GLOBO: A DESGRAÇA QUE O GOVERNO INSISTE EM PRESERVAR

Precisamos falar sobre a Globo

globoPor Paulo Nogueira

Está num artigo da Economist sobre a Globo. A revista diz que o governo trata a Globo com “docilidade”.

Tenho minhas restrições ao tom professoral da Economist ao falar do Brasil. Ora, se as fórmulas da revista fossem tão boas assim, o Império Britânico estaria mais vigoroso que nunca ainda hoje.

Notemos também que, a rigor, a Economist não tem sido capaz de resolver sequer os próprios problemas, quanto mais os da humanidade. Na Era Digital, a Economist é uma fração do que foi.

Feitas todas essas ressalvas, a revista acertou em cheio ao usar a palavra “docilidade”.

Nenhuma democracia pode conviver com tamanha concentração em um grupo de mídia. Nas contas da Economist, as Organizações Globo falam com 91 milhões de brasileiros.

Sabemos bem – a rigor, a Globo sempre disse o que diz hoje – que tipo de informação é passada aos brasileiros.

Tudo que beneficia o povo é uma “tragédia” – como o Globo definiu em sua primeira página o 13.o salário outorgado por João Goulart pouco antes do golpe militar.

A Globo faz mal ao Brasil, numa palavra. Mais especificamente: à ideia um Brasil socialmente justo. O Brasil da Globo é este que conhecemos, repleto de desvalidos em favelas e com os Marinhos no topo das famílias mais ricas do país.

Dada sua força, a Globo é a Bastilha brasileira, o símbolo da iniquidade. Para que a França avançasse, a Bastilha teve que ser derrubada. Para que o Brasil avance, a Globo tem que ser enquadrada.

Enquanto a Globo for deste tamanho, o Brasil continuará, essencialmente, o mesmo.

Enquadrar a Globo esbarra exatamente na “docilidade” do governo. Das administrações petistas, sublinhemos.

Porque antes você teve duas situações. Na primeira, durante a ditadura, a Globo fazia vassalagem e era recompensada majestosamente com mamatas indecentes.

Depois, com o fim da ditadura, a Globo passou de vassala a senhora. De Collor a FHC, todos os presidentes se ajoelharam para Roberto Marinho e para a Globo.

Com isso, a Globo conseguiu o milagre de sobreviver, ainda mais forte, àquilo que a fez ser o que é: a ditadura.

Esperava-se que o PT mudasse isso. Mas não foi o que ocorreu – ainda que fosse uma ação vital não para o partido em si, mas para a sociedade.

O PT foi dócil desde o início, sabe-se lá por quê. Pragmatismo, prudência, numa visão mais positiva. Medo, numa visão mais severa.

A docilidade se manifestou logo. A Carta aos Brasileiros, com a qual Lula se comprometeu a seguir as diretrizes básicas de FHC, teve as digitais de João Roberto Marinho, da Globo.

Pouco depois, em outro momento icônico, Lula compareceu ao enterro de Roberto Marinho, e lhe fez um elogio fúnebre.

Uma pequena medida de como as coisas se complicaram nas relações PT-mídia é que Dilma não compareceu ao enterro de Roberto Civita.

Mas Dilma também contribuiu para a dose de docilidade ao não trazer para o debate a regulação da mídia. Seu governo ficou marcado pela tese indefensável de que o controle remoto serve para lidar com a mídia.

Houve também o “republicanismo” na distribuição de verbas de propaganda do governo federal. O “republicanismo” carregou 6 bilhões de reais para a Globo em dez anos, a despeito de audiências cada vez menores.

Há detalhes difíceis de engolir neste “republicanismo” todo. Dias atrás, o portal ig publicou um artigo segundo o qual a Caixa Econômica Federal vai investir apenas 1% em publicidade nos meios digitais em 2013. Nem 2% e nem 3%: 1%.

Isso quer dizer que 99% da verba da Caixa terminam em mídias que rotineiramente massacram o governo. “Republicanismo” ou, como muitas pessoas dizem, “Síndrome de Estocolmo”?

É dentro desse quadro que Lula tem falado na campanha de desinformação promovida pela mídia. Coisas boas do governo Dilma, ou dele próprio, são ignoradas. Coisas ruins –reais ou imaginárias – são sublinhadas.

Entre os que reconhecem na concentração da mídia um enorme obstáculo ao avanço social brasileiros as palavras de Lula causam uma certa irritação. Ora, por que ele não fez nada a esse respeito em seus dois mandatos? Essa é uma das questões que um dia Lula terá que enfrentar.

Para regular de verdade a mídia, você tem que mexer no problema central: a Globo.

É o que Christina Kirchner fez com o Clarín, numa luta épica em que ela foi diariamente atacada sem jamais ceder. É o que o governo conservador do México está fazendo também com a Televisa.

No Brasil, sem que o caso Globo seja enfrentado, falar em regulação será pouco mais que jogo de cena.

Apenas para registro, até os militares começaram a ficar inquietos, num determinado momento, com o tamanho da Globo, porque isso poderia representar um Estado dentro do Estado.

O Brasil precisa, mais que nunca, de um estadista que diga aos brasileiros, com clareza e espírito público: “Precisamos falar sobre a Globo”.

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7 Resultados

  1. Ricardo Hage disse:

    Uma cruel realidade a influencia da emissora em manipular a opinião publica…

    Ricardo Hage

  2. Pr. Josafá Souza Costa disse:

    Se as emissoras de Rádio e TV são concessões do governo federal, qual a razão pelas quais o governo ficou, fica e ficará sempre refém dessas emissoras, e ainda se vê na obrigação de patrociná-la<s pagando caro pelos seus comerciais de governo, além de ficar sempre caladinho diante das reportagens e documentários que elas fazem contra ele, apresentando os seus dossiês!
    É muito estranho, mas o ditado diz que, "quem cala consente", Por que será que o acusado nunca, nunca se defende, preferindo antes o silêncio diante do linchamento moral!
    Na minha tola imaginação, seria um bom momento pra se revê essas concessões, ou mesmo cassar algumas delas, especialmente as que compõem o pelotão do grupo chamado o Quarto Poder, achando-se no direito de exacerbar-se nas difamações infundadas.
    É importante salientar que não estou defendendo nenhuma agremiação política ou diretamente a, b, ou c, mas, sim o direito democrático do exercício da verdade e não como querem os linchadores da moral, uma Livre Imprensa sem nenhuma responsabilidade e imunes aos seus crimes de perjúrio, difamação, calúnia, injúria e mentira maquiada da verdade absoluta, sem ao menos dá o direito de defesa ao injustiçado, reparando no mesmo nível o restabelecimento da moral esculachada.
    Sei e gostaria de destacar que o papel da imprensa é fundamental e importante pra esclarecer direitos e deveres dos governos em relação à sociedade. É louvável quando os meios de comunicação portam se com exímia decências, fato que lhe outorga o direito do estrito cumprimento do seu dever, pois, os dividendos desse trabalho já lhe rende felpudas contias em seus ricos e fabulosos comerciais.

  3. José augusto disse:

    Parabéns Paulo Nogueira.

    Concordo com você meu caro, pois a Globo além de trazer influências negativas, ainda presta um desserviço à população que carente de informação ACREDITA nas histórias muitas vezes veladas, outras bem explícitas e com bastante intenções de manipulação que esta emissora promove, que falem os nossos jovens, que são massas de manobra nas mãos desses “autores”, que insistem em nos amarrotar diariamente as suas expectativas, assim como as suas preferências, e como sempre achamos TUDO normal. …

    E acredito sim que a Famigerada Globo possui uma dívida histórica, cultural, educacional, comportamental, social com o POVO brasileiro.
    Quiçá, se a Globo deixar conseguiremos nessas eleições, pesquisar sobre a vida e ações dos candidatos, e então tentar eleger pessoas com mais GANA de censo crítico do que apenas reprodutor daquilo que é imposto pala GLOBO.

  4. MC disse:

    parabéns pastor josafá, belas palavras

    porque o proprio governo se se sente tão subjugado não recinde a concessão feita ? será porque tem rabo prezo

  5. MC disse:

    e a radio comunitaria que foi tirada das mãos da igreja catolica para servir a politica da cidade? e porque faz propaganda aberta com se fosse uma radio comercial,não tem cunho politico?São tantos porques ?? tem que ser revista essa concessão também

  6. XPTO disse:

    Caro Pastor Josafá, é sempre bom ler os seus textos aqui no blog. A rigor, concordo com a essência de seu texto, sobre uma imprensa cidadã. Contudo, espero que me permitas sutilizar alguns pontos de vistas que eu vi nas entrelinhas, até termos um debate qualificado e saudável (como sei que posso esperar de sua pessoa):

    No início do texto, você questiona o porquê do atual governo preferir o silêncio a enfrentar a mídia, lembrando adágio “Quem cala, consente”. Em certo aspecto, creio que republicanismo do atual governo chegar ser exagerado e condescendente (lamento que o PCO, PCB, PSOL e o PSTU não seja viáveis, motivo o qual fico no meu apoio crítico ao atual governo). Contudo, acho que existem mais questões a serem observadas:

    01) O PROBLEMAS DAS CONCESSÕES: A atividade impressa é livre, graças ao nosso bom Deus. Mas a radiodifusão, não. Por ser concessão pública, entendem-se que a qualquer momento ele pode ser suspenso e qualquer empresa (seja TV ou rádio) pode deixar de funcionar, caso o governo federal assim achar. O problema é que na prática, essas concessão estão cripto-privatizadas. SE a luta para que se tenha as rádios comunitárias (porque o lobby das rádios comerciais impedia) foi grande, pior ocorre quando se sonho em não renovar a licença. Não nos esquecemos das duras críticas que Hugo Chavez recebeu de nossa mídia quando se negou a renovar a concessão de uma TV venezuelana e isso acabou sendo ventilada como uma ameça velada ao nosso atual governo. Será que a nossa opinião pública iria aceitar que uma grande emissora de TV deixasse de funcionar por que o “governo não quis”? Creio que ela entenderá isso como um ato de censur.a

    02) ALTA CONCENTRAÇÃO DE ATIVIDADES: Em nenhum lugar do mundo temos empresas de comunicação como as Organizações Globo, que trabalham com TODOS os segmentos da comunicação e atraia para si a audiência que ela possui. Sejamos sinceros: Na Inglaterra, um dos maiores e mais influentes jornais (The Times) possui um rede de rádio e televisão na Inglaterra. Antes, a BBC (principal rede de radiodifusão) é pública. Nos EUA, As três grandes redes de TV aberta disputa ferrenhamente a audiência com as redes locais. E mesmo assim, nenhum dele possui uma grande editora que seja responsável por revistas e jornais ou está necessariamente preso a uma produtora de filmes. Situação parecida temos na França, Espanha, Japão, Itália e México. Melhor dizendo, quando muito, existem holdings que administram empresas distintas (como nos casos da TimeWarner – que é um empresa que administra outras empresas: grupo Time, grupo Warner Bros, o grupo Turner de Radiodifusão; a Disney Company, responsável pelos grupo Disney de entretenimento, a rede televisa ABC, as diversas rádios Disney e o grupo hoteleiro da Disney).

    E aqui no Brasil as Organizações Globo possui uma capilaridade midiática que chega a ser dantesca: Além de ter um dos principais jornais impresso do país (O Globo), é dono da maior rede de televisão aberta (e com o maior cartel de afiliadas que praticamente dizima a produção televisa regional), um das maiores redes de TV paga (além de vender o serviço da NET e da Sky, é responsável pelos canais Viva, Futura, GNT, Globonews, Multishow, Canal Brasil, Sexy Hot), vários portais na internet (e um antigo provedor de acesso), editora (tanto de revista como a Época, Vogue, Galileu, Marie Claire, Crescer, Globo Rural, como de livros), rede de rádio (sistema globo de rádio, responsável pela Globo FM, CBN, Rádio Globo com serviços em AM, FM e Ondas Curtas), Produtora de cinema (Globo Filmes), duas gravadoras (RGE e a Som Livre), Agência de Notícias… enfim, não há um único segmento da comunicação que a Globo não tenha colocado o braço. E em vários deles é líder de audiência. Falo da Globo porque é a maior de toda, mas não devemos esquecer que os antigos grupos Bloch e Diários Associados também uma diversidade de atividades em comunicação que é incomum, quando comparado nos outros países e que no Brasil é extremamente quebrar. Só para salientar: A norte-americana Viacom teve que ser dividida em duas empresas – Nova Viacom e a CBS Corp.

    Qual governo seria capaz de fatiar a Globo (ou a rede Bandeirantes, a Record ou até mesmo o grupo Folha) sem que a opinião pública entenda isso como uma censura?

    03) FEUDOS NA IMPRENSA: Praticamente todas as grandes empresas de mídias são empreendimentos familiares, que vai passando de geração a geração. A relação da família/empresa é tão grande que é praticamente impossível que haja a dissociação. Não dá para falar em Globo sem lembrar a Família Marinho, nem falar nos Mesquitas, nos Frías, nos Collor de Melo, nos Sarney, nos Magalhães ou nos Simões sem lembrar também (respectivamente) dos grupos Folha, Estadão, Organização Arnon de Mello, Sistema Mirante, Rede Bahia e A Tarde. E pode se observar, muitas dessas famílias também possuem uma forte tradição na política.

    04) LEI DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO: Enquanto no mundo ocidental (a exemplo da Inglaterra e da Argentina) estão se estabelecendo leis que regulamente e estabelecem parâmetros que salvaguardem o interesse público e coíbam grandes conglomerados que concentrem a audiência, aqui no Brasil tomam isso como censura.

    05) MARCO REGULATÓRIO DA INTERNET: Apesar do mundo todo comemorar e apreciar essa medida tomada pelo governo brasileiro, houve no nosso país que tomou como uma censura. Observemos: uma lei que estabelece o princípio da neutralidade da rede (ou seja, que proíbe os provedores de internet de discriminarem o tráfego, privilegiando alguns tráfego de informações em detrimentos de outro, seja porque um site pagou ao servidor, seja porque determinado tipo de serviço pode ser mais lucrativo se for oferecido um pacote diferenciado, como ser nas TVs pagas), o que garanti uma grande liberdade de acesso a informação e ao entretenimento foi acusada na “grande mídia”, por “luminares” acima do bem e do mal a serviço dos lobbies, de servir a censura. Culpa do atual governo que não quer dar “liberdade de informação”…

    Creio que, diante de um quadro desse, não só uma questão de “de calar porque consente” ou só fraqueza. Nossas empresas midiáticas são fortes o suficiente para se colocar como o quarto ou quinto poder da nossa república, que atrapalha qualquer debate em prol de comunicação cidadã e honesta. E, infelizmente, essa concentração de atividades numa única empresa e o imbricamento que as empresas estaduais possuem com a política (numa relação incestuosa, como lembra o jornalista Emiliano José) cria uma opinião pública tão anódina e pouco crítica, mas fácil de seguir com o status quo e se indignar com ninharias; do que promover um grande e profundo debate.

    Cordialmente

    J. B. de Oliveira Cristo (XPTO)

  7. XPTO disse:

    MC, para seu governo, NENHUMA RÁDIO COMUNITÁRIA pode pertencer a uma igreja, pois é vedado por lei. O que sempre existiu foi uma associação do qual, diversos seguimentos, participam. Se a paróquia daqui deixou de participar (será que deixou mesmo?) é outra questão. Mas não se é isso que você quer realmente comentar, ou só quer lançar apenas a picuinha?

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