Só um idiota para acreditar no ‘escândalo’ da UTC. Por Paulo Nogueira
Por Paulo Nogueira*
Somos todos idiotas.
É, pelo menos, o que a grande mídia pensa.
O ridículo estardalhaço em torno das alardeadas revelações do dono da UTC ultrapassa todos os limites do descaro, da hipocrisia e da desonestidade.
Colunistas – os suspeitos de sempre –parecem fingir que acreditam nos disparates que escrevem.
Mais uma, o coro é pelo impeachment de Dilma. Dia sim, dia não, aparecem supostas novidades que levam os colunistas das empresas de mídia a gritar, histéricos, pelo fim de um governo eleito há pouco tempo com 54 milhões de votos.
O caso particular do UTC é icônico.
Todos os holofotes vão, condenatórios, para Dilma e para o PT, pelo dinheiro dado para a campanha petista.
Foram, segundo cálculos de um site ligado à Transparência Brasil, 7,5 milhões de reais.
Não é doação: é achacamento, propina, roubo.
Ninguém diz que a campanha de Aécio levou ainda mais da UTC: 8,7 milhões.
Neste caso, não é propina, não é achaque, não é roubo. É demonstração de afeto e reconhecimento pelos dentes brancos do candidato Aécio.
E eles querem que a sociedade acredite nesse tipo de embuste.
A mídia presta mais um enorme desserviço ao Brasil com essa manipulação grosseira e farisaica.
Você foge do real problema: o financiamento privado de campanhas, a forma como a plutocracia tomou de assalto a democracia.
É um problema mundial, e não apenas brasileiro. Dezenas de países já trataram de evitar que doações de grandes empresas desvirtuem a voz rouca das ruas e das urnas.
No Brasil, a mídia não trata desse assunto, em conluio com políticos atrasados e guiados pelo dinheiro, porque se beneficia da situação.
Nem o mais rematado crédulo compra a história de que as doações empresariais são desinteressadas.
A conta vem depois do resultado, na forma de obras ou leis que beneficiam os doadores.
Veja os projetos de Eduardo Cunha, para ficar num caso clássico, e depois observe as companhias que o têm patrocinado.
Em alguma publicação, li até uma lição de moral na forma como o PT teria abordado o dono da UTC para pedir dinheiro para a campanha de Dilma.
A abordagem não teria sido “elegante”.
Imagina-se que quando o PSDB solicita dinheiro seja coisa de lorde inglês, pelo que pude entender: ninguém fala em dinheiro, ninguém toca em dinheiro. É como uma reunião social, entre amigos, em que o dinheiro é a última coisa que importa.
Como disse Wellington, quem acredita nisso acredita em tudo.
Outro crime jornalístico que é cometido é dar como verdadeiras quaisquer coisas ditas nas delações, como se elas estivessem acima de suspeita.
Quer dizer, esse tratamento só vale contra o PT. Quando se trata dos amigos da mídia, aí sim entram as ressalvas. Há que investigar, provar etc – coisas que absolutamente não valem para o PT.
Que a imprensa, movida pelo interesse de seus donos, aja assim, até que você pode entender.
O que não dá para aceitar é que a justiça faça a mesma coisa, e com ela a Polícia Federal.
Porque aí você subverte, por completo, o conceito de justiça, e retrocede aos tempos de João V no Brasil.
Sua mulher, a rainha Carlota Joaquina, mandou matar uma rival no amor.
Dom João pediu investigação rigorosa.
Quando chegaram a ele os resultados do trabalho, com Carlota Joaquina comprovadamente culpada da morte, ele refletiu, refletiu – e queimou os documentos que a incriminavam.
Aquela era a justiça, e esta nossa não é muito diferente quando se trata da plutocracia. (DCM)
*Paulo Nogueira, é jornalista, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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