Uma discussão sobre os homenageados, os valencianos de ontem e de hoje

Por Jorge Amorim

jorge amorim Ao comemorar 164 anos da sua elevação à categoria de cidade, no último domingo, a histórica Valença pode ter tido naquele breve estalo de tempo os preitos a ela dados por sua população, suas personalidades políticas, pelos desfiles cívicos feitos pelos estudantes das escolas locais e pela missa em ação de graças na igreja de Nossa Senhora do Amparo.

Tudo isso, é óbvio, devido o 10 de novembro de 1849, quando através da resolução n° 368 Valença passou a ser intitulada com o complemento denominativo de “Cidade Industrial”, a fim de destacar a sua influente característica industrial na área têxtil iniciada no final da primeira metade do século XIX e mantida nas primeiras décadas do século passado.

Além disso, a terra valenciana marcou aquele século XIX com figuras como João Antônio de Vasconcelos, presidente da província da Paraíba nomeado por carta imperial para o período de 1848 a 1850; capitão Bernardino de Sena Madureira e seus filhos: o comendador Bernardino de Sena Madureira, advogado e dono da fábrica de tecidos nossa Senhora do Amparo, Cassimiro de Sena Madureira – já lemos em algum outro lugar (http://www.cmvalenca.ba.gov.br) “Casemiro” –, também bacharel em direito e deputado provincial pela Bahia, e Izidro de Sena Madureira – ou “Isidro”, conforme vem naquele site – médico e idealizador da Santa Casa de Misericórdia de Valença e condecorado barão de Jiquiriçá pelo imperador dom Pedro II.

Completando este grupo, tivemos Ângelo Muniz da Silva Ferraz, barão de Uruguaiana que também foi ministro da Fazenda e da Guerra no período imperial. Deixar de citar o senador, governador das províncias do Piauí (1845-1847), Sergipe (1848-1849) e Paraná (1853-1855) e primeiro-ministro do império do Brasil (1866-1868) – ufa, quanto cargo! – Zacharias de Góis e Vasconcelos, o qual ostenta nomes de escolas, prédios e ruas na sua terra natal, seria uma afronta.

Agora, pediríamos calma ao caro leitor ou a cara leitora para o fato de que destacar somente essas pessoas pertencentes à aristocracia local dos oitocentos, acabaria por vermos a história pelo viés “de cima”, ou seja, marcar os fatos valencianos através da classe alta. E como ficaria algum dia para os estudiosos analisar os peixeiros que vendem e tratam seus produtos do mar, com ou sem os cuidados devidos à saúde, nos seus barcos atracados aos sábados próximos do terminal hidroviário de Valença? Roberto “Sai cocô” mereceria investigações sociológicas?

A história de Valença, assim como a de outros locais, também teve – e tem – a presença dos operários da Companhia Valença Industrial, dos maricultores que moram na região litorânea, dos lavradores que habitam na extensa zona rural que inclui os povoados de Sarapuí, Paraná, Cajaíba, Bonfim, Graciosa, Jequiricá, Tarimba, Taboado, Várzea, Abiá, Tabuleiro da Várzea, Tabuleiro do Taboado, Capela de Santana, Saruê e Garapa; dos professores que lecionam nas escolas estaduais, municipais e do IFBA, bem como nas faculdades pública (UNEB) e particulares (FACE, FAZAG e FACTIVA), dos comerciários e dos servidores públicos de diversas áreas municipais, estaduais e federais.

Nas veias do valenciano corre o sangue de portugueses, italianos, alemães e espanhóis, mas também de negros que ali foram escravos e ex-escravos, incluindo ainda o vital líquido vermelho herdado dos nativos tupinambás.

Com toda essa miscigenação socioeconômica e cultural foi que Valença constituiu a sua população trigueira, cadinho de adicionamentos culturais à beira do rio Una e de outros cursos de águas menores e médios como Fonte da Prata, dos Reis, Vermelho, Piau, Graciosa ou do Engenho, do limítrofe rio Jiquiriçá e do imenso oceano Atlântico que banha o município pelas bandas de Guaibim e Taquari, estando à sombra das serras do Frio e do Abiá, esta última onde se encontra o ponto mais alto de Valença.

Por falar em singularidade da natureza, dias atrás, precisamente no dia 06 de novembro, quarta-feira, estávamos indo de carona no veículo do amigo Wolf Moitinho e ele dizia-nos que passaríamos defronte a um dos muitos “lugares encantadores”, segundo palavras dele, dentro da cidade de Valença. Depois de cruzarmos uma rua, uma mureta abria o belíssimo cenário do rio Una margeando o bairro do Tento, fundado em 1901 a partir de uma aldeia de pescadores. Instantaneamente, concordamos com a fala poética do Wolf sobre aquele ponto. Este parágrafo foi somente um adendo à cara leitora ou ao caro leitor.

O mais importante, porém, desta terra é a sua população, não obstante os cotidianos percalços. Agora, o que pode conduzir o valenciano de hoje a menosprezar a magna data do seu município seja, talvez, a sua pouca identificação com determinados acontecimentos “mais aristocráticos” e “menos populares”, embora não queiramos aqui levantar a bandeira dos “excluídos da história”.

Se acaso o nome “Valença” provém da popular versão de ali ter sido um lugar de “salvação ou ‘valença’” – para nossos leitores de fora do Brasil, muitas pessoas aqui têm a forma de falar ‘valença’ quando querem dizer ‘salvação’ de alguma coisa ou fato – ou se é originário do 4º marquês de Valença Afonso Miguel de Portugal e Castro, que governou a capitania da Bahia de 1779 a 1783, que estas duas definições sejam as de muitas outras que fomentem a característica principal do ser valenciano: a sua pluralidade.

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