Transferir recursos do hoje para o amanhã (ou como a castanheira nos ajuda a entender a política)

erahstroDo perfil do Facebook de Erahsto Felício

A única vez que estive no gabinete da Prefeita de Valença eu presenciei uma situação interessante. Os presentes discutiam o futuro de uma Castanheira do Pará que vai ser derrubada para que não acabe caindo e matando moradores dos seus arredores. Entre várias sugestões surgiu uma de fazer várias mudas daquela árvore e plantá-las na cidade. Ao ouvir isto, uma senhora presente disse: para ter este mesmo problema 400 anos depois? A tal assertiva, alguns presentes riram. Malgrada falta de interesse daquela senhora por lindas e gigantes árvores nos abençoando, o riso dos presentes era um sintoma claro da cultura do não planejamento.

Claro, quem se preocupa com quem vai viver aqui no ano de 2416? Nosso horizonte possível é, no máximo, o mundo que nossos filhos viverão. E isto não por cuidado com eles, senão por bastante egoísmo e vaidade, para jogar na cara de nossos filhos que eles viverão bem por conta de nossos esforços. A cultura do não planejamento, nossa incapacidade de transferir recursos do presente para o passado é um dos pilares de nossos problemas políticos mais sérios. Não se pode culpar o aedes aegypti pela zika ou qualquer epidemia que ele traga: a picada do mosquito não é política, ele não vota nem é sujeito de direitos. Contudo a dengue que nos assola a anos é sintoma de falta de saneamento básico. Mas quem liga para uma obra que passa por baixo da terra e ninguém vê, dá tão poucos votos?

Quem já ouviu pela rádio ou foi até a Sessão da Câmara de Vereadores de Valença notou os inúmeros reclames e pedidos de ação do poder público que os vereadores fazem no início daquela reunião. Calçamento para rua fulana de tal, luz na subida da ladeira de não sei onde, melhorar o muro da escola beltrana, jogar cascalho na estrada para roça de num sei quem, etc. A impressão que se tem é que por onde passam os pés (ou os carros) dos vereadores, é a cidade que merece atenção. Mas este não é o problema. No fundo parece que os éditos estão enxugando o gelo da antártica com uma flanela ou tentando apagar as chamas que cobriam a Chapada Diamantina através do sopro de seus pulmões. Onde estão as obras estruturantes? Aquelas que edificam a cidade e permitem uma sobrevida desta no futuro. Onde encontraremos o tratamento do esgoto que vai ao Rio Una, o plano de salários dignos para os educadores municipais, escolas modelos, políticas públicas municipais para cultura, planos de mobilização urbana, outros hospitais, etc? Estamos fazendo política de apagar incêndios e não de planejar para não tê-los.

Acho estranho um lugar querer cada vez mais turistas e jogar esgoto no rio que levará para praia que estes se banham. Não é prudente em tempos de escassez de recursos, ter aumento salarial considerável para vereadores. Eu não creio que precisaremos esperar ter engarrafamento de horas para planejar pontes, anéis viários e ações de mobilidade para ciclistas. Será preciso que um incêndio no Guaibim ou no centro mate vidas humanas planejarmos brigadas municipais de incêndio ou brigada do corpo de bombeiro? Falta recurso? Sim, mas falta muito mais planejamento!

castanheira.jpgA melhor imagem que representa estas situações está num caso tratado banalmente na sociedade local. Nós vimos no final do ano passado e início deste ano, casarões históricos do século XIX e início do XX, patrimônio local, sendo derrubados (e não tombados). Alguns alegavam que os prédios ofereciam riscos, outros nem alegavam nada, derrubavam e pronto. Para que? Para erguer estacionamento de lancha ou prédio comerciais mais feios do que aqueles construídos por homens do século passado. A cultura do não planejamento espera a precarização do bem para justificar uma intervenção agressiva e autoritária. Mas diferente dos casarões (que eram privados), a cidade é um bem coletivo e público. E isto nos dá o direito de escolher a cidade que desejamos viver e presentear as próximas gerações.

A Castanheira do Pará que será derrubada (e não tombada) é a prova (ainda) viva desta história. Porque os gestores municipais do passado não cuidaram da saúde daquela árvore, não lhe deram atenção e nem suporte aos moradores da vizinhança, agora nos dão uma cínica escolha: ou derrubamos ela com segurança ou deixamos ela cair na cabeça dos moradores. No futuro, diante do mais violento caos que podemos imaginar, os gestores do futuro farão a pergunta cínica sobre nosso município: ou destruímos ele com segurança ou o deixamos cair na cabeça dos cidadãos!

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11 Resultados

  1. edu disse:

    TEXTO MUITO INTELIGENTE,parabens ao autor pelo texto,e ao blogueiro que compartilhoo
    Embora a saude da castanheira nao seja o tema principal,gostaria de tecer consideracoes;
    Preocupa-me muito a banalidade pela qual o tema e tratado:trata-se a arvore de um belo patrimonio natural de nossa cidade.Alguns dizem que ela tem 700 anos,outros 400.Uma coisa e certa:ela e a mais antiga valenciana.Quando “nasceu” as pessoas de hoje nao existiam ainda,e mais antiga que qualquer rua,que qualquer casa,etc.Testemunha de um passado distante(como mudou nossa cidade)
    Deveria ser tratada com mais respeito(lembro que ja comentei algo aqui.Repercussao zero.O predio da antiga pernambucanas repercutiu mais que nossa bela arvore)
    Claro que reafirmo o que disse naquela ocasiao:caso promova o risco a vida e patrimonio das pessoas ,infelizmente teria de ser sacrificada(isso ,depois de explorar possibilidades de salva-la)
    Sei que e uma voz solitaria.

  2. edu disse:

    Pensar as geracoes futuras,eis um grande desafio.
    Repensar isso e repensar a propria condicao humana: nao consigo ver o tema como algo inerente a cultura e politica valenciana(apsar de nos afetar diretamente)
    Muito inteligente,repito .Me deu calafrios o ultimo paragrafo.(infelizmente ,sera um texto que ,como muitos outros ,passarao desapercebidos)

  3. carlos Henrique disse:

    Deveria ter um projeto pelo setor privado ou publico, Para indenizar as casas e fazer o Mirante da Castanheira mais um ponto Turistico Para Valença.

  4. eduardo disse:

    boa ideia sobre fazer um mirante da castanheira, mais esperar por esses politicos de valença nada pode acontecer, a exemplo do mirante do amparo está abandonado,
    o mirante do cristo no alto de são Roque está abandonado, aliás pontos turisticos, e culturais em valença é uma piada, a exemplo do teatro municipal, está abandonado, não tem um cinema descente, um teatro descente, a unica coisa que voce ver em valença é bar para tomar cachaça. acorda prefeita.

  5. ze ninguem abestado disse:

    Nao entendi essa do mirante….

  6. eduardo disse:

    voce não entendeu essa do mirante porque voce é abestado

  7. eduardo disse:

    falando em politica, eu não entendo, como os homens fortes de lula, a exemplo de Dirceu,
    Genoino, Delubio, os diretores da petrobrás, e agora o marqueteiro dele, foi pego pelo mensalão e lava jato, e presos por roubar o patrimonio publico, e lula nunca viu, nunca sabe de nada, passa mais tempo no sitio e triplex, dizendo que não é dele, não sabe não viu, durma com um barulho deste, eu tenho certeza que até os simpatizantes de lula não está mais acreditando nele, com tantas, falcatruas. triste Brasil.

  8. Adair Ferrari disse:

    Bom texto! Sábias palavras.

  9. eduardo disse:

    estamos com um epidemia de dengue, zica etc, a fonte que era luminosa na praça da republica, hoje abandonada e nada fazem, deveria ser fechada com cimento, só assim diminuia o risco de proriferação do mosquito. campanha e mais campanha e a prefeitura não ver aquilo na fonte luminosa, é uma vergonha,

  10. ze ninguem abestado disse:

    estudo junto com alguns amigos ,fazer mobilizacoes a respeito dessa arvore.

  11. Vânia disse:

    Não entendo alguém concordar com a idéia da construção do Mirante da Castanheira e ao mesmo tempo sugerir que fechem a fonte luminosa da Praça da República! Criticam a destruição dos patrimônios antigos (particulares), e o que dizer das destruições dos nossos patrimônios como por exemplo o jardim da Praça Barão Homem de Melo( Jardim Velho) e o da Praça da República( Jardim Novo). Mudaram completamente suas identidades, cortando árvores, destruindo coretos,
    fontes, etc. Para resolver o problema da dengue, zica e etc que porventura esta fonte esteja causando seria muito mais simples uma boa manutenção(limpeza) habitual. Sugiro também a plantação de muitas árvores no centro da cidade, como por exemplo o calçadão, a própria Pça da República, a Pça próxima ao Banco do Brasil e outras.

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