AS CONTRADIÇÕES NA POLÍTICA

O Analista

A contradição é algo intrínseco ao ser humano. Não existe aquele que não tenha feito algum dia algo diferente do que defende ou prega, seja de forma consciente ou inconsciente, é um processo natural que demonstra a limitação humana e as suas fraquezas. Se contradizer não pode se confundir com uma eventual mudança de opinião, quanto a isso não há que se falar em contradição, é a tão cantada “metamorfose ambulante” de Raul Seixas, que ao invés de expor, dignifica a grandeza do homem em assumir a sua transformação. Ter aquela velha opinião formada sobre tudo deve ser realmente muito chato, mas isso é tema para outra conversa.

A política é o campo aberto das contradições ou para alguns de uma simples mudança de opinião. Isso ocorre com uma frequência assustadora na política brasileira. Grandes personagens da nossa História já foram flagrados com tais atitudes.

Em 1924, na abertura do seu segundo mandato como Deputado Federal, Getúlio Vargas na tribuna do parlamento enfatizou em seu discurso:

“O Brasil compreende perfeitamente que já passou a época dos motins de quartéis e das empreitadas caudilhescas, venham de onde vierem.”

Intrigante é que pouco mais de cinco anos foi feito Presidente através de uma Revolução armada, mais burguesa que popular e, sete anos depois, instaurou a Ditadura do Estado Novo, antecipando um período de perseguições e mortes. Perdoe-me os Getulistas que ainda o enxergam como uma espécie de deus, devido as inegáveis conquistas que ele trouxe para o povo brasileiro, mas o sua face autoritária e perversa é perfeitamente documentada.

Outro fato interessante ocorreu com um símbolo da democracia brasileira, Tancredo Neves, que em 1961 aceitou a solução esdrúxula dos militares para se tornar Primeiro Ministro em um Parlamentarismo arranjado para evitar que Jango assumisse a Presidência da República com as totais prerrogativas de chefe de governo, após a renúncia bizarra de Jânio Quadros. Um capítulo infeliz da sua vida política registrado nos anais da História.

Não podemos esquecer-nos de outro fato, ocorrido logo após o Golpe de 1964, quando oito congressistas se reuniram em Brasília para fazer um projeto de Lei em que, entre outras coisas, propunha que expoentes do Governo Jango perdessem os direitos políticos durante 15 anos. Entre os oito notáveis se encontrava Ulysses Guimarães que já havia sido Ministro desse mesmo Governo e na década de oitenta foi baluarte da luta pela democracia e Diretas Já. Sem dúvida uma contradição gigantesca que mancha a sua biografia.

Mas as contradições acontecem aqui na nossa terra também. Em fevereiro a atual Prefeita de Valença foi ao programa de rádio de maior audiência da cidade e afirmou no ar ao radialista Ciro Pimentel que a prefeitura de Valença teria que cortar urgentemente R$ 500 mil da folha de pagamento, pois, herdará as contas do município em situação complicadíssima. Ocorre que do inicio da sua gestão até o mês de setembro o quadro de nomeados e contratados só fez aumentar devido aos seus compromissos de campanha. Para agravar a situação, concomitantemente, veio o reajuste dos salários do primeiro escalão, o que culminou numa situação insuportável que esta levando a necessária exoneração de mais de 300 colaboradores do município.

É visível que a população precisa de serviços públicos e para isso as pessoas são indispensáveis, porém, isso não pode ser feito a revelia da austeridade com as contas públicas. A contradição se percebe não no ato de enxugamento da folha, mas na irresponsabilidade do discurso de quem tinha o conhecimento da necessidade do corte de gastos e, além de não tomar medidas significativas para diminuir o impacto negativo da folha e consequentemente aumentar a capacidade de investimento do município, ainda caminhou no sentido contrário. Do ponto de vista da preparação de Valença para o futuro foram oito meses desperdiçados.

A politica não é só o individuo e as suas reflexões, é ele e suas circunstâncias, sendo essas também responsáveis pelos rumos bons ou ruins de uma carreira. As circunstâncias já tornaram líderes medíocres em grandes homens e grandes homens em líderes medíocres.
E assim caminha a humanidade…

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