Falar de política hoje, pra quê?

Por Jorge Amorim

jorge amorim Já vamos dizendo imediatamente aos caríssimos leitores que estejam despreocupados, pois nós não iremos aqui elaborar críticas aos políticos presos por participação no esquema do mensalão, ao congresso nacional brasileiro ou até mesmo ao judiciário. Não, esqueçam-se disso.

Apesar de estarem faltando bem menos de 365 dias para a votação que elegerá o presidente ou presidenta da república, governadores dos 26 Estados mais o Distrito Federal, senadores e deputados federais e estaduais, vamos tentar “sair” um pouco de assuntos políticos ligados aos níveis estaduais e nacionais para levantar questões quanto à política… Tcharãããããã!… Quanto a política local.

É importante falar dela?

Sem dúvida, até por razão de compreender que pela proximidade que temos com prefeitos e vereadores, representantes locais eleitos a cada quatro anos, podemos estimular mais a capacidade cidadã, voltada para a preocupação coletiva, ao sabermos que os problemas municipais, como os das áreas educacionais, de saúde, de infraestrutura e de segurança, existem e precisam de nossas reivindicações, preferencialmente pacíficas.

Ah, e é preciso não esquecer que existem as sessões ordinárias ocorridas nas câmaras municipais uma vez por semana, abertas à todos nós, onde os projetos do poder executivo são analisados e onde as ações do gestor merecem ser fiscalizadas pelos vereadores, capacitados pelo voto para atuar como nossos representantes legítimos.

Existe, porém, a possibilidade de alguém pensar assim: “- Para quê que eu vou sair da minha casa para ir falar com o prefeito ou participar de uma sessão na câmara?” Esta é uma pergunta que deve orbitar na cabeça de 99% das pessoas. Por quê?

Algumas respostas podem ser elencadas: a pessoa deve achar que o gestor municipal poderá não estar no seu gabinete, e ainda que esteja poderá estar ocupado com seus assessores, outras pessoas ou mesmo sem nenhuma pretensão em atender alguém, tratando de afastar o seu estresse jogando “paciência” no computador ou atualizando seu perfil no Facebook.

Quanto aos vereadores, pode vir à mente do eleitor a ideia de que é mais proveitoso ficar em casa assistindo televisão ou acessando a internet do que ir para uma sessão ordinária e ouvir vereadores discutindo o sexo dos anjos. Tanto estes quanto aqueles foram eleitos para colocarem em prática o que disseram durante a campanha eleitoral.

Diversos teóricos, que dedicaram horas de seus dias para pensarem a melhor forma de um governante gerir um poder público, deixaram (para a gente) obras cada vez mais distantes de uma “política pura e honrosa” que deveria acontecer. Deveria! O filósofo grego Platão (428 a.C.-348 a.C.), por exemplo, nos contemplou no seu livro “A República” com a ideia de que uma cidade justa, harmônica e bela teria estas três características se fosse governada por alguém detentor do saber.

Nicolau Maquiavel (1469-1527), considerado o criador da ciência política moderna, defende em seu clássico “O Príncipe” que um governante deve ter a virtude política para ser político. Já o cientista político italiano Norberto Bobbio (1909-2004) esclarece em sua obra “Estado, Governo, Sociedade” que um governante atual precisa ser um líder tolerante e pluralizado.

Pura teoria de grandes mentes? Infelizmente, em vários lugares deste país prefeitos e vereadores procuram tratar o poder público como algo seu, como um instrumento para a sua vaidade pessoal, deleite, autoritarismo, assistencialismo e, até mesmo, para perseguição. Isto vale para prefeitos e vereadores.

Em muitas localidades brasileiras, aqueles que deveriam se preocupar em ter e praticar um pouco daqueles “conselhos” de Platão, Maquiavel e Bobbio – muitos nem sabem da existência destes! –, seguem contra a corrente. Quando não detêm o poder, fora do poder público dizem que esse é um bem de todos, mas quando assumem os seus cargos públicos passam a exercê-los como propriedade privada. A partir deste momento, iniciam as indicações de parentes, aderentes, cabos eleitorais seus para cargos em comissão, cumprindo promessas de campanha e, notoriamente, praticando o chamado de nepotismo.

O prazer para muitos prefeitos e vereadores é estar passando por uma rua movimentada e serem identificados pelos passantes como uma autoridade que detém o poder político. É com este poder que muitos daqueles indicam eleitores seus para ocupar cargos no serviço público, mesmo não tendo competência para gerir um cargo. É com aquele poder que a vida de muita gente manipulada sem um planejamento que vise o bem estar do ser humano de forma que minore o seu sofrimento no futuro; utilizam do poder para resoluções de problemas temporariamente, cessado o efeito tudo volta às mesmas condições anteriores.

A política local, em muitos dos municípios brasileiros, alcançou esse patamar de apequenamento e nulidade. O que queremos dizer com isto?

Ao invés de políticas preventivas e educacionais, às quais deveriam ser as corretas, quais são as maneiras errôneas que definem um político como “bom gestor”? Vamos a elas:

O considerado “bom gestor” aquele que envia vários pacientes para hospitais de outras cidades em ambulâncias ao invés de manter a estrutura do hospitalar local; o considerado “bom gestor” é quem pavimenta algumas ruas urbanas ao invés de pavimentar todas elas; o considerado “bom gestor” é quem concede fardamento para estudantes, mas são se preocupa em vitalizar programas educacionais de qualidade; o considerado “bom gestor” é quem edifica um quebra-molas por superfaturamento e espocam foguetes como grande obra e a preço de grupos musicais famosos; é aquele que ocupa o cargo na primeira gestão pensando em se reeleger.

Todos estes pontos, e outros mais, compõem uma espécie de “manual para governar” de sorte que depois da primeira eleição e reeleição ainda deixam os seus sucessores. Evidente que com “as burras” transbordando de dinheiro.

A gente pode considerar, porém, que surgiram instrumentos relevantes para a valorização do cidadão, ainda mais para aquele que mora no município.

Desde junho deste ano no Brasil, as redes sociais inseridas na internet tornaram-se as estratégias mais eficazes para reunir várias pessoas com o fim de reivindicarem melhorias para os problemas locais, embora algumas daquelas tenham exagerado nas suas atitudes reivindicatórias ao partirem para a violência ou depredação de bens públicos. O aparelho celular e os perfis em sites passaram a ser instrumentos de trocas de informações rápidas que substituíram os antigos códigos secretos e os recados manuscritos. Por e-mail ou SMS, o famoso “torpedo”, se pode arregimentar várias, milhares e milhões de indignados.

Duvidam? Bom, ainda que vejamos muita gente que prefira falar de tudo menos de política, não podemos deixar de lado o quanto a política faz parte do nosso cotidiano, basta termos a noção de que por vivermos e convivermos em meios sociais somos verdadeiros seres políticos. Com isto, falar sobre política local, adequada aos tempos atuais, é necessário. Hoje e sempre.

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