50 anos do Golpe Militar é discutido em Valença
Refletir sobre os cinquenta anos do golpe militar no Brasil foi o objetivo do Fórum: Pensamento Crítico, realizado pelo Governo da Bahia em diversas cidades. Em Valença, o evento aconteceu no Centro de Cultura Olívia Barradas, na última terça, 25, reunindo estudantes, artistas, professores, representantes de partidos políticos, profissionais da imprensa, entre outros segmentos.
Aberto com a leitura da mensagem do Secretário de Cultura da Bahia, Albino Rubim, foram exibidos, em seguida, os filmes “Manhã Cinzenta” e “Vou contar para meus filhos”. Os filmes, integrantes da programação Terça na Tela (realizada nos Centros de Cultura), resgataram a memória dos horrores provocados pela ditadura. Manhã cinzenta, lançado em 1969 conta a história de um golpe de estado num país imaginário da América Latina. O filme à época, levou seu realizador aos porões da ditadura. “Vou contar para meus filhos”, conta a história de 21 jovens mulheres que estiveram presas entre 1969 e 1979, na Colônia Penal Feminina do Bom Pastor, em Recife (PE). Após 40 anos, o reencontro delas, que hoje moram em diferentes estados do país, traz de volta não apenas os laços de solidariedade que surgiram no presídio, mas também a lembrança de um Brasil que tentou calar vozes e violentar sonhos.
Após o filme, uma ampla mesa de debate foi formada, com presença de historiadores, educadores, presidentes de partidos políticos, vereadores e jornalistas. Entre eles, o professor da UNEB, Márcio Vieira, exibiu documentos guardados do período da ditadura e relembrou fatos do período em que militou no PCBR. “Eu era frade. E não me arrependo de ter lutado pela democracia”. O apoio de correntes progressistas da Igreja Católica também foi lembrado pelo historiador Isaias Menezes. Autor de um trabalho sobre música no período da ditadura, Isaias explicou também como os artistas driblavam a censura em suas composições.
Irene Dóris, atriz e historiadora, também recordou a censura no cinema e nas artes. O poeta Otávio Mota lembrou a presença do censor até mesmo na cidade de Valença. “Tive uma música censurada num festival da Canção”. O debate durou cerca de 2 horas, com participação da plateia, formada em sua maioria por estudantes das Escolas Gentil Paraíso e João Leonardo, terminando com teatro e música.
No palco, Adriano Pereira dramatizou trecho do conto “os mortos”, escrito por Araken Vaz Galvão. Galvão, participou da Guerrilha do Caparaó, foi preso político e exilado, vivendo hoje em Valença como escritor. Isaias Pereira também tocou músicas da época como “Pra não dizer que falei de flores” e “Cálice”. A professora Flordolina Angélica, diretora da Direc 5, esteve também presente, reafirmando a necessidade de uma educação libertadora. “Nossa democracia ainda é recente. Por isso é importante que as novas gerações conheçam os caminhos pelos quais chegamos à ela. Hoje respiramos democracia nas escolas e respeitamos as diferenças. Mas num passado recente isso não era possível. A história precisa ser contada lembrando a luta e resistência do povo” – afirmou ela que também é historiadora.
“Altman: “A presidente falará esta noite?”
Em artigo exclusivo para o 247, o jornalista Breno Altman sugere um discurso hipotético para a presidente Dilma Rousseff na passagem dos 50 anos do golpe militar de 1964, que derrubou João Goulart; o ponto central é a punição dos responsáveis por crimes cometidos naquele período sombrio da história, como já fizeram outros países; “Nossas instituições terão que decidir se é aceitável que crimes dessa natureza continuem impunes, com seus autores protegidos por uma lei imposta pela própria ditadura”, diria Dilma, que também foi vítima do golpe; a presidente falará esta noite?
Quando amanhecer o dia 31 de março, o país estará tomado pela recordação de um fato dramático. Milhões de brasileiros lembrarão – e serão lembrados – dos 50 anos da deposição do presidente João Goulart por uma aliança cívico-militar que imporia a longa ditadura dos generais.
Muitos artigos, reportagens e entrevistas, nos mais diversos veículos de comunicação, resgatam episódios daquele período. Homens e mulheres da resistência contam a epopeia da luta antifascista e o terror da repressão. Até cúmplices e protagonistas do golpe de 1964, como é o caso de boa parte da velha mídia, vertem lágrimas de crocodilo pela usurpação cometida.
Aberrações também têm vez. Militares da reserva, e oxalá que apenas esses, celebram o feito e reincidem na elegia ao crime de lesa-pátria que orgulhosamente exibem em sua biografia. Pequenos grupos de reacionários sem farda igualmente mostram suas garras.
Milhares e milhares de cidadãos, no entanto, estarão à espera que se pronuncie a voz de uma mulher. Uma valente militante contra a ditadura, que enfrentou tortura e prisão. Quis o destino que essa combatente, Dilma Vana Rousseff, viesse a ser presidente da República no cinquentenário do regime militar. Ela poderia, como representante maior do Estado, falar à nação sobre aquela era sombria.
Um discurso breve e contundente, que permitisse ao país fechar cicatrizes do arbítrio, determinar responsabilidades históricas e anular o ultraje institucional que ainda permite, a torturadores e assassinos, esconder seus crimes ou reivindicá-los com galhardia. Talvez algo parecido com as palavras abaixo entrelaçadas:
“Brasileiros e brasileiras
Dirijo-me essa noite à nação, como presidente da República e comandante-em-chefe das Forças Armadas, para falar de um momento trágico de nossa história. Refiro-me ao golpe militar de 1964, que chega hoje a seu cinquentenário.
Oficiais de então, aliados a setores antidemocráticos do parlamento e da sociedade civil, levaram os três ramos de nossas estruturas militares a romper com a Constituição e suas melhores tradições republicanas, impondo um regime de terror e arbítrio que durou 21 anos.
O presidente João Goulart, governante legal e legítimo, foi derrubado porque a política de reformas que implementava, a favor da distribuição de renda e riqueza, em defesa da independência nacional e do nosso desenvolvimento, contrariava interesses poderosos, aos quais se alinharam os generais que assaltaram o poder.
Os protagonistas dessa sedição cometeram crime de Estado. Governaram através do terror, pisotearam a democracia, censuraram a imprensa e reprimiram as organizações populares. São responsáveis por delitos de lesa-humanidade.
Cabe a mim, pelas funções institucionais que exerço, pedir desculpas à nação, em nome das Forças Armadas, por estes fatos que mancham nossa história.
Quero comunicar que ordenei, através do Ministério da Defesa, a leitura de ordem do dia, em todos os quartéis, condenando os crimes da ditadura, proibindo qualquer forma de apologia ao regime militar e assumindo o compromisso que jamais o Exército, a Marinha e a Aeronáutica brasileiras voltarão a pisar em nossa Constituição. Nunca mais as armas da pátria serão usadas contra o povo e a democracia.
Também desejo lembrar todos os que dedicaram sua vida à resistência democrática. Centenas foram assassinados ou estão desaparecidos. Milhares se defrontaram com a prisão e a tortura. Muitos acabaram banidos ou obrigados ao exílio. O Estado brasileiro considera esses homens e mulheres heróis nacionais, a quem muito devemos a reconquista da liberdade.
A Comissão da Verdade, instituída por meu governo, logo chegará a relatório conclusivo sobre este período histórico, depois de longa investigação. Estaremos prontos, então, para novo salto civilizatório, como determinam pactos internacionais dos quais é signatário o Brasil. Nossas instituições terão que decidir se é aceitável que crimes dessa natureza continuem impunes, com seus autores protegidos por uma lei imposta pela própria ditadura.
Boa noite. E obrigada pela atenção.”
Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi”
Texto de Breno Altman, enviado por Ricardo Hage
Antes de começar a compor meu comentário, devo dizer que sou contra a qualquer tipo de ditadura, ponto! A ditadura militar no brasil foi lastimável, mas hoje em dia ela é contada sempre do ponto de vista dos que se sentiam injustiçados por ela, ou o outro lado da “corda”, ou mais precisamente, os que tinha um flerte comunista (ou um casamento incestuoso, rs). Muito se fala do gorno de João (jango) que foi deposto, verdade…mas calma lá, o movimento da sociedade daquela época era de total complexidade, existiam sim os que defendiam a força armada (e os que defendem até hoje!), e tinham planos e engendramentos de transformar o brasil numa cuba, essas pessoas eram treinadas por pessoas cubanas! Bom, para não perder o foco, joão era alheio (ou não) a tudo isso, então, existia uma corrida para ver quem dava o golpe primeiro, foram os militares. Nada justifica o tempo que eles ficaram no poder nem as atitudes tomadas, mas ninguém pode deixar de levar em consideração que a simples tomada do poder pelos militares extinguiu as ideias comunistas, e os comunistas aqui eram guerrilheiros! Faziam atentados contra os populares para justificar a ideologia deles e criar uma bagunça no governo! E vendo tudo isso, todos sabem que para combater a força, os milicos iam usar força. O que eu quero falar com o meu texto, é que hoje em dia, a historia tenta se moldar para defender um lado, e isso é errado. Isso é muito claro quando você olha a comissão da verdade, que vem apurar os crimes da ditadura, mas e os crimes da guerrilha? Não são crimes? Claro que são! E porque não são julgados também? Isso é muito estranho…. A população deve aprender a história como um todo, para então tomar partido, isso de comprar historia moldada para justificar ideologicamente alguns? É nefasto! Porque só falam que a presidenta Dilma Roussef foi vítima da ditadura? Porque não citam os crimes que ela cometeu enquanto em guerrilha, os assaltos? Porque fica feio! Porque não interessa! O bem do Brasil, dos brasileiros não vem em primeiro lugar, o que interessa é o bem dos iguais de ideologia, é a lavagem mental dos brasileiros, a teoria gramsciniana! Porque o PT é contra a ditadura brasileira é a favor da ditadura cubana? Alguém já parou para pensar que lá é uma ditadura? Já perceberam que eles usam farda militar? Pois bem….Se hoje o Brasil não tem uma ditadura comunista, é porque só é possível essa democracia capenga…..
Precisamos parar de ser vítimas sempre, sempre injustiçados, e pensar o que podemos fazer para crescer! Precisamos pensar em economia, em trabalho, em desenvolvimento. Precisamos pensar em tecnologia, investimento, parar de ser tão partidarista, usar a cabeça para ver quem fala algo coerente, bom para todos, e não ficar utilizando doutrina partidária e concordar bovinamente com tudo, poxa, somos seres pensantes, podemos perceber que coisas boas podem vir de pessoas do PMDB, PT, DEM, PSDB, PSB. Precisamos ver a política como uma arena onde as idéias sejam pensadas, debatidas, agora aceitar tudo que mandam porque você é de um grupo, faz com que você se comporte como um analfabeto funcional! O próprio Caetano Veloso, Arnaldo Jabor, Fernando Gabeira entre outros, que são esquerdistas (ou eram), conseguem ver que que a racionalidade é o melhor para todos. Como o grande Millor Fernandes falava, “Quem é muito idealista, normalmente se beneficia de suas ideias” . Vamos pensar para frente, você pensar em construir, criar, gerar, e tentar cortar esse vinculo de ser tutelado pelo estado! Afinal, somos homens ou não somos? Eu não concordo com essa caricatura brasileira da lei de Gerson.
Caro Lucas
Li o seu texto e permita-me fazer algumas considerações sobre ele:
A) Antes de mais nada, eu entendi que você é contra a ditadura, como eu também não sou. E concordo que o evento é muito complexo. Agora, ao crítica o que seria uma visão “simplista” da esquerda (os ‘injustiçados’), você acaba caindo nas teses simplistas (e um tanto quanto anacrônico) do anticomunismo. Primeiramente, achar que Jango era conivente com os comunistas que queriam implantar a ditadura do proletariado e que portanto merecia ser derrubado foi a mentira que os militares levantaram para justificar o crime de lesa-pátria que cometeram. O que João Goulart estava fazendo era REFORMAS SOCIAIS que a maioria dos países desenvolvidos já realizaram. Muitos de seus apoiadores não eram comunistas de carteirinhas, mas social-liberais, social-democratas, trabalhistas, nacionalistas de esquerdas, socialistas cristãos, democratas-radicais e outras correntes progressistas não tributárias do marxismo. E o que estava sendo propostos estava anos-luz de distância de um regime do ipo soviético. Antes, era uma modernização que deveria caminhar para o desenvolvimento nacional soberano aliado ao estado DEMOCRÁTICO PLURALISTA de bem estar social (praticado na época na maioria de países da Europa Ocidental). Repito, foram REFORMAS SOCIAIS MODERNIZADORAS, não uma revolução para se instalar um regime soviético. O que aconteceu é que, naquela época (e de certa forma, ainda hoje), setores sociais brasileiro sentem arrepios em avanços que ampliem a participação popular nas decisões e melhore a vida das classes menos favorecidas. Para tanto, lançam mentiras a torto e a direito. Espalham terror na população e inventam teorias conspiratórias, como o de uma “ameaça vermelha”. Sim, havia uma extrema-esquerda ortodoxa que pregava os diversos tipos de revolução comunistas, admito que existia, mas sequer era ouvida. Só que, não devemos esquecer que da mesma forma como existiu (como exite) uma extrema-direita ultra-conservadora, fundamentalista religiosa e cripto-fascista que nunca tolerou uma democracia realmente ampla no Brasil. A diferença, sr. Lucas, é que nossa extrema-direita tinha mais adeptos e estava mais perto do poder que a extrema-esquerda, e que para lograr seus objetivos, não teve pudores de jogar o Brasil na idade das Trevas.
B) Você acusa TODOS os comunistas de serem guerrilheiros treinados em Cuba. Dois problemas aparecem nessa sua afirmação generalizadora, uma vez que a História mostra ser falsa. A primeira é esta ideia foi uma mentira forjada pela direita como desculpa para se manter a ditadura. Vá ver a histórias é que muitos que estavam na resistência armada não eram comunistas (não se esqueça dos nacionalistas de esquerda do MNR), nem todos comunistas foram para a luta armada e mesmos os comunistas que partiram para guerrilha, alguns sequer seguiam a linha cubana. A contradição de sua “defesa pela visão global” da história na mesma armadilha de se colocar todos os inimigos em um rótulo, bem ao gosto de Goebbels na Alemanha de década de 30. E mesmo havendo guerrilheiros comunistas tivesse sido treinados em Cuba, pior era ver os torturadores a serviço da ditadura terem sido treinados pela CIA, pelo FBI e pela famigerada “Escola das Américas”. Acaso isso também não merece repúdio? Ou aprender a cometer crimes contra os direitos humanos em Washington (com a Gestapo, como no tempo do Estado Novo varguista, outra ditadura de direta existente no Brasil) pode, para aprender a lutar pela liberdade em Havana não pode?
C) Todos os países que viveram períodos ditatoriais e voltaram ao regime democrático tiveram suas comissões da verdade e/ou procurou-se punir os agentes de governo e ou qualquer grupo “oficioso” que cometeram excessos e atrocidades no regime anterior contra os opositores. Isso aconteceu no Chile (com a prisão simbólica de Pinochet, que morreu em desgraça), na Argentina, na Filipinas pós´Ferdinand Marcos, no Portugal da Revolução dos Cravos, no Haiti pós-Dinastia Duvalier. Por que essa resistência no Brasil. Exatamente para averiguar o que realmente ocorreu e não permitir a impunidade aos canalhas que matavam, mutilaram e estupraram em nome “do estado” continuam livres é que existem, como forma de se apaziguar o coração nacional a fim de promover a harmonia na sociedade. Os que criticam essa iniciativa tornam-se cúmplices e mancham suas mãos com o sangue dos torturados e desaparecidos. E quanto a ideia, sr. Lucas, de averiguar os “crimes da guerrilha” (até como de ser hipocritamente imparcial), ela não cabe por uma simples questão técnica: não se pode punir duas vezes uma pessoa por um mesmo crime. Não devemos esquecer que na Ditadura houve órgãos de repressão aos opositores e quem dentre esses foram pegos, já receberam a pena pelo “crimes praticados”. Pagaram com exílio, prisão, tortura, morte e desaparecimento do corpo. E a execução foi feita com extrema severidade, não deixam impune ninguém. Os “crimes” da guerrilha já julgados (embora, de uma forma nada justa) na época da ditadura. Por que deveríamos, então. deixar impunes os torturadores e assassinos de patriotas, que agiram a soldo do Estado? Que eu saiba, a lei tem que ser para todos, e se quisermos ter uma democracia sólida, devemos sim punir essa canalha que maculou a honra de de nossas instituições de segurança, além de cassar todas medalhas e honrarias merecidas.
D) Você falou que nossa democracia é capenga e dá graças que ela exite porque aqui não caiu numa “ditadura comunista”. Pois bem, já parou para pensar que a debilidade de democracia está numa ditadura militar de direita? Sejamos francos e analisemos friamente a História: na década de 60, não havia condições materiais para uma revolução comunista no Brasil. Ainda que estivéssemos com um grande atraso social e mudanças urgissem, o simples exercício da democracia, com um debate franco e honesto de ideias já bastava, até como o grande antídoto para esse medo infundado dos anticomunistas. Não havia necessidade de rupturas da ordem constitucional. E o exercício constante da democracia é necessário para fortalecê-la. Se hoje a nossa democracia se parece capenga, é porque os anticomunistas atentaram contra a própria democracia, são incapazes de um debate e levaram o nosso pais a uma ditadura severa, condenando pelo menos três gerações a desconhecerem o que é ser uma ditadura. Ou, dito de outra forma, a culpa da debilidade de nossa democracia não é porque havia o (falso) medo de se cair numa ditadura comunista. Mas é porque os nossos anticomunistas não admitem o exercício de uma verdadeira democracia com pluralidade de cosmovisões. Tanto é que difundem falácias e sofismas a defesa de uma “não-partidarização” absoluta e impossível na prática. Não adianta em falarmos em crescimento, economia, desenvolvimento, tecnologias ou qualquer outra questão que envolva a sociedade, sem que se tome “partido” (num sentido amplo do termo, por favor, fique bem entendido a minha linha de raciocínio) de uma posicionamento. É a coisa que pedir em viver em sociedade sendo “apolítico”. Vamos pensar a verdadeira Política com P maiúsculo e com respeito às diferenças. Não devemos ter medo de praticar a democracia e reconhecer (mesmo sendo pessoalmente contrário) que TAMBÉM os comunistas tem seu lado.
Finalmente, concordo contigo, Sr. Lucas, de que a política é uma arena onde ideia devem ser discutidas. Temos a obrigação de fazer atualmente um período rico de críticas, debates e reflexões sobre o Golpe de 64. Apenas alerto que “crítica” apenas para ser “contracorrente” não é de todo uma virtude. Infelizmente, a história oficial é a história dos vencedores. E a de 64, durante muito tempo (até dentro dentro do período da democratização) ainda é a história dos militares corruptos e assassinos que deram um golpe com base na mentira de uma pseudo “ameaça vermelha” – e isso pode se ver quando ainda existem homenagens aos ditadores, com escolas, logradores e estabelecimentos do poder público. Com a redemocratização, estamos ainda fazendo um trabalho de revisão, recuperar dignamente todos os personagens e esclarecer todos os equívocos tomados, para não ficarmos repetidos velhas mentiras e falácias (como o do perigo de uma ditadura comunista).
Saudações
XPTO, bom dia,
podemos ter debates homéricos quanto a composição da sociedade na época anterior a ditadura, você defendendo o que acha e eu defendendo o que considero como minha linha de entendimento. Antes de continuar, devo dizer que o tempo gera uma imparcialidade necessária para o julgamento histórico do que realmente aconteceu em algum período histórico. Hoje em dia, muitos historiadores (e eu digo pesquisadores, historiadores que trabalham com documentos, fatos, e não articuladores…) são menos envolvidos psicologicamente com o ocorrido, e podem julgar com maior imparcialidade, e com isso, com maior coerência, e que para composição de entendimento não podemos ler apenas as veias abertas da America latina e assistindo diários de motocicleta. Uma história contada com algumas omissões ou exacerbações direcionam o texto de maneira incoerente, normalmente isso não é bom. Você fala que João queria um modelo social com com caráter marxista, porém não análise que marx era eurocêntrico, e não pluralista. Quando falamos do período de João, pelo visto temos interpretações diferentes, e pelo que estudei do período do governo do João, eu vi uma flacidez direcionada, e falando isso não digo que concordo com o golpe, mas tento interpretar suas causas! A marcha da família (essa que existiu uma tentativa de mimismo rancoroso torpe a alguns dias) representava nas ruas o que uma parcela grande dos populares pensava…esse é o grande ponto que eu quero chegar e mostrar minha discordância com você! A ameaça comunista existia sim, você sabe que existia! E ela não era inoperante, você sabe que não era! E tentar ofuscar intolerância ideológica para as pessoas é errado, como a de que na biografia de Marighella, é citado que o pai ideológico dele era Stalin (é verdade que no fim da vida ele reconhece um desagrado), de que ele escreveu um manual de guerrilheiro, de que a população política “comuno-idealista” era inoperante, é errado! Se a grande maioria da população fosse desse ponto de vista, pensasse assim era uma coisa, agora a grande maioria de população se identifica com ideias conservadoras, ai vem meia duzia de idealista querer maquiar os fatos, para vender pontos de vistas de como eles veem a sociedade, isso é errado! Num pasto com 10000 bois e 4 grilos, os grilos fazem mais barulho que os bois, mas o pasto tem mais bois do que grilos. Então calma lá….
Seguindo….guerrilheiros podiam não ser todos treinados em cuba, isso não importa muito, bastava que um fosse, voltava, treinavam mais, vinha gente de cuba, que eram treinados pela URSS. Isso pouco importa, quando quis falar isso, só quis falar que era uma prática comum. Assim como você fala do treinamento dos milicos pela CIA (e pelo que li e entendi, foi verdade também), mas eu quero falar que eram elas por elas, existiam os dois lados, e eu defendo a historia contada por completo!
Aqui temos algo para conversar, quando você cita o repúdio aos estupradores, pessoas que matavam, faziam atitudes quase primitivas como essas, eu fico com os meus botões, de como agrupamentos de pessoas, como levantes populares e etc. ficam defendendo regimes como o o cubano ou grande companheiro MAO da China, o famoso CHE tem a famosa fala que fuzilava e continuaria fuzilando, a biografia de MAO cita muitos estupros….então eu quero falar que sou contra tudo isso, eu sou contra o governo de são paulo quando manda fazer uma chacina para controlar presos ou pobres, e sou contra guerrilheiros que defendem a luta armada, eu sou contra hipocrisia, que é a favor de democracia plena e anda com camisa de CHE Guevara.
Quanto a comissão da verdade eu tenho 2 coisas para falar…. a primeira é a questão técnica que você está falando…houve a lei da anistia, e isso foi uma coisa que foi decidido assim, segundo o estado de direito, não podem haver leis retroativas. Na comissão da verdade analisam os que sofreram com a ditadura, mas por exemplo, uma bomba que a guerrilha tenha posto, atingiu um popular que perdeu uma perna, por exemplo, esse popular é uma vítima da ditadura ora bolas, o pau que da em chico também da em francisco!
Quanto ao não partidarismo, eu não defendi isso, eu falei que devemos parar de analisar bovinamente considerações partidárias, como, é o que o partido quer e eu assino em baixo….isso é um militarismo não? Eu falei que a contribuição pode vir de todos os partidos, afinal, somos seres pensantes e podemos concordar ou não com muitas coisas. Quis defender que posso votar:
Presidente: PSDB
Governador:PT
Deputado:PSDB
E não existe nenhuma inoperância nisso, se estivermos numa democracia liberal. O socialismo tem que existir, meu modo de pensar tem que existir, você tem que argumentar comigo, isso é muito bom. O problema do comunismo, é que ele como teoria, só funciona sozinho. A rotação de cadeiras é de extrema importância para a democracia!
Por fim, gostaria de me desculpar pois estou sem tempo para a composição do texto, o dia só tem 24 horas. Mas li todo seu texto XPTO, interessante, não concordamos com muita coisa, mas acho que é claro que queremos algo melhor, e isso é o mais importante.