vergonhoso… Toda manifestação desta natureza que tenha essa carga de ódio e inconsequência merece repúdio. Não podemos corroborar com práticas tão escrotas como esta, que tem se configurando como um linchamento público. Logicamente, o episódio que provocou a contusão no Neymar e, consequentemente, o tirou dos próximos jogos desta Copa do Mundo, gera um misto de sentimentos em uma população que tem em sua seleção de futebol um importante símbolo de representação nacional. O fato da Copa está sendo realizada no Brasil, de Neymar ser uma das estrelas do futebol internacional e de termos avançado para as semifinais do Mundial, de alguma forma, reforça o sentimento de grande perda com a saída do jogador. Até aí, tudo bem… Mas, utilizar esta tensão como pretexto para iniciar uma campanha de ódio, discriminação e ameaças é um tanto demasiado.

Sinceramente, não acredito que houve a intenção do jogador colombiano em promover tal agressão ao brasileiro, não descartando a imprudência da ação. Posso está equivocado quanto a isto, mas me declaro muito seguro ao repudiar a reação de muitos, principalmente, nas redes sociais. Após o jogo, os perfis nas redes sociais de Zuñiga foram tomados por mensagens que destilavam ameaças e que expressavam (em vários casos), direta e indiretamente, uma carga racista. A filha de Zuñiga, uma criança, também foi alvo dos xingamentos e sofreu ameaças de estupro e outras formas de agressão. A esposa e a mãe do jogador também não escaparam da onda de xingamentos. Como não lamentar?!

Aqui no Brasil, temos exemplos recentes de como podem ser nocivas as destilações de comentários raivosos, infelizes e irresponsáveis nas redes sociais. Casos em que o linchamento virtual culminou em linchamentos físicos, injustiças e mortes. Mesmo que o jogador colombiano seja merecedor de alguma punição pelo lance, certamente, esta campanha de ódio não pode ser considerada como uma alternativa justa. A lesão do Neymar será tratada e curará, no entanto, me preocupa a seguinte questão: Qual tratamento se dará para a cura do ódio e do comportamento preconceituoso e/ou altamente agressivo, que de tempos em tempos é ventilado nos mais variados espaços da nossa sociedade?!

Por fim, apresento a solidariedade aos dois jogadores: ao Neymar, para que se recupere da referida contusão, e ao Zuñiga, para que resista aos atos agressivos que lhe estão sendo direcionados. Que a solidariedade do movimento #ForçaNeymar não se confunda com as ações preconceituosas, que de fundo e de frente reforçam as opressões e injustiças.

*Taperoense, Negro, Militante, Educador e Estudante da UFRB.

Você pode gostar...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *