O BBB E A FUNÇÃO EDUCATIVA DA TELEVISÃO

Irene Dóres

Início do ano tudo se renova, inclusive a programação da televisão brasileira. Se renova ou se repete? Às vezes renovam as pessoas, mas os programas continuam mais úteis do que nunca. Quer programa mais educativo, inteligente e igualitário que o BBB? (Big Baixaria Brasil)? Então vamos falar um pouco sobre esse entretenimento em sua 13ª edição, desgracença que a população tem que engolir há 13 anos, e nem diga que há alternativas diversas porque nem todo brasileiro possui televisão a cabo. Nesse caso não resta opção. O jeito é encarar essa edição 13, número preferido de Zagalo e temido pelos supersticiosos. Pra começar são 06 “veteranos” contra 06 “inocentes”, – essa novidade seria por falta de audiência? Dentre esses 12 escolhidos, a maioria absoluta é de mulheres “gostosas” – nada contra elas é claro – e homens sarados e tatuados. A distribuição por grupos específicos, ou cota como é popularmente conhecido para garantir a igualdade social, permite a entrada na “ nave louca” de uma pessoa negra e um homossexual. Perceberam? Apenas uma pessoa de cada grupo! E se não tivesse a tal da cota hahaha.., duvido que eles entrassem. Ah eu queria mesmo ver eram moças e rapazes pobres e feios disputando um milhão e meio de reais, esses que já entram com contrato e que já estão tentando a fama há muito tempo não vale.

Caramba! Alguém por acaso já pensou qual a função educativa desse programa? Não é fácil responder, porque partindo do princípio que a televisão tem funções amplas e ambíguas como: divertir, informar, educar, alienar, emburrecer e manipular como afirmou a Rita Lee ao dizer em sua canção: “a televisão me deixou burra, muito burra demais… E agora eu vivo dentro dessa jaula junto dos animais”…. Então aonde se encaixa o BBB, alienação, emburrecimento? Não sei bem em que categoria classificar esse programa, ele é muito complexo para minha inteligência. Mas, pensando bem, se você parar para observar, o BBB ensina aos espectadores a serem mau caráteres, fofoqueiros, a se darem com muita facilidade, a desrespeitarem uns aos outros, a serem falsos, uau! Quanta coisa legal de se aprender. E as formas de eliminação então, essas são fantásticas, mas você precisa começar observar pela primeira semana, quem sai primeiro?

Então, chegou o grande momento, a hora da expulsão pelo paredão, quem na maioria das vezes é dispensado rapidinho? A pessoa gordinha, a negra, o homossexual, há menos que ele tenha sorte como Jean e seja salvo pelo público por questão de empatia escandalosa. Então podemos dizer, um gay ganhou o BBB! Vamos ver quando isso acontece outra vez. Nessas 13 edições quantas mulheres ganharam o BBB? Não precisa pensar eu respondo: três! Duas porque eram pobres e uma porque tinha má fama. Depois da vitória das duas pobres e com beleza limitada, nunca mais outra pobre e não tão bonita entrou no BBB para não desbancar as garotas bonitas e dadas como a Fani e a Renatinha. Aliás a Fani está de volta, e a Maroca também, uau! E agora aurora? O prêmio vai para quem? “veterano” ou “inocente”? Vamos ver o desenrolar da coisa, o povo brasileiro acredita que o mundo é dos espertos ou dos caras bonitas e corpos sarados, mesmo que esses “vencedores” não tenham nenhum valor moral para oferecer como exemplo e, em se tratando de BBB já ficou provado que quem vai expulso de uma edição por ser considerado mau caráter pelo público, pode vir a ser herói numa próxima, nossa, isso me remete a eleição, o mau caráter de hoje certamente voltará a ser prefeito ou presidente do Senado amanhã, hum! Melhor voltarmos ao BBB que é nosso foco.

Bem voltando a expulsão por “preferência” nesse BBB 13 o público vetou com louvor no primeiro paredão pra variar, a participação de uma mulher negra porque se mostrava mau educada e pavio curto, acredito que os 77% dos votantes se viram nela e ficaram com vergonha de se assumirem como pessoas grosseiras. No Brasil o caráter vem sempre em terceiro plano, a estampa é mais importante, por isso penso que se a primeira candidata a expulsão fosse loira, mesmo ela tendo todos “defeitos” encontrados pelo público, estaria ainda na disputa, nesse caso porém, a vítima seria a mais gorda, o menos ardiloso, aliás já saiu outra candidata porque o público considerou que ela “era muito parada”, não fazia intriga, “não estava no jogo”. Como diria Renato Russo; “que país é esse” ? Que uma pessoa para garantir lugar numa disputa dessa, tenha que ser encrenqueira e ardilosa, se o critério é esse porque retiraram a negra lá no início do programa?

Oba! Antes que você pense que sou advogada do diabo e que estou defendendo a moça, respondo que não estou. Apenas questiono esses paradigmas, também não sou espectadora do programa, felizmente minha tv tem controle remoto e canais mais interessantes, porém, é impossível deixar de saber notícias do reality show, a cada intervalo aparece uma chamada com o público dando sua opinião sobre os participantes, na internet todo site que se abre está lá estampado os afazeres dos Brothers e o que está acontecendo na casa. O processo de manipulação, é escandaloso e funciona 24 horas por dia, então, não há quem não conheça o BBB mesmo que não queira assistir.

Bem amigos e não amigos pra que serve mesmo o BBB na prática? Para os anunciantes fazerem propaganda ao vivo; para mostrar ao brasileiro como ele é de verdade, (na boa, eu quero me incluir fora dessa, e espero que você também esteja nesse grupo) e às vezes para mostrar o talento de umas poucas pessoas como foi o caso de Juliana Alves que se revelou muito boa atriz e Grazzi que se transformou em estrela da própria emissora, ah também tem o Jean que conseguiu se eleger deputado federal, a japinha Sabrina que conseguiu se projetar como apresentadora e humorista, a Iris também se tornou apresentadora, mas sem muito brilho. Nossa! Consegui encontrar resultados positivos no BBB, por outro lado esse percentual é muito pequeno para 13 anos de reality, o que impera mesmo são os conceitos de que; “quem pode mais chora menos” e a demonstração real que o brasileiro infelizmente ainda está com o desenvolvimento cognitivo muito aquém do desejado quando se trata de saber fazer escolhas, e ainda não consegue se perceber através do exemplo do outro, então a única alternativa que lhes resta após receber e conviver com a influencia da televisão no comportamento social é seguir cantando: “a televisão me deixou burro muito burro demais…”