CAIRU: III CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE CULTURA

* Antônio Isaías do Rosário Ribeiro

A III Conferência Municipal de Cultura realizada na última sexta-feira, homenageou Dona Titinga, sambadeira gamboense falecida recentemente. Dona Titinga faleceu aos 86 anos “ensaiando” a apresentação do Samba de Roda da Gamboa. Suas últimas palavras foram também o seu último canto:

Ei, minha senhora, onde é sua morada? Ei, minha senhora, onde é sua morada?

– Moro prá cima do morro; prá cima do morro, é lá … é lá, minha morada.

Realizada nesse estado de emoção da cultura nativa, a III Conferência reuniu por todo o dia expressivo número de participantes, com grande presença da juventude estudante – um bom sinal para a sustentabilidade. Além da gente de cultura nas presenças de Carlito do Morro (excelente performance de sua capoeira), Missinha (Boipeba), Irá e Marcos (Garapuá), Josenildo e Lívia (Ituberá), tivemos gente grande como Katia Alexandria e João Antonio (muito felizes com o doutorado de Gil Vicente).

A III Conferência recebeu empresários (Caio Marques), ambientalistas e expoentes da economia verde (Eduardo Athayde e Fernando Carvalho). Das palestras, destaque para Eduardo Athayde, do WWI World Watch Institute, em suas abordagens sobre o ordenamento emanado da Constituição Federal e os conceitos sobre o poder e exemplos práticos de empoderamento da sociedade; culminou com um belo e preciso histórico do CAIRU 2030 e a constante disposição de estar junto de Cairu. A organização da III Conferência agradece essas contribuições e também as de Eduardo Cerqueira e Orlando Ramos sobre a restauração da Matriz do Rosário.

Na impressão do secretário Isaías Ribeiro, da cultura, a administração do prefeito Hildécio Meireles reconhece a importância desta III Conferência para a vida comunitária e lhe empresta o apoio necessário e possível. As obras em andamento em monumentos históricos confirmam tal importância. Entretanto, acha o secretário, para uma efetiva política de cultura, não bastam investimentos pontuais. É preciso um alargamento da percepção de sua importância e um esforço de ativação de fundos públicos, juntamente com uma mudança de modelo de gestão territorial que considere a criatividade da população e sua economia criativa. Há no município imensa variedade de culturas: são praticantes de expressão teatral e de dança; poetas fazendo intervenções, ativistas promovendo músicas populares, grupos em aulas de computação, artesãos produzindo seus trabalhos; enfim, fazedores de culturas da cena viva de nossas vilas e povoados. O I Festival de Talentos aqui realizado em Novembro passado, sintetizou em dois dias toda essa atividade criativa. Em qualquer canto, esses agentes locais de cultura são preciosos! Com freqüência “navegam na contracorrente da lógica que ainda nega direitos e provoca segregação, isolamento, perda de pertencimento comunitário, resultando nas grandes cidades o assassinato de jovens negros e mestiços situação que infelizmente começa a chegar nas cidades menores” – explica o secretário.

A correta percepção da cultura como valor comunitário pode mudar esse quadro.

* Secretário Municipal de Cultura