TESESETCETERAETAL

Por Alcides Bulhões

NOSSA SENHORA DO AMPARO CONCRETIZA A FÉ, O POVO A SUA FORÇA, A PREFEITA SEU POTENCIAL DE POLÍTICA E O PADRE O PERFIL DE BOM ORADOR

Durante os últimos meses, neste mesmo espaço, discutimos juridicamente e politicamente o desenvolvimento dos festejos populares e religiosos de Nossa Senhora do Amparo – Padroeira dos Operários e de Valença. Pontuamos que, sob o ponto de vista legal, a portaria expedida pelo executivo municipal apresentava-se de maneira contrária a legislação constitucional e municipal.

Na época, ultrapassando-se às questões de ordem jurídica, observamos que, de fato, como não poderia ser diverso, a festa do amparo tem grande importância no cenário municipal e no gosto popular, vez que foram várias as sugestões e manifestações acerca de nosso artigo.

Logicamente, alguns, sem o interesse no debate democrático e sadio, ultrapassaram as barreiras da razoabilidade e passaram a atacar nosso entendimento como se de cunho eminente político fosse.

Em tempo, novamente, volto a salientar que nunca fora de nosso interesse menosprezar ou criticar com essa ou aquela atitude/ pessoa; mas, sempre, contribuir na construção de uma festa verdadeiramente popular, com todas as suas cores, aromas e sabores e, logicamente, com segurança e comodidade.

Enfim, após a passagem do período festivo, observamos, analisamos e acreditamos que a luta dos últimos meses, longe de ser inócua trousse bons resultados.

Quanto à portaria, tudo o quanto expresso nos artigos anteriores e corroborados por alguns outros bons debatedores, veio a se concretizar.

Decerto que a mesma não tinha como sustentar-se. Pela falta de guarida jurídica e potencial popular.

A iniciativa do ato normativo se deu por vias avessas, notadamente pela orientação de um discurso bonito e convincente dos representantes da Igreja que, por questões de ordem pessoal (não social), queriam ter uma festa essencialmente religiosa e sem interferência de quaisquer outros que pudessem “lucrar” com a participação popular.

Quanto às barracas de bebida, não sejamos hipócritas em afirmar que a inexistência das mesmas se daria por força da portaria. Até por que, há muito que não se tem barracas de bebidas alcoólicas nos terrenos que dão acesso ao adro do amparo ( quem acompanha a festa sabe que a inexistência das mesmas se deu desde a gestão de retrasada).

O que se queria mesmo era impedir o pobre trabalhador de fazer da festa uma oportunidade de ganhar o pão de cada dia e dignificar os seus e suas famílias. E, como concretizou-se durante a festa, impedir que um proprietário de um dos terrenos do percurso ficasse impedido de gozar de seus direitos de propriedade constitucionalmente garantidos ao alugar espaços para as barracas que ali se alocariam.

Frente ao quanto afirmado, sabiamente e aberta aos anseios populares, acertou a gestora municipal em voltar atrás do impedimento de colocação de barracas (exceto barracas de bebida), mesmo sem ter revogado a portaria (o que achamos temerário e discutível).

Mesmo assim, parabenizo-a pela postura de demonstrar a todos, em tempo, de que havia agido com equívoco e que “em tese” seria possível o pequeno trabalhador vender sua maçã do amor, seu algodão doce, brinquedos e suas especiarias.

A festa do Amparo iniciou, as primeiras novenas encontravam-se apagadas e tristes, mesmo com os belos portais e bandeirolas que no percurso foram implantados pelo Município (mesmo tendo sido pouco a pouco derrubado pelo constante movimento de carros – que deveriam ser impedidos).

O que tínhamos medo aconteceu, o fato de a prefeita ter mencionado a possibilidade de colocação de barracas (exceto de bebidas) não se concretizou completamente, vez que, em razão na não revogação da portaria, não se sabia a qual senhor (lei) seguir (nem mesmo os prepostos da prefeitura municipal).

Decerto que, na queda de braço, o único espaço pelo qual seria possível alocar as benditas barracas com especiarias seria um do lado direito da ladeira (justamente da pessoa que os representantes religiosos não queriam); e, portanto fora impedido de serem implantados quaisquer barracas no local (mas essa informação nunca fora dita nos discursos).

O preleção apresentado nas homilias eram fervorosas em afirmar, apenas, que a retirada das barracas era uma demonstração de força da igreja e trazia melhorias aos fieis quando da subida ao adro, vez que não existiam barracas para impedir o caminho. Nas redes sociais, observamos alguns infelizes comentários que sugeriam que “agora, de fato, a festa do amparo encontrava-se boa, elitizada e com gente bonita”.

Na ocasião, perguntei-me: Os carros que estavam sendo estacionados e amontoados ao longo do percurso não impediam a passagem dos pedestres? A festa do amparo é apenas para ricos?

Com a greve dos guardas municipais, entre a terceira e quinta novena, a rua do amparo mais parecia um estacionamento privado do que um local festivo.

Enfim, pouco a pouco, o povo foi observando de que, de fato, a já citada portaria encontrava-se sem força. As barracas que, dantes eram proibidas, foram se amontoando nos passeios das casas (exceto no terreno que já citamos) até que nos últimos dias já não se sabia o que era passeio, o que era barraca, o que era porta de casa.

Chamamos atenção que bebidas e festas eram facilmente encontradas, sem que houvesse qualquer indício de violência. (fatores que demonstram que a violência não advém pura e simplesmente dos atos festivos, mas de um policiamento ostensivo e efetivo que se deu em todos os dias de novena e festa).

De fato a festa tornou-se verdadeiramente animada, popular, colorida e cheirosa. Pena que desorganizada em alguns aspectos (por conta de uma restrição boba e particular). Frisamos que existia local apropriado e que em nada prejudicaria o desenvolver festivo, mas que, por questões outras (de ordem pessoal), não foi utilizado o espaço como forma de não “favorecer” ao seu proprietário.

O que chamamos atenção, também, aqui é: com toda celeuma decorrente da incerteza de como funcionaria a implantação da portaria, os ambulantes passaram a utilizar-se dos espaços de maneira desordenada e, ainda por cima, sem que o município recebesse qualquer contraprestação financeira (o que é necessário para todo e qualquer município). O povo mostrou que a necessidade de trabalhar é maior do que qualquer formalização.

Por outro lado, o que vimos pelo lado da fé e da religiosidade, que as ultimas novenas e o dia da festa, mesmo diante de tudo o quanto acontecera, a Rainha Imaculada (Nossa Senhora do Amparo) trousse a seu povo fiel e seguidores ou não momentos de muita alegria e bênçãos.

De fato, sem se falar nos momentos de politicagem e de propaganda dos produtos das barracas da igreja (que por sinal venderam muito mais pela inexistência de concorrência), não restam dúvidas que foi uma festa religiosa bela.

Por fim, para coroar, no dia 08 de novembro, um sol agasalhador e belo, (como não se viu nos últimos 3 (três) anos em razão da chuva), fez com que a procissão nos desse uma certeza mediante a fé inabalável em NSA: a de que “não olheis os nossos pecados, mas a fé que anima a vossa Igreja”.

Por esta razão, suplicamos à gestora municipal, que continue a observar os anseios populares e que, observando-se os equívocos da festa deste ano, inicie a organizar a festa do amparo da forma que ela merece, com respeito e carinho aos religiosos e populares e sem restrições a quaisquer direitos individuais ou coletivos.

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6 Resultados

  1. Railton Ramos disse:

    Que visão cristalina. Sem petulância (rs rs). Parabéns!

  2. Valenciano disse:

    Parabéns pelo artigo! Pena que só faltou AOS DONOS E DONAS DO ESPETÁCULO a exibição pública das imagens sacras, dos lustres e dos azulejos portugueses da Igreja do Amparo.Sem contar contratar um guarda de trânsito ou seguranças particulares para tomarem conta dos vários automóveis da elite que ocuparam as duas vias laterais da ladeira. Já o portal sem graça nenhuma deveria ir o mais rápido possível para o lixo. Quanta falta de criatividade! Podendo pegar as estátuas de Adão e Eva que estão perdidas no trevo do Guaibim, fizeram aquele portal de trem fantasma. “Quem vier, de onde vier, venha em paz e $em dinheiro!”

  3. observando tudo disse:

    Esse rapaz pega na língua, quando escreve: trousse em vez de trouxe. E quanto elogio para um pedaço de madeira esculpida, parece até que está viva.

  4. XPTO disse:

    Rapaz, a verdade é que o povo tem fome e não seria a soberba segregacionista do padre-secretárionque irá impedir. O que lamento é que a falácias pronunciadas no altar, tal qual o canto da sereia, venha atrair incautos que irão naufragar a festa mais tradicional da cidade…

  5. Alcides disse:

    Rs. Amigo observa tudo. Obrigado pela atenção, pego na lingua sim; mas o equivoco foi por falta de atenção. Prestaremos mais atenção.

  6. Dores disse:

    Alcides que artigo lindo, as partes interessadas precisam ler isso. Vou retirar um parágrafo de minha crônica e citar vc.
    Essa sua manifestação é muito importante e me encoraja a continuar enfrentando o padre, o poder público ou seja quem for a favor da cultura.

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