A ESCOLHA DE JAIRO

Por Marilene Sobrinho*

Prisioneira no campo de Auschwitz durante a II Guerra, a personagem Sofia foi forçada a optar qual dos filhos seria executado e qual sobreviveria, caso contrário ambos seriam assassinados pelos nazistas. “A escolha de Sofia”, obra aclamada que rendeu o Oscar à Meril Streep, tornou-se exemplo do limite ao qual o ser humano pode ser submetido diante de uma escolha difícil, diria até impossível. Jairo construiu sua trajetória sobre o discurso da moralidade, o que para muitos é apenas retórica oportunista tornou-se sua única bandeira política. Ocorre que ser honesto é como tomar banho, não se vive para tomar banho, mas devemos nos banhar todos os dias para viver, ou seja, a honestidade não é um fim em si e sim uma conduta obrigatória para todo homem público atingir uma finalidade política. Homem sério viveu recentemente um dilema não tão dramático como o de Sofia, mas que certamente lhe consumiu algumas noites de sono; ser fiel ao discurso em que renunciaria o apoio de velhos desafetos políticos? Ou sucumbir e aceitá-los? Jairo fez sua escolha! Inclusive trazendo para posições de comando da sua campanha àqueles que um dia já havia denunciado por práticas que lesaram o erário público.

Jairo não é nenhum ingênuo, vereador por dois mandatos sabe o que representa esses apoios que acaba de receber, sabe quais interesses envolvidos e sabe também quanto custará aos cofres públicos. Ao se sentar com essas pessoas com certeza a pauta não foi o futuro da cidade e sim o dos negócios, ainda que a linguagem venha disfarçada, porém, carregada de intensões reprimidas. Ganhando a eleição uma hora ela se revelará. O discurso purista que lhe rendeu a popularidade necessária para disputar a segunda eleição agora deve ser mitigado diante do paradoxo em que se encontra, a política real e a necessidade de alianças inexplicáveis batem à sua porta impondo-lhe um verdadeiro teste que consiste em satisfazer as necessidades pouco republicanas dos seus novos correligionários ao tempo que se mantém fiel ao próprio discurso. A carreira de Jairo na política começou tarde e agora ele está começando a descobrir que o céu não é perto, manter-se coerente as próprias convicções pode ter como consequência o isolamento, ou então se vive o suficiente para transformar-se naquilo que sempre desprezou? Só pode-se afirmar uma coisa dessa nova experiência, independente do que venha ocorrer, prefeito ou não, Jairo não será mais o mesmo.

*Marilene Sobrinho é leitora desconhecida do blog

Você pode gostar...

1 Resultado

  1. Jose disse:

    Parabéns Marilene! Simplesmenivino seu texto

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *