EUTANÁSIA INSTITUCIONAL

Irene Dóris

No Brasil todos os dias se “descobre” que algo não está andando bem, e essas “descobertas” só são possíveis, por conta da falta de compromisso dos políticos e dos poderes públicos para com as pessoas que necessitam de certos serviços. Os profissionais que deveriam prestar um serviço de qualidade não se formam visando um melhor desenvolvimento do país em sua área ou na recuperação de uma situação que esteja deficiente. A paciência e a vontade de ajudar não existem e se ocultar ou se livrar dos afazeres é um alento para aqueles que não têm compromisso com os juramentos que fizeram.

Pensando nisso, ao tomar conhecimento das notícias divulgadas diariamente através dos jornais sobre a “Eutanásia” praticada no Paraná penso que estas não deveriam chocar ninguém, porque a saúde brasileira está agonizante há muitas décadas, a eutanásia é praticada todos os dias em todo país, e de diversas formas. Desligar um aparelho e tirar a vida de alguém é crime, e não prestar socorro, deixar uma pessoa em estado considerado grave passeando por diversos hospitais, chegando a percorrer 240 km não seria eutanásia? Deixar uma pessoa com um tiro na cabeça sem atendimento durante 08 horas – processo que a levou a óbito – não é crime? A falta de leitos, remédios, médicos e materiais de trabalhos como fios cirúrgicos nos hospitais não consiste de maneira silenciosa em eutanásia?

Os jornais de hoje, (05/03) mostram a situação caótica da saúde na cidade de Cuiabá, capital do Mato Grosso, lá os doentes se deitam no meio do lixo no chão e não têm sequer respirador para melhorar uma simples falta de ar, os internados nessa capital esperam a morte chegar, porque não há nenhuma infraestrutura hospitalar para dar esperança aos pacientes de saírem vivos dali. Até as paredes estão esburacadas correndo o risco de entrar bichos como ratos para atacar os pacientes que se encontram no chão esperando o milagre de Deus. Parece brincadeira ou texto teatral não é? Mas isso existe no Brasil, a saúde pública se encontra em estado gravíssimo e os brasileiros que dependem dela, condenados à eutanásia forçada ou espontânea por falta de recursos, por que alguém desligou o respirador, por falta de compromisso dos responsáveis pelo atendimento ou por falta de responsabilidade dos governantes que não pensam em proporcionar uma saúde razoável para os brasileiros que os elegeram. Dinheiro o país tem, mas a corrupção política coloca a vida das pessoas à disposição de profissionais assassinos, seja pelas próprias mãos ou pelo descuido e pouco caso que fazem da vida. E é para isso que eles se formam, para cuidar da vida!

Você já parou para pensar como funciona o atendimento nos prontos socorros de modo geral? É assim, funciona de acordo com a moda da época. Até algum tempo atrás você chegava passando mal no P.S e recebia uma dose de “Buscopan” venoso para qualquer problema, (certa vez eu sofrendo de enxaqueca recusei o buscopan e recebi uma receita de vitamina, é claro que rasguei e continuei com minha dor de cabeça) atualmente a moda é “Diazepan” então você recebe uma dose para qualquer situação, de falta de ar até uma dor abdominal o remédio é “Diazepan”. Diazepan é o remédio universal, então a pessoa chega lá com início de infarto e ao invés de melhorar sai morto, primeiro porque fica ali sem atendimento por muito tempo, depois porque os profissionais que se encontram no plantão não tomam as providências devidas, talvez por falta de habilidade ou por descaso mesmo, e quem paga a conta? A pessoa que entrou ali em busca de socorro e sai morta.

Nesse contexto ficar assustado com a prática da médica paranaense que abrevia vida dos pacientes na UTI do hospital evangélico soa até dramático, porque a prática da eutanásia natural no Brasil é muito maior que a que está sendo praticada no Paraná, mas ninguém percebe, por que será? É natural se abandonar pessoas nos hospitais? É natural faltar equipamentos e medicamentos? Médicos faltarem aos plantões e provocarem a morte de pacientes em estado grave? É natural ser maltratado pelos médicos plantonistas que se recusam a atender pessoas sem plano de saúde pelos SUS sob a alegação de que ali é lugar de urgência e emergência? É natural mulheres darem a luz aos seus filhos acompanhadas apenas de uma enfermeira ou socorridas por outras parturientes? É natural médicos ficarem esperando as mães darem a luz aos filhos de parto normal até que suas crianças morram no ventre por falta de opção de nascer? Não é, mas acontece. Muitos bebês são perdidos nos partos porque os médicos deixam suas mães padecendo, esperando nascer normal para ganhar mais dinheiro do SUS, o bebê já sem ar nenhum na barriga da mãe que já perdeu todo líquido amniótico morre. Quer crime maior que esse? Pois é esses tipos diversos de eutanásia praticados contra a saúde pública nem sempre são percebidos, porque as pessoas apenas pensam que algo deu errado e se alguém reclama pelo maltrato que sofreu e denuncia o abandono do profissional pela perda de seu ente querido é tido como lunático escandaloso e injusto. O profissional da saúde só é punido se houver um escândalo nacional como foi o caso da medica paranaense e do carioca que faltou ao plantão provocando a morte da garota atingida por bala perdida.

Você deve estar interrogando, o que é que tem a ver os crimes do Paraná com a saúde pública? Tem tudo a ver, a começar pelo pensamento do estudante na hora de escolher a profissão, o futuro profissional quer algo que lhe dê muito dinheiro, e não aquilo que lhe dê prazer em fazer, então vai ser médico ou advogado. Aí a coisa fica triste, porque aparecem profissionais pouco cuidadosos, sem nenhuma habilidade e principalmente sem amor pelo que faz, e não tendo amor, claro que não há sentido de preservação. Nesse contexto a vida é apenas mais um botão que pode ser desligado caso ameace dar trabalho. Os crimes do Paraná foram realizados com dolo, por isso são tão abominados pela sociedade, enquanto isso as eutanásias naturais são realizadas tranquilamente pelo pouco caso que o profissional de saúde faz do paciente que espera sua atenção e pelo Estado que não se preocupa em proporcionar uma saúde digna para aquelas pessoas que dependem de atendimento do SUS. A eutanásia institucionalizada acontece a cada minuto do dia nos hospitais e prontos socorros do Brasil e nós ficamos chocados com uma médica que mata uma ou duas dezenas de pessoas. De quem é a culpa?

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1 Resultado

  1. Atualmente a saúde publica é uma vergonha nacional e infelizmente tudo é abafado com qualquer outro atrativo para manter toda a sujeira. Um exemplo é a copa do mundo que vem para o Brasil, esta servindo para desviar a atenção de muitas atrocidades que vem ocorrendo não só com a saúde publica, mas também com outras áreas. Tristemente também falo o que já me falaram “Cada Povo Tem o Governo que Merece”. Porque esta fraze? Simples, um exemplo eu e minha esposa tentamos reunir as pessoas para melhorar a qualidade de atendimento do posto de saúde. Porem na hora, as pessoas se omitiram e deram preferencia para o cilencio. O que ocorreu para melhora? Nada

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