E se o caso do policial que fez tiro ao alvo com foto de Dilma tivesse ocorrido nos EUA? Por Kiko Nogueira
Em 2012, o fuzileiro naval americano Gary Stein criou uma comunidade no Facebook dirigida a meteorologistas e oceanógrafos. Ali ele escreveu um dia: “Obama é o inimigo econômico. Ele é o inimigo religioso… Ele É o inimigo doméstico.”
Cinco minutos mais tarde, apagou seu post, mas alguém havia tirado um screen shot e enviado a seus superiores.
Em 2010, Stein já havia sido advertido sobre a página Armed Forces Tea Party, da qual era um dos moderadores. Uma de suas postagens tinha a legenda “babaca” (“jackass”) sob uma foto de Barack Obama.
De acordo com as normas do Departamento de Defesa dos EUA, os marines têm permissão de expressar opiniões pessoais sobre políticos, mas não em nome das forças armadas.
Um colegiado de três militares recomendou expulsá-lo da corporação por violar as leis marciais. A sugestão foi acatada. Stein, que passou pelo Iraque e foi condecorado, se arrependeu, mas ainda achava que sua atividade online deveria ter sido protegida pela primeira emenda da Constituição dos Estados Unidos, que garante a liberdade de expressão. Acabou se resignando. “Estou desapontado comigo mesmo também”, declarou.
Os marines são tidos pela opinião pública americana como guardiões da democracia, corajosos, bem treinados, super homens que matam vilões como Bin Laden.
Assisto um vídeo do fascista semianalfabeto Marcello Reis, líder dos Revoltados On line. Ele está mastigando palavras a favor dos “nossos policiais federais”, heróis do povo brasileiro na batalha contra o Mal. A PF adquiriu esse status aqui para parte dos brasileiros. Está acima da lei.
Veja a história de Danilo Mascarenhas Balas, agente que, em abril de 2014, publicou uma foto de Dilma Roussef no Facebook e escreveu o seguinte: “Assim fica fácil treinar. Rs”. A imagem estava cravejada de tiros.
Danilo havia colocado a fotografia na página Polícia Federal do Brasil. Um ano depois da denúncia, saiu a punição: quatro dias de suspensão. O “fato gerou exposição negativa” do nome da PF, diz o boletim oficial.
O castigo só ocorreu por causa da repercussão do caso, e ainda assim é uma piada. Fica evidente a má vontade dos chefes. Dá para imaginá-los avisando o subordinado que iam dar-lhe um susto, mas nada sério, que isso. Palmadinhas carinhosas nas costas, umas risadas. “Vamos tomar umas brejas na semana que vem, fera”.
Tudo em nome do republicanismo. (DCM)
Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.
Nos bastidores da política tudo pode mudar no próximo segundo.
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