Teatro? Cinema? Salão de Arte? Shows gratuitos? “Quis paradas são essas, ‘piva’?!”
Do perfil de Raell Costa no Facebook
Estive em Dezembro, último, em Brasília, debatendo com companheiros e companheiras de diversos cantos do País sobre o Sistema Nacional de Juventude. Em uma fala que fiz, tomando como exemplo a realidade do meu município, questionei a quem interessava a privatização dos espaços públicos de lazer e interação social da juventude brasileira. Defendi que, parte do Fundo Nacional de Juventude deve ser destinado à ampliação dos espaços públicos de lazer, esporte, música, teatro, dança e artes visuais. E que, o fundo tenha subsídio do IPI dos fabricantes de armas e cartuchos, principais causadores da morte violenta de mais de 35 mil jovens, entre 15 e 29 anos, no Brasil.
É notório que nos últimos 11 anos conseguimos invadir espaços outrora negados pela nossa própria condição sócio-econômica. Hoje damos roles nos shoppings, resenhamos em bares, comemos em bons restaurantes e, sobretudo, demos cor às universidades públicas e privadas. Contudo, nesses mesmos 11 anos de avanços sociais e educacionais, percebemos a privatização dos nossos espaços públicos de lazer.
Por aqui, nem os babas são mais de graça. Ou você tem de 3 a 10 conto ou fica em casa assistindo a TV que diz o que você precisa ter para ser feliz e ter a mulher ou homem desejado. Nas “praças esportivas” em áreas públicas, de alguma forma são privatizadas por associações despóticas, digo desportivas. O Ginásio de Esportes? Virou a “faixa de gaza”. Sitiado pelos conflitos urbanos ficou a margem da comunidade e vive um latente momento de sucateamento. Piscinas? Só em clubes privados. O Rio Una? Fora de cogitação! O Esgoto residencial, hospitalar e as gomas e tinturas da C.V.I dão o tom da qualidade do Rio. Cachoeiras? Todas têm donos. Quadras? Sucateadas, sem piso, sem telas, sem traves, sem iluminação e, o pior – como nas Escolas Estaduais – sem acesso à comunidade do entorno. Skate e patins? Se contente com 90 cm de rampa na Praça da República. Apesar de todo o potencial local para o ciclismo, não há sequer 1 km de ciclovia ou ciclo-faixa no município. Até o mais democrático dos esportes: a corrida. Não tem espaço em Valença, haja vista que precisamos dividir espaço entre os carros, bikes e motocicletas, correndo, literalmente, o risco de ser atropelado. Teatro? Cinema? Salão de Arte? Shows gratuitos? “Quis paradas são essas, ‘piva’?!”
Maaaaaaaas… Se você tem grana está tudo resolvido. Quadras poliesportivas cobertas, e campos de futebol com boa iluminação têm aos montes, tanto em anexos de colégios particulares, como nos clubes ou mesmo em quadras de futebol society, também privadas. Até quadra de tênis tem nos clubes e hotéis. Ou pegue seu Jet e deslize pelas águas do Atlântico.
Só há uma questão: estamos falando de Valença, Bahia, Brasil onde a grande massa é esmagada pelos interesses dos donos da cidade, latifundiários, empresários, financiadores de campanhas eleitorais e contraventores que usam esses espaços privados de lazer para lavar o seu capital sujo, com sangue e o suor escravo da classe honesta e trabalhadora desta cidade que, dia após dia, é espremida, empurrada e marginalizada nos guetos, vielas e beiras-de-mangues. Sem espaços dignos para, nem sequer sentar-se na porta de casa no final de semana ou ensinar seu/sua filh@ a andar de bicicleta pelas ruas do bairro. Quem dirá ter acesso a um sarau ou qualquer evento artístico-esportivo-cultural. Porém, sem dúvida estas comunidades não passam um final de semana sem sentir a dor de mais um filho preto, pardo, morto ou preso pelas armas – oriundas dos mesmos fabricantes – dos conflitos urbanos ou das polícias.
É impossível fechar os olhos ou calar-se enquanto não for direcionada parte do orçamento das três partes federativas – através do Fundo Nacional da Juventude – à melhoria da qualidade de vida social através do acesso a cultura, lazer, e esporte às comunidades juvenis periféricas. É preciso, acima de tudo, inserir os jovens em oficinas, workshops, cursos e eventos culturais. Respeitando as raízes e a disposição local para cada arte.
A democratização dos espaços públicos de lazer é levar a cidadania para as classes menos abastadas. A construção de praças amplas e bem iluminadas é levar dignidade e qualidade de vida para as periferias. Construir quadras poliesportivas para a garotada é apresentar o caminho do Esporte como alternativa contra a cooptação da juventude pelos grupos marginais. Abrir o orçamento da cultura para Editais é democratizar a participação dos grupos e produtores culturais é, subsidiar – sem clientelismo – as raízes culturais da nossa terra combatendo o esmaecimento do que fora construído em séculos por nossos ancestrais.
Dizer que a educação transforma é clichê, descarado e deslavado, já que este debate está posto à mesa desde a América Portuguesa. Mais que afirmar que a educação transforma devemos dizer: A falta de esporte mata! A falta de cultura mata! A falta de lazer mata! A falta disso é negar o acesso à educação que, por sua vez, também mata! Talvez pensando isto percebamos porque moramos em uma das 30 cidades mais violentas do País e a 7ª mais violenta da Bahia para os jovens, segundo o Mapa da Violência 2013.
Espero que, o sangue que lava as ruas seja tão logo substituído pela arte que lava a alma.
Parabéns pelo texto articulado, uma bela análise, no final faltou um ou dois parágrafos de propostas , cabe a todos nós começarmos o debate. Muito feliz em ler este texto.
pra quem sempre estudou em escola particular e teve tudo a disposição(quadra de esportes que nunca jogou,piscina e outros) o discurso está bonito.
kkkk
parece aquela musica do Ultraje a rigor. Rebelde sem causa
Senhor Gildo, desde as primeiras sereies do ensino fundamental II estudei em escolas públicas:Escola Municipal Augusta Messias e o Colégio Estadual de Valença. Continuo no ensino público, superior pela Univerdidade Federal do Recôncavo da Bahia. Mas entendo que não é fácil aceitar as fortes colocações de um “acidente periférico”.
Marcio, penso que as propostas já estão bem claras: levar dignidade e cidadania à periferia, atravessa democratização e qualidificacao dos espaços públicos de lazer.
Achei o texto bom, porém irresponsável. Pois este direciona a culpa de um dos problemas da cidade para empresários e produtores. Falta ao autor estudar um pouco mais, pois o maior agente do desenvolvimento social é o desenvolvimento econômico. Achar que apenas a politica tem capacidade de resolver problemas é de uma demagogia imensa, além de que, é facil. Ao autor, penso que este deve procurar soluções para problemas públicos, afinal, este é uma pessoa pública, porém , deve ser mais prudente em suas palavras , pois estas incitam um caos social desconstrutivo, causando uma desordem local, que vão contra aos interesses dele (cultura, segurança, desenvolvimento) e estes interesses são realmente louváveis.
Lucas, Se você entender o espírito do texto entenderá que o direcionamento é de ampliação e acesso á cultura, esporte, lazer e educação.
Quanto a “prudência” nunca fora negligenciada em nenhum posicionamento meu. Contudo, o embate ideológico entre as forças dirigentes e a massa é mais que importante, é necessário e urgente.
Se você me mostrar as opções de lazer, esporte e cultura, gratuitos, em bairros periféricos, como: Alto de Sao Roque, Santa Luzia, Por-do-Sol, Bolívia, jacaré, ficarei muito feliz.
Entendi o direcionamento do seu texto, e achei interessante o questionamento. Porém, continuo achando sua polarização de mundo entre bem e mal um posicionamento irresponsável, pois atribui a culpa de mazelas locais a determinados grupos De produtores que se esforçam para o desenvolvimento local (mesmo com tantos fatores que trabalham contra isso)Esse discurso é amplamente utilizado no populismo de porrete, onde pintam (com retorica completamente oportuna e desonesta) de que quem tem sucesso profissional é porque esta roubando. Sua luta por melhorias locais é digna, mas essa bagunça de atribuições que você faz é pobre.
Me responde quais as opções de lazer,esporte e cultura, gratuitos em qualquer bairro de valença? Novamente quero falar, acho legal sua luta por qualidade em qualquer lugar da nossa cidade, mas, acho que você escolhe meios incipientes, irresponsável e politiqueiro para lutar por isso.
Obrigado pelo espaço dedicado ao pensamento direcionado a melhorar nossa cidade Pele, e que esse querer não venha a se tornar apenas um saudosismo.
Rolezinho em Valença? Nem tem shoppinhg…
Agora é um fato, ja comunicado em diferentes meios, q ñ tem espaço publico e privatizaram o lazer – colocaram dentro dos shoppings onde poucos podem pagar.
E definitivamente ñ há politica para juventude!
Lucas, não estou pondo a culpa das mazelas sociais em empresários, mas penso que por culpa, negligência ou até mesmo disposição do Poder Público (nas três esferas) os espaços públicos de lazer, esporte, cultura estão cada dia mais escassos à pupilação, sobretudo às periferias.
Cara, não sei se você me conhece, mas está, claramente, sendo agressivo quanto a minha posição. Não sei fazer política pequena. Pra mim, política é ponte e não cerca. Mas não posso dizer que é “tudo lindo, divino e maravilhoso”. Pois não é. Ou levantamos os debates a cerca das necessárias mudanças ou as minorias continuaram a serem sufocadas e amordaçadas pela força da grana e do poder. Como você podemos comparar um o acesso à cultura, esporte e lazer de um jovem classe média e média alta com um jovem classe C, D e E? Não há como, companheiro. Quando defendo o Fundo Nacional da Juventude, subsidiado pelo IPI da Indústria Armamentista, mostro que o caminho da democratização universal das políticas públicas de esporte, cultura e lazer direcionadas para a juventude pode ser e deve ser o caminho não só para a melhoria da qualidade de vida, como o combate à violência através de vida digna e emancipação do ser. Não faria aqui nenhuma colocação que não houvesse uma ideia de solução. Não sei fazer a crítica pela crítica, mas se é notório que os menos “dirigentes” do poder e do capital são os detentores dos espaços privados de lazer com preços pouco acessíveis, continuarei cobrando não só deles, mas das forças públicas posições a fim de sanar, nem que seja emergencialmente os problemas de acesso. Se quiser continuar o debate me add no facebook: Raell Costa.
Tarcisio, quando digo “damos rolés em shoppings” só fiz alusão ao fenômeno social “rolerzinho”. Aqui nosso shopping não é atrativo, mas se fosse, com toda a certeza estaríamos sendo empurrados para dentro dele. Concordo contigo, de fato, não há políticas sérias para a juventude no município. “Oremos!”
Parabéns Raell Costa,
A certeza é que consegue espessar as indignações dos jovens periféricos esclarecidos.
Valeu Raell. Bom texto!
Continuo achando rebelde sem causa ou com causa politiqueiras,Rolezinho em shoping é considerado conquista dos jovens..essa é boa!
Não está pondo a culpa em determinados grupos? Acho que esse texto é seu :
“Só há uma questão: estamos falando de Valença, Bahia, Brasil onde a grande massa é esmagada pelos interesses dos donos da cidade, latifundiários, empresários, financiadores de campanhas eleitorais…com sangue e o suor escravo da classe honesta e trabalhadora desta cidade que, dia após dia, é espremida, empurrada e marginalizada nos guetos, vielas e beiras-de-mangues.”
Você vai de desculpar, mas agressivo eu não fui, eu diria ríspido! Afinal, essa sua retórica “lenistica” é de última. Por falar de Lenin, é dele que floreceu esse conceito de criar classes (como você está fazendo), para criar um barulho social e então fluir tudo na filosofia do porrete, que hoje em dia, principalmente no Brasil, é embasada na questão cultural.
Outra coisa, sou a favor do debate sim, e esse ano vai ser um ano de debate, a argumentação e o debate (além da troca de poder) vem a se fazer mister para o desenvolvimento, agora acho que isso deve ser feito de maneira honesta, por exemplo: eu falei que sou contra a maneira que você expõe os fatos , ponto! Porém sou completamente a favor da sua luta, de melhoria local (universidade para nossa cidade –Aproveitando para explicar sua pergunta, não o conheço, apenas acompanho os blogs de informação de Valença, pois está é minha cidade, e as vezes o nosso amigo Pelegrine fala sobre você e sua luta pela universidade para Valença. Se eu lembro ele fala algo do tipo, caso não seja você, me desculpe e eu te desconheço por completo e o fato de eu ter feito comentário nesse post é que eu não poderia me privar), melhoria econômica/social para nossa cidade, trabalho para que nossa população não precise ir embora de nossa cidade, quadras, centros culturais, e paz para nossa cidade. Acho que queremos a mesma coisa não? Porém, minha discordância a seu texto, foi quanto a sua posição de criação de um bem e um mal social, onde empresários vampirizam a vida do povo, porém em momento algum falei que sou contra o desenvolvimento social (ponto).
Por fim, só para terminar, digo que achei muito legal sua ideia do IPI, porém lastimável o modelo bolivariano tupiniquim adotado como prumo. Penso que você deve reformular seu texto e conseguir discernir melhor o significado da propriedade privada, e os deveres públicos, pois sua colocação está um pouco atribulada, por exemplo, uma pessoa que quer ter um “jet” (como você fala), tem todo o direito de ter um “jet”, uma pessoa que quer ir jogar futebol numa EMPRESA/clube tem todo o direito (veja que eu falei empresa, isso é a coisa mais trivial no mundo moderno), o investimento privado e consumo individual foi meio embaralhado na sua ferramenta de opnião.
Por fim (2), não tenho facebook, mas tentarei responder mais questões em veículos como o do nosso amigo Pelegrine, que como você falou, gera o debate (mais inflamado ou não, porém sempre com o respeito ao outro lado e sempre debatendo no campo de ideias). Te desejo sorte na sua carreira.
Lucas, acho realmente que você não entendeu o espírito do texto, mas respeito sua posição por mais contraria que seja. Espero que possamos manter o debate. Tenho tendência marxista sim. Mas entendo a complexidade da globalização conceituada por Milton. Saudações tupiniquins.
Eu sei que vc é marxista, vi no jeito que vc escreve que é o que Lenin classificava como “idiotas úteis”. Só não vale me chamar de agressivo ta? Mas como você falou que é marxista já deve ter estudado e sabe que fui apenas conclusivo.
Me dá agonia não ter sobrenomes, sempre fico com a sensação das pessoas acharem que possa ser eu.
Só agora vi essa postagem porque me indagaram porque eu discutia com Raell em redes sociais (rsrsrs), não sou o autor dos comentários acima.