Tirar as barraquinhas, melhor SEGREGÁ-LAS para longe da festa

Por Ricardo Vidal

Alcides, como um bom jurista, foi feliz em trazer um importante assunto a baila: Qual festa de Nossa Senhora do Amparo queremos? Teremos uma festa pasteurizada e desfigurada ou teremos todo o resplendor de nossa festa tradicional? Realmente, este é um tema que não pode ser discutido levianamente e com proselitismos (como vi em alguns comentários). Aliás, considerando a importância que a Festa do Amparo possui (culturalmente, economicamente, socialmente), espera-se uma postura racional da prefeitura.

E eis que Alcides mostra que a rainha está nua! Pior, age CONTRA o nosso maior tesouro, que é a nossa cultura e o próprio povo – inclusive, muitos de seus eleitores! Esta portaria (seria digna de risos se não fosse o resultado trágico) simplesmente “pasteuriza” nossa festa, “limpando” a ladeira. E os defensores desta medida estúpida partem de sofismas de tal forma fraco que afrontam a inteligência alheia.

Alcides aponta ILEGALIDADE na portaria. Para mim, a portaria é um atestado público de incompetência e insensibilidade no trato das questões culturais valencianas. Mostra os equívocos e até despreparo quanto a preservação de nossos valores. Os gestores municipais e os párocos deveriam ter se espelhados em bons exemplos como a condução da festa de N. Sr. do Bonfim, em Salvador; ou na de Sant’Iago Mayor, em Compostella-Espanha (que souberam tirar partido do comércio adjacente às celebrações religiosas) em vez de baixar esta medida ridícula.

Vamos as fatos: a Festa de Nossa Senhora do Amparo que eu conheci quando criança e que sempre está na minha memória afetiva era a festa religiosa que tinha uma ladeira colorida, cheia de guloseimas e que, no final, era o ponto de encontro de amigos. É a festa do Amparo onde, depois de alimentar o espírito com belos sermões (como os de Padre Edgar), poderia saborear uma maçã do amor, uma batata-frita, um cachorro-quente. Era o lugar que o acesso NUNCA foi impedido pelo seus ambulantes. É o lugar em que se via algumas pessoas trabalharem honestamente para garantir o leite das crianças no mês de Novembro. (Aqui em abro um parêntese necessário: a presença de ambulantes uma festa religiosa é algo normal e que os bons gestores souberam a aproveitar como fonte de renda para o município – atitude que não vejo com a portaria…). Essa paisagem cultural resultante da festa religiosa que dá um charme todo especial, que faz os valencianos terem orgulho dessa terra e até já atraiu turistas para a cidade.

Tirar as barraquinhas, melhor SEGREGÁ-LAS para longe da festa, com sofismas e argumentos ridículos como obstrução da passagem dos fieis ou de que são focos de insegurança, é o verdadeiro CRIME que deve ser combatido! Tirar as barraquinhas da festa do Amparo é tirar a possibilidade de pais e mães de família de obterem honestamente a renda e aí sim fomentar a prostituição e o tráfico de drogas na nossa cidade. Tirar as barraquinhas da festa do Amparo é CORROMPER nossas tradições, SEQUESTRAR nosso patrimônio cultural (e pertencente ao povo de Valença) para atender os CAPRICHOS MESQUINHOS e EGOCÊNTRICOS de uma minoria que desconhece a nossa grandeza cultural e que o povo deveria protestar com veemência. Tirar as barraquinhas da festa do Amparo como uma medida hipocritamente moralizadora é CAMUFLAR a INCOMPETÊNCIA dos gestores, que não são capazes (ou por medo) de enfrentar os verdadeiros problemas da festa. Se o problema é caos formado na ladeira, que a prefeitura DISCIPLINE e ORGANIZE as barracas, faça a inspeção sanitária e seja um pouco mais rigorosa na hora de obter o alvará. Se o problema está na segurança (como tráfico de drogas em meio a um belíssimo evento religioso), que o poder público investi-se em ações preventivas e policiamento ostensivo (enquanto os párocos, como agentes da Sancta Madre Igreja Católica, auxiliassem com medidas de conscientização e prevenção).

Agora, suponhamos que a SEGREGAÇÃO e a PASTEURIZAÇÃO da festa do Amparo prevaleça: Sem o colorido e a alegria das barraquinhas que a caracterizam, sem seus símbolos de valencianidade que dão um tempero singular ao louvor da Mãe do Amparo, a festa perderá seu brilho. Pior, deixará de ser um grande momento de devoção e fé dos católicos valencianos para ser a celebração tridentina e exclusiva de poucas pessoas (quem? Os que querem a Igreja Católica alienada do povo e da realidade?). Os problemas relacionados à Segurança NÃO SERÃO RESOLVIDOS. Antes, jogados para debaixo do tapete, se tornará cada vez mais invisível e (por isso mesmo) pior de se resolver. Descaracterizada para atender os caprichos particulares (de quem? é bom observar QUEM fomentou essa sandice desde a festa de Amparo em 2013…), a população de Valença não teria porque preservar esse patrimônio imaterial da nossa cultura, a festa entra em franca decadência, perigando até ser extinta (como outras festa, a exemplo do Micareta e do São João, que deixou de existir na nossa cidade). Pode parecer exageros, mas nossa história possui exemplos de sobras que justifique minhas suposições.

Sei que meu ceticismo é grande, mas, torço quanto que o otimismo de Alcides supere meu ceticismo e que a razão prevaleça e impeça que essa barbaridade se consume. Contudo, essa portaria vigorar, preferirei louvar e rezar com Nossa Senhora do Amparo no recesso de minha casa (e com o silêncio do rádio) a ter que compactuar com esse crime e essa sandice!!!!

Você pode gostar...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *