A Elite e a cultura local

Irene Dóres

Anunciaram e garantiram que a festa do Amparo ia ser mudada, por causa disso muita gente na cidade começou a gritar, até disseram que só iam à Igreja pessoas maduras, porque a dos costumes destrói a cultura. Eu não quis crer nessa conversa dura, fui procurar aqueles que determinam o que é melhor para o povo eleitor, e percebi que uma minoria de maneira totalitária, está conseguindo modificar costumes de décadas em determinado na festa local, sem consultar aqueles que proporcionaram suas permanências em determinados postos derivados da política. Não entendeu nada né? Explico agora.

Pra começar devo dizer que num regime totalitarista, as classes média e alta, determinam, a partir dos seus valores, o que é melhor para uma população sem se preocupar se essas decisões farão bem ou mal aquela sociedade atingida. Então, o que acontece em Valença é exatamente isso, um grupo de “burgueses” junto a aquele grupo chamado de sociedade organizada, tomaram a decisão de modificar muito a festa do Amparo. Essa decisão de cima para baixo, além de mexer com os fazeres culturais vai prejudicar muito aquelas pessoas que aproveitam a época da festa para garantir um ganho maior vendendo bugigangas no circuito, aquelas coisas que crianças adora, como bolas, maçã do amor, cachorro quente e outros. Não encontrarão também, se a mudança for mesmo efetivada, o acarajé, a pipoca, o algodão doce, os doces de forma genérica. Enfim a diversão de crianças e adultos está ameaçada. É claro que os comerciantes local também triplicam o faturamento nessa época e os moradores da área se sentem incomodados com todo esse agito cultural.

Antes de mais nada, devo dizer que existem medidas tomadas que são necessárias, tais como, venda de bebidas em garrafas, a lei não admite, proibição de subida de automóveis, até porque a rua não comporta. Os churrasquinhos no espeto, acabei de descobrir que existe uma lei estadual que proíbe sua venda em festa de largo por ser um objeto pontiagudo que pode se transformar em arma, tudo bem. Mas estão modificando tudo na festa, as barracas que ficam no circuito foram retiradas, e para compensar, surgiu uma nova modalidade de negócios no alto do Amparo, um shopping amparo, temporário e a céu aberto, é isso mesmo, vão ser criadas praças de alimentação. Agora eu interrogo, quem serão os privilegiados que participarão desse circuito chique? Posso até arriscar em dizer que em primeiro estarão os membros da Igreja e depois se sobrar alguma vaga, quem sabe, quem for mais amigo de quem distribui a vaga consiga um lugarzinho para trabalhar.

Amigos e não amigos, a festa do Amparo foi criada pelas mulheres da Vila Operária há mais de quarenta anos atrás e com aparato cultural que existe atualmente, como a montagem de barracas para vender doces e alimentos, e é claro que com o passar do tempo outras atividades vão surgindo. Na década de 1980 havia boate no circuito, eu mesma dancei muito lá. Quem não lembra da antiga sede do mach five? Hoje reside no local a filha de Italmar Meirelles; e as festas no espaço Mirante, quem não chegou lá? Depois vieram os barracões com sambões e pagodões, confesso que acho essa modalidade de música muita chata, mas tem quem goste. Essas pequenas mudanças podem ser chamadas de ressignificação, porque não acabou, apenas mudou a forma de se continuar o que já existia de maneira diferente. Agora o pequeno grupo que exige mudanças radicais chama a proibição de fazer quase tudo de “ressignificação”. Acho que estou desaprendendo o significado das coisas, ou estão subestimando minha inteligência.

A festa do Amparo é um festejo popular, do qual a Igreja se apropriou e a comunidade aceitou, transformando a cidade num mar de pessoas no dia 08 de novembro todos os anos. Todavia, outras intromissões abruptas na organização fica complicado. Na boa, você já viu pessoas católicas participarem de reuniões para decidir como fazer um evento evangélico? Então devo te informar que a resolução sobre a nova ordem da festa do Amparo foi tomada por uma grande parte de pessoas evangélicas, tá bom pra você? E agora para quem se acende a vela? Jesus disse “a César o que é de César”. Os evangélicos não querem saber dos católicos por perto para nada, e os católicos chamam os evangélicos para decidirem suas festas. Ideia muita complexa para minha inteligência.

Ah, a festa do Amparo tem como preocupação oferece Jesus para a comunidade que já faz parte da Igreja, mas e os visitantes que deveriam ser conquistados, eu hein? O objetivo da festa é oferecer Jesus realmente, mas parece que a Igreja não está ouvindo o que o Papa Francisco está pregando; qual seja, a conquista dos fiéis. E o grupo totalitário tem mais valor que o pensamento do Papa. E nesse caso, determina quem pode subir e o que se pode fazer durante a festa. Quanto aos camelôs, serão jogados em algum lugar distante, onde ninguém compareça com medo de ser assaltado. A função da festa é evangelizar em primeiro lugar mas também é um mecanismo de sustentação do trabalhador pobre que precisa dessa renda para ajudar em sua economia. Com essas mudanças essa população não conseguirá a renda a mais tão desejada, e o pequeno grupo que toma as decisões a partir de sua forma de pensar sem se preocupar com as minorias ficará feliz por conseguir desconstruir a cultura local. E não me digam que a festa da cidade que dura apenas um dia (10 de novembro), vai suprir a perda econômica que essas pessoas terão.

dodo fest

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10 Resultados

  1. Alcides Bulhões disse:

    Parabéns a Irene pelas belas palavras.

  2. Ricardo Vidal disse:

    Muito bem, Irene! Concordo contigo…

  3. ... disse:

    É isso mesmo. A Prefeita de Valença, por um momento de fraqueza, pode ficar estigmatizada como a Prefeita que tirou da sua cidade a sua principal festa e entregou a um grupinho de fanáticos e intolerantes!!! E as imagens e os azulejos portugueses???

  4. Proselitismo puro disse:

    Povo de Valença, subamos este ano a colina sagrada e perguntemos ao pároco emérito da cidade – o atual secretário de educação. Onde ele colocou os azulejos? As imagens de Santa Efigênia, Nossa Senhora da Conceição, São Gonçalo e os crucifixos? Não nos esquecendo também dos lustres que ficavam na nave da igreja. PADRE JOSIVAL, POR FAVOR DIGA ONDE ESTÃO ESSES OBJETOS! Não adianta dizer que estão na casa paroquial. Se estão lá COLOQUE PARA O PÚBLICO TODO VER! O IPAC autorizou fazer alguma reforma nestas esculturas e retirar esses objetos do lugar próprio? Cadê o conselho de cultura? Cadê o Ministério público? Porque os vereadores estão em silêncio?

  5. Ricardo Vidal disse:

    Realmente, essa é uma pergunta que não quer calar…
    Lamento que o guardião da fé católica em Valença (e ocupando um cargo público) esteja agindo CONTRA a nossa cultura e nossas tradições.

  6. Julio Hidar disse:

    Acho que a festa deve ser reoganizada, não vejo o pq de permanecer esse modelo franqueado pela bagunça e violência. O poder público estar certo.
    As intervenções são necessárias e urgentes, mas entendo a grita dos barraqueiros, e da oposição, mas digo que é meramente oportunista.
    Outra coisa, como morador da Bolivia, o conceito de totalitarismo da autora me causa espécie.Rs

    J.H

  7. Miau disse:

    Os gatos comeram muitas coisas por aqui em Valença… (A comunidade do entroncamento de Valença com seu prédio/salão é que bem sabe!!!) Só que dessa vez não conseguiram comer a festa popular do amparo. Miau!

  8. Henrique disse:

    A festa do Amparo para acontecer não precisa da aprovação de ABC. Ele acontece simplesmente…

  9. Solidariedade a Irene! disse:

    Evidente que Irene está correta! Só que uma andorinha só não faz verão! Só tem ela de valenciana na cidade é? Chegam alguns mercenários, tiram daqui botam ali, tiram dali e botam aqui e todo mundo diz amém! O que é isso? Já está na hora de acabar! Quando pensar que não a festa do amparo será na aabb ou no sesi. E o povo fica aonde? ORGANIZAR é uma coisa, DESCARACTERIZAR é outra e ACABAR é o sonho daqueles que não são e não gostam de Valença. Deram fim ao micareta, deram fim ao mirarejão, deram fim aos ternos de reis, deram fim as procissões de Corpus Christi e da sexta-feira santa, agora já querem destruir a “coitada” festa do 8 de novembro. Só uma garapa de adoçante!

  10. XPTO disse:

    Olha, não queria comentar, para não ser chato e já tendo várias pessoas de gabarito comentando (como Alcides e Irene. Vidal poderia ser mais incisvo nas análises dele). Mas, diante das respostas raivosas, eu me pergunto: Por que é que querem bulir tanto na festa do Amparo? Por que querem esvaziá-la, com a expulsão das barraquinhas? Primeiro veio da denuncia dos sumiço de imagens. Agora, essa portaria ‘proibindo’ as barraquinhas (quero ver se só haverá a barraca “oficiosa” da Igreja monopolizando a venda…). Isso está ficando cada vez mais suspeito. É melhor ficar de olho,pois há lobo em pele de pastor nessa história…

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