A INTOLERÂNCIA BURRA

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Por Analista

Diferentemente de comentários anteriores, sempre baseados na pontualidade dos acontecimentos, venho propor neste momento uma reflexão de caráter menos factual e que exige uma compreensão mais generalizada. É claro que não é preciso se concordar com tudo que for escrito, como dito, é apenas um convite à reflexão.

A inspiração vem do filme “Ágora” (lançado no Brasil em 2009 com o título de “Alexandria”). Os acontecimentos se dão por volta do final do século IV e início do século V na cidade de Alexandria, ainda sob a tutela romana, que à época, era um grande berço da efervescência da cultura mundial. Ocupada simultaneamente por pagãos, judeus e cristãos, Roma ainda vivia o período de transição para o cristianismo. Neste palco e neste período a História relata uma das maiores irracionalidades do comportamento humano, os cristãos embebecidos pelo ódio religioso tomou o Templo de Serápis destruindo a sua biblioteca, está que grande parte dos historiadores afirmam ser um anexo da famosa Biblioteca de Alexandria. Após a conquista da cidade e a imposição da hegemonia religiosa sobre as culturas greco-romana e Judaica, os cristãos em nome da sua crença monoteísta assassinaram e perseguiram aqueles que não professavam a sua fé, entre essas pessoas destaca-se a filosofa e matemática Hipátia, cuja Obra não pôde ser comprovada por escritos devido ao infame ato de barbaridade. A ela credita-se a formulação da moderna concepção da trajetória da Terra em torno do Sol, que só foi ser reconhecida oficialmente nos trabalhos de Copérnico e Kepler mais de mil anos depois. Ela morreu, segundo o filme, violentada e apedrejada pelos fanáticos seguidores de Cirilo, uma espécie de sacerdote cristão. Os apedrejados de ontem se tornaram os apedrejadores do amanhã.

Bem, o objetivo não é condenar nenhuma crença, atos insanos relacionados ao fanatismo religioso não é típico do cristianismo. Basta uma olhada rápida pela História e veremos atrocidades cometidas também por judeus, muçulmanos e também por adeptos das religiões orientais. Agora, imaginem o que foi perdido de trabalho científico e intelectual num episódio como o relatado? Como estaria hoje à exploração do espaço se pudéssemos ter tido a oportunidade de ter estudado os escritos de Hipátia a mil e seiscentos anos atrás? O desenvolvimento que isto traria no estudo do clima e consequentemente na nossa capacidade de produzir alimentos? A evidente importância filosófica de se reconhecer o quanto somos pequenos diante da grandeza do Universo! Infelizmente esse é um dos exemplos que a deturpação do comportamento religioso prestou um desserviço à humanidade.

Nos dias de hoje ainda convivemos com essa intolerância, vemos pessoas e grupos étnicos se odiarem em defesa dos seus deuses e ou doutrinas, frequentemente usados como escudo de interesses políticos. Nas décadas de 30 e 40 vimos o Holocausto, atualmente vemos judeus Israelenses subjugarem Árabes islâmicos, testemunhamos o constante comportamento belicista dos EUA, que em defesa dos seus interesses econômicos imperialistas, se sustentam num neopentecostalismo maluco que só eles entendem. Não precisamos ir longe, aqui em Valença ainda vemos a externalização do pré-conceito das demais religiões contra o povo de Santo, criando uma sociedade dividida e desfocada da convivência comum. Para o extremista cristão, tanto católico como evangélico, fazer parte de uma seita de raízes africanas, praticar o ateísmo ou simplesmente assumir a postura de neutralidade é motivo de ser olhado com desprezo, diria até com nojo. Isso é terrível, mostra o quanto não aprendemos com a nossa História. A fé pode ser algo maravilhoso, desde que seja praticada de forma honesta e fraterna. Comecemos pelo que nos assemelha que é a nossa vil condição humana. Votemos em políticos analisando a sua capacidade de melhorar a nossa vida social e não pela religião que diz professar, aliás, geralmente aquele que pede o seu voto levantando a bandeira religiosa geralmente é um mentiroso, está abusando da sua boa Fé.

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4 Resultados

  1. CARLOS MAGALHÃES disse:

    Há muito tempo sou um voraz acompanhante desse blog, sendo parada obrigatória todos os dias com o intuito de acompanhar os acontecimentos e a opinião de uma pequena parcela da população que o lê.
    Aqui já li muita coisa absurda, baseada apenas no subjetivismo do autor do texto ou opinante, bem como textos meramente politiqueiros, devendo todos serem respeitados em nome do regime maior que conduz o nosso país: A DEMOCRACIA! não nos esquecendo que se somos livres para expressarmos os nossos pensamentos, também somos responsáveis pelas consequências que o mesmo trará para a sociedade (seja uma coletividade ou apenas um cidadão), tomando como exemplo o editorial do Jornal A TARDE de hoje, 04/02/2013, que nos traz a notícia da condenação da Rede Bandeirantes e de um de seus repórteres, Datena, ao ofender e atacar os ateus.
    Entretanto, o texto que acabei de ler, de autoria do criador deste veículo de comunicação, na minha opinião, e acredito que também de muitos os que acompanham este blog, se superou e muito a todos os textos que aqui já li, desde já parabenizando o autor pela sua perfeita interpretação do filme.

  2. CARLOS MAGALHÃES disse:

    CONTINUAÇÃO
    Também já assisti ao filme “Ágora” ou “Alexandria”, titulo este último adotado em nosso país, e o achei um filme impecavel, em razão do seu roteiro, da atuação dos atores e da mensagem que o mesmo nos transmite, NA MINHA OPINIÃO, filme digno de um oscar, mas que passou despercebido pela mídia e criticos do cinema, sendo uma indicação minha a todos o assistirem, despidos ao máximo possível de seus subjetivismos e pré-conceitos, a fim de que possam entender a real mensagem que esta obra nos trás.
    Algumas cenas me chamaram a atenção no filme e ficaram marcadas minha memória, como a inicial, que mostra como os cristãos sofriam perseguições naquela época e nas cenas finais, quando eles passam a ser os perseguidores, bem como a que a personagem principal do filme, “Hipátia” defendia as suas teses e o fim que a mesma teve por isso.
    Como foi muito bem observado pelo autos do texto, é incrivel como após séculos e séculos após da passagem do Cristo por nosso planeta a grande maioria não conseguiu entender as mensagens que o mesmo nos deixou, dentre elas A FRATERNIDADE, A TOLERÂNCIA, O AMOR E RESPEITO AO PRÓXIMO. Jesus quando passou por aqui não professou religião alguma, e nem mesmo criticou as religiões que aqui encontrou, mas sim aos religiosos, e todas as suas palavras foram deturpadas e manipuladas segundo o interesse de muitos. Por isso devemos ter muito cuidado ao ler as passagens, não só do Novo Testamento como do Velho, e separar o joio do trigo, procurando entender o que aquela mensagem quer transmitir, mas acima de tudo vivenciar os ensinamentos, pois o que nos salva não é a religião, mas sim a religiosidade.

  3. Fidel disse:

    Poxa analista, você brilhou agora! Parabéns pelo texto.

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