CHARLATANISMO E ILUSÃO

Por Irene Dóres

Sabe aquele dia em que você vê algo que não é do seu interesse, mas que até acha legal, e nesse mesmo dia você vê algo (in)crível, mas que dezenas de pessoas tomam como verdade absoluta? Pois é, estava eu na Praça a observar os acontecimentos que, por sinal, estavam muito bons, quando – de repente – ele chegou com a sua comitiva, o príncipe da fé aterrissou na minha cidade para fazer seu espetáculo de credulidade. E a praça que já se encontrava repleta, inchou ainda mais pela população carente e sedenta de um milagre vivo, daqueles que Jesus fazia de maneira muito discreta. Naquele momento estavam ali pessoas de todas as classes cores e formas, Ciganos, classe média, pessoas rotas, bem arrumadas, desnutridas e bem alimentadas, idosos e portadores de necessidades especiais como cadeirantes, usuários de aparelhos para sustentar a coluna e deficientes visuais.

O show começou e a população da Praça não parava de crescer, veio gente das mais remotas periferias e com todos os tipos de dificuldades para ver o príncipe da fé e suas calorosas manifestações de amor. Sua comitiva apresentava um show musical de boa qualidade e vozes bastante afinadas. E eu? Que tédio, muita louvação para comercializar a fé, enquanto eu, estava ali, me descabelando como pessoa, mas firme, fazendo meu trabalho profissional. Olhando para aquelas caras ingênuas? Simplórias? Crédulas? Ou mentes trabalhadas na limpeza intelectual com detergente de qualidade superior?

O tempo foi passando, a praça foi ficando sem espaço e o príncipe começa o seu show por um versículo qualquer da Bíblia, seguiu convocando o povo a orar e logo depois os induziu a fazer uma oração petitória com imposição da mão direita sobre a coroa da cabeça dizendo algo como “Deus retira de mim todo mal”. Após essa operação, eis que surge em cima do palco do príncipe da fé, o show da demonstração dos milagres, pessoas suspostamente curadas de males que sofriam há tempos expondo suas curas milagrosas ao povo. Assim, um homem manco largou as muletas e continuou a andar mancando; uma jovem que se declarava com problemas nos joelhos que a impossibilitava de andar, naquele momento e por ordem do Bispo, saltitava como uma gazela e corria como a Maurren Maggi antes de pular os obstáculos nas competições.

Continuando a série de milagres, surgiu uma terceira pessoa que se queixava de dores na coluna que a impedia de se agachar. E, de repente, estava ela fazendo agachamento de ginástica como se estivesse numa academia exercitando os glúteos. Após provar que é capaz de curar e tornar as pessoas enfermas completamente saudáveis, o bispo passou a segunda parte do show, o pedido de dinheiro. Então solicitou solenemente dos espectadores e iludidos ali presentes uma pequena contribuição de R$100,00 para ser sócio de sua rede de televisão, claro que essa contribuição deverá ser mensal, e os desavisados que aderirem à sociedade devem lembrar sempre desse compromisso. Ele também determinou quais os canais de televisão os fiéis deveriam assistir, e o primeiro programa a ser vetado foram as novelas, depois, os telejornais. Só sendo liberado para os assinantes a TV RIT, os canais infantis e todos os programas de sua religião. Porque o valor estipulado por ele aos fiéis é para assinatura de uma tv a cabo religiosa.

Mais uma vez, eu pensei, “eu mereço estar aqui em meio a esse espetáculo de limpeza das ideias dos cérebros pensantes”. Imagina você está presenciando algo que não acha a menor graça e que tem certeza que é puro charlatanismo por força de trabalho. Pois é, mas eu sou valente, aguentei até o final. Antes de acabar é claro que dei uma voltinha no ambiente para averiguar os milagres e pasmem, descobri que os cadeirantes, os cegos, os que usavam aparelho na coluna e aqueles de braços ou pés tortos não foram agraciados pelo milagre do Bispo, ou de Deus? Parece que Deus só gostou daqueles quatro que se apresentaram no palco fazendo firulas.

Para além dos milagres e dos cantos muita oração foi dispensada ao fiéis, sendo que na última, o Bispo pediu que todos ali fechassem os olhos para orar, e eles fecharam. Se eu fechei? Claro que não, precisava observar o movimento. Bem o certo é que quando a oração foi finalizada e o povo abriu os olhos. Cadê o Bispo? Sumiu!!! Desapareceu da praça como álcool na cânfora, pegou o seu jatinho e foi embora para São Paulo, porque às 5:00h da manhã ele tinha outro show da fé para fazer, outros “inocentes” para manipular. No dia seguinte eu que sou muito curiosa comecei a indagar das pessoas do Morro de São Paulo onde o Bispo havia se apresentado na sexta-feira com o seu show da fé, e acredite se puder, os milagres do Morro foram exatamente os mesmos que aconteceram aqui. Cara, se me avisassem e pagassem um bom cachê, eu bem que ajudava a encontrar doentes curados para o programa.

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4 Resultados

  1. Que horror! disse:

    Ele se esqueceu de dizer que é CUNHADO DE EDIR MACÊDO! A polícia federal deveria prender todo mundo já que o nome da Igreja é INTERNACIONAL DA GRAÇA DE DEUS, será que todos que estavam na praça tinham passaportes? É horroroso saber que o poder público apoia certas iniciativas. Permitir o show da fé sem obras na praça. Deveriam levar o príncipe da fé na santa casa para curar aqueles doentes todos, levá-lo na bolívia e no Mangue Seco, no Jambeiro e no Jacaré para pacificar aquela multidão e por fim, levá-lo no cemitério para ressuscitar os mortos e colocar nas sepulturas os mortos-vivos que aqui estão para se prestarem a esse papel de dar ibope para um evento dessa natureza.

  2. Pr. Josafá Souza Costa disse:

    TEMPOS DA APOSTASIA

    Vivemos os verdadeiros tempos da apostasia, a perda total da fé, diga-se de passagem, dos incrédulos! Que barbaridade um comentário tão apócrifo sobre um evento religioso que não seja o do Papa Francisco, recentemente em visita de vários dias ao Brasil o qual gastou milhões dos cofres públicos, pagos por todos nós brasileiros e que nenhum jornalista que se preza fez menção ao disparate e descabível rombo no dinheiro que deveria ter sido pago pela Santa Sé cujo Banco do Vaticano foi assunto de desvio de verbas pelo mundo inteiro! Isto ninguém fala, disto ninguém comenta! Será por que é pecado? Kkk…

    Não sou contra a imprensa que noticia e sim a que condena, nem tão pouco sou contra a nenhum movimento que democraticamente usa o espaço público para as suas manifestações e discordo frontalmente de que a fé alheia seja argüida e desmerecida de forma de vil e abrupta como quando se trata de religiosos do seguimento evangélico.
    Todos têm o direito de se manifestar publicamente, desde que não cause transtornos à ordem pública, sendo que há espaço para as mais diversas manifestações de fé ou de ordem cultural até aquelas de mão gosto na forma mais esdrúxula. Repito que nada tenho contra o trabalho que se diz jornalístico, embora tenha eu observado que a matéria tenha sido tendenciosa, pois o que se viu do início ao fim foi crítica exacerbada ao evento ocorrido, ainda que ninguém que lá esteve saiu atirado, com perfurações de facadas, pedradas ou morto!

    Quando alguém se arvora em fazer comentários de forma depreciativa, sentenciando e condenando pelo simples fato de não respeitar a fé alheia ou não concordar com suas práticas, torna-se juiz de uma causa injusta, sendo que a fé é uma manifestação sobrenatural onde não compete ao homem natural sua intromissão indébita, ainda que “se achando” ou que de fato se ache capaz de julgar pelas potencialidades de seus dotes cognitivos, lógicos e racionais, nada a ver, pois, a fé é sobrenatural, ilógica, sendo sua dimensão algo do além simples conceito lógico, ainda que analisado por algum agnóstico, ateu, etc.

    É necessário que se diga, querendo vocês ou não, há um seguimento religioso no Brasil que respeita a sociedade e exige respeito dela também. Não há espaço para uma convivência pacífica no meio dos diferentes seguimentos de idéias e pensamentos? Ou estamos no meio de uma velada intolerância religiosa em pleno País democrático?
    Quando os grupos religiosos e culturais se manifestam tanto de forma privada ou de forma pública, a sociedade tem que ter a decência de mesmo discordando daquele seguimento ou de suas práticas, não se interpor ou intrometer-se, nem ao menos tratá-lo de forma tendenciosa, preconceituosa, pejorativista, subestimativa ou depreciativa como se vê hoje em dia num País laico e democrático. É contracultura opor se ao estabelecido conceito cultural de uma sociedade que tem como norma o respeito ao outro. Esse conceito é destrutivo e invade violentamente o conceito apologético que permite a defesa da crença e da fé daqueles que pensam diferentemente dos que estão posicionados ao ataque dos direitos alheios sem que ao menos tenham sido chamados à discussão antropológica em nível cultural, social, filosófica ou teológica.

    Por que não vemos ninguém criticar certos setores e agremiações que alardeiam suas idéias e pensamentos de forma mais explícita como é o caso dos grupos gays pelo mundo afora com seus “novos conceitos” sobre família e sexualidade, etc? Por que essa velha mania de criticar evangélicos tendo “aquela velha opinião formada sobre tudo” que é contrário ao que alguns crêem e frontalmente insistem erroneamente e ironicamente em discordar do outro? Isso é intolerância religiosa, pois o direito sagrado de cultuar e manifestar-se publicamente é sagrado e faz parte do indelével conceito de liberdade, mesmo eu e você não fazendo parte daquele seguimento. Eu por exemplo não faço parte daquela religião e por motivos de agenda não me fiz presente na praça, porém, tal fato não diz que eu desaprovo a manifestação religiosa ali ocorrida.

    Não quero entrar no mérito das manifestações que lá ocorreram, até mesmo porque a fé é uma questão de foro íntimo e ninguém poderia dizer que alguém foi ou não curado, que recebeu ou deixou de receber uma graça, se não a própria pessoa.

    Quanto ao dá dinheiro para sustentar um programa de televisão ou rádio, isso é da alçada de quem quis ou quer dá, até mesmo porque é melhor dá de livre e espontânea vontade do que roubar, como fazem aqueles corruptos de colarinho branco que nunca pagam pelo erário público dilapidado dos nossos suados impostos. A igreja é separada do estado e deve viver dos dízimos e ofertas dos seus fieis e não do erário público, esta é a razão pela qual se pede, e, não se toma abruptamente de ninguém, nesse caso o conceito franciscano tem sentido quando se afirma que é dando que se recebe!

    Acho muito estranho uma matéria jornalística ser tão tendenciosa contra a manifestação da fé alheia e pior do que isto, assistir uma derrocada dessa calado, fato que me leva a manifestar a minha indignação, sem contudo ser opinioso sobre os preconceitos preestabelecidos de quem queira continuar pensando diferentemente de mim. No meu conceito cognitivo há espaço para o diferente dentro de uma harmoniosa convivência pacífica sem agressão ou subestimação.

    To Gad by the Glory.

  3. Irene - Uma mulher de coragem! disse:

    Parabéns Irene por desmascarar esse povo que só louva a Deus com os lábios e com os bolsos!

  4. Marisol disse:

    Há séculos a Igreja Católica tem desempenhado uma forte influência, não só no campo religioso, mas também em outros segmentos da sociedade mundial, influências que são, muitas vezes, em benefício da própria igreja.

    Os representantes da Igreja Católica se viam como responsáveis pela administração da própria igreja, atuavam determinando reinados, quem seria rico ou pobre etc. Os “Representantes de Deus aqui na Terra” conduziam as riquezas, proibiam o enriquecimento de pessoas pobres alegando que essas se encontravam em tal condição porque Deus queria assim, e que tal realidade lhes garantiria um lugar no céu.

    ‘Por que a riqueza do Vaticano? Se o Papa é o representante de Cristo na terra, por que não O segue em sua pobreza, humildade e simplicidade?’

    Porque a pedofilia dos Padres? Vamos falar disso também?

    Alguns gostam muito é de criticar os evangélicos. Repreende Senhor Jesus.

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