As flores que eu quisesse

Por Wellingthon Anunpciação

Eu tinha nove anos de idade, cursava a 5ª série no Colégio Municipal de Valença, hoje, Dário Galvão de Queiroz, passava todos os dias pelo mesmo caminho por volta das doze horas e quarenta e cinco minutos. Até que um dia, nas minhas artes de ‘menino levado’, resolvi pegar escondido uma rosa em um lindo jardim de uma das casas que estava em meu percurso para presentear uma das minhas professoras, e para meu azar fui agredido por um cão que da casa fazia guarda, ele mordera a minha mão e os outros começaram a ladrar mais alto e eu sai correndo, mesmo com a mão machucada, com medo do dono da casa me repreender. Quando já estava a mais de 200 metros de distância em minha direção vinha uma senhora de cabelo curto, com olhos claros e estatura mediana acompanhada de um cidadão, me gritaram: – Ei meu filho, espere aí.

Morri de medo, imaginei que iam me dizer e fazer as piores coisas comigo devido ao ato cometido, foi quando ela se aproximou de mim e perguntou onde eu morava, eu sem saber para aonde apontar fiquei confuso, e ela imediatamente viu minha mão ferida e levou-me a sua casa (a mesma casa que eu tinha tentado apanhar a rosa), pediu que eu entrasse pois ia cuidar de minha mão, enquanto ela mesma pegou os itens (soro, mertiolate, algodão), perguntava o que eu queria fazer na sua casa, e eu a respondi com a voz trêmula que apenas queria uma flor para dar a minha professora,  ela retrucou-me perguntando se eu não havia visto a placa indicando os cães (que por sinal eram antissociais), respondi que não os vi e achava que estavam presos, cuidando de mim ela novamente perguntou onde eu morava, foi quando eu disse meu endereço e a minha filiação, logo ela disse conhecer a minha família inteira, eu logo já me preparava para a surra que mainha me daria, foi quando ela chamou o rapaz (me parece que seu caseiro), e pediu que ele prendesse os cães e que eu colhesse as flores que eu quisesse, eu com minha mente ainda sob a fobia dos animais fui fazer isso com muita cautela, daí ela perguntou meu nome eu apresentei-me, seguindo dos dados escolares e ela me confessou ser professora e que via em mim mente e futuro brilhante, perguntou se na minha escola nos cantávamos o hino brasileiro e do município, eu disse que sim e que as vezes, ela perguntou se eu conhecia os autores destes hinos, e eu respondi que não, foi quando ela me disse ser uma pena a perda do sentimento de civilidade nos corações dos ‘novos valencianos’, eu perguntei a ela quem eram, ela respondeu-me dizendo: – Sou professora, e apaixonada por este pedacinho do Brasil chamado Valença, me chamo Macária, compus a letra do hino de Valença, neste mesmo instante já ia me entregando um folheto com o hino de Valença, e me pediu que estudasse muito, e que mesmo que minha escola não executasse  os hinos, que eu absorvesse todo o sentido de civilidade para me tornar um homem de bem e valorizado, pois não bastava minha inteligência, mas uma série de coisas que ainda iam me tornar um ser humano de caráter irretocável, e o degrau inicial seria a civilidade.

Naquele instante ganhei uma amiga, e famosa, pois não era qualquer um que tinha aquela sorte, de ter uma vizinha (pois morávamos a 200 metros), fui feliz para escola e distribui as treze  flores coletadas para as minhas estimadas professoras e diretoras da escola. E quando me questionavam por que o atraso, eu com minha vaidosa atitude respondia que estava em reunião com a autora do hino de Valença, exibindo o panfleto aos meus colegas.

Tristeza
Hoje pela manhã soube do falecimento da minha distante, mais admirada amiga, queria poder homenageá-la, mas ao entrar em contato com familiares soube que seria velada e sepultada em Salvador, o que deixou a mim e uma série de pessoas tristes, pois queríamos prestar uma ultima homenagem a aquela mulher humilde, cuidadosa, gentil e que fazia questão de passar seus conhecimentos adiante.

Da última vez que estivemos juntos em 2009, em uma gincana de uma instituição de ensino, rimos muito da forma que nos conhecemos, e ela se queixava por não ter mais tempo para cuidar do jardim, e que ela quem passava a ser uma rosa, cuidada por uma jardineira, apontando para sua enfermeira que já fazia parte de sua rotina integral de vida.

Amiga, certamente hoje (sábado) o sol brilhou e esquentou nossa Valença de uma forma que eu jamais vi, certamente foi o ânimo dos astros e estrelas em recebe-la no céu. Pró, que nesta noite você já possa ser uma estrela (a que mais brilha) para encantar o céu valenciano.

“…eu me orgulho de ti minha amiga, sou teu amigo, e ei de sempre te amar, serás sempre uma querida, comigo sempre tú estará.”

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2 Resultados

  1. Dilma disse:

    Homenagem simples e linda! Macária era Valença! Precisa ser homenageada pelas autoridades valencianas!

  2. GUGA disse:

    PORQUE A FAMILIA NÃO REALIZOU O ULTIMO DESEJO DE PROFª MACARIA : O DE SER ENTERRADA EM VALENÇA ! ELA QUERIA MUITO

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