CRIMES AMBIENTAIS CHEGARAM A BOIPEBA

clip_image002É com muito pesar que escrevo a vocês.

Venho através desta postagem divulgar algumas das atrocidades que estão sendo feitas na Ilha de Boipeba, Bahia, Brasil. Infelizmente o "progresso" chegou, e com isso as depredações do meio ambiente. Depois de mais de 20 anos na Ilha acompanhando seu desenvolvimento, posso dizer que aquele paraíso definitivamente não é mais o mesmo.

A Ilha, que outrora era símbolo de uma natureza preservada, de turismo ecológico, está perdendo completamente esta condição. São inúmeras edificações, desmatamentos, enfim, a natureza mais uma vez está pagando pela ambição desenfreada.

Peço a vocês que receberem esta mensagem, se puderem fazer algo para impedir o que está acontecendo, façam, antes que seja tarde demais para mais um ecossistema no nosso mundo.

Infelizmente informo que o que estou mandando é apenas um dos vários (eu disse vários) crimes ecológicos que estão acontecendo em Boipeba.

Atenciosamente,

Philippe Faustino Neybergh
Administrador

Resumo ecológico sobre o impacto ambiental causado pela construção do muro “Fazenda Perini” na fauna silvestre da Ilha de Boipeba (extensão Rio do Inferno-Boca da Barra-Tassimirim-Cueira)

Janaina Mello Guimarães*

Introdução

A breve avaliação de estudo de impacto ambiental da construção do muro de empreendimento comercial Perini visa esclarecer os danos que este pode trazer a natureza e especialmente a fauna silvestre terrestre e arborícola da Ilha de Boipeba.

Este resumo também visa apontar alternativas para minimizar e até mesmo neutralizar impactos ambientais tanto para a natureza como também na busca de empreendimentos comerciais a favor do desenvolvimento sustentável da Ilha de Boipeba.

A extensão do muro é preocupante pois a mesma separa três importantes locais e ecossistemas da Mata Atlântica, sendo eles: Rio do Inferno (beira de rio (mata ciliar), restinga), Tassimirim (mata de galeria, mata densa, campo de mangabas, restingas e dunas), Cueira (dunas, várzeas, campos silvestres, restingas e remanescentes florestais). Locais que após a construção do muro perderam sua conectividade florestal ou seja a ligação entre eles.

Todo processo de origem antrópica (humana) que provoca a divisão de ecossistemas naturais contínuos em partes menores gera isolamento das espécies da fauna (e em alguns casos da flora) e sua conseqüente extinção.

Algumas espécies da fauna precisam de grandes extensões de mata para se alimentar e se reproduzir. Portanto, não têm como sobreviver em áreas menores. E as que não precisam de grandes áreas para se manter podem experimentar um rápido declínio no tamanho de suas populações, dependendo do tamanho do fragmento remanescente.

Um fragmento isolado não consegue garantir a existência da mesma quantidade de espécies que a antiga floresta contínua podia manter.

Conceitos ecológicos

É necessário reforçar conceitos ecológicos para a conservação da fauna silvestre e apontar suas espécies prejudicadas com a proibição de livre acesso na área do entorno do muro.

APA (Ilha de Boipeba):

Área de Proteção Ambiental: Unidade de conservação de uso sustentável, destinada a conservar a qualidade ambiental e os sistemas naturais ali existentes, visando à melhoria da qualidade de vida da população local e à proteção dos ecossistemas regionais.

Impacto ambiental (Contrução do Muro):

Alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia.

Corredor ecológico ou corredor de biodiversidade:

É o nome dado à faixa de vegetação que liga fragmentos florestais ou unidades de conservação separados pela atividade humana (estradas, agricultura, clareiras abertas pela atividade madeireira, etc.), proporcionando à fauna o livre trânsito entre as áreas protegidas e, conseqüentemente, a troca genética entre as espécies.

Fragmentação da floresta contínua:

Redução da floresta a pequenos remanescentes isolados, provocando diversas ameaças à diversidade, diminuindo o intercâmbio de animais entre essas porções de vegetação.

Diversidade da fauna silvestre prejudicada:

(Sublinhadas as espécies existentes na Ilha de Boipeba).

Mamíferos

Família dos Canídeos (cães, cachorros-do-mato, chacais, lobos, lobos-guará, raposas)

Família dos Felídeos (chitas, gatos, gatos-maracajá, jaguares, jaguatirica, leões, leopardos, linces, pumas, tigres),onças Panthera onca (Lineu, 1758) já extinta.

Família: Didelphidae (cuícas,gambás ou saruê)

Família dos Procionídeos, os “mascarados” (quatís, guaxinins, juparás, mãos-pelada)

Ordem: Primatas. Babuínos, chimpanzés, gorilas, macacos, micos, sagüis,bugios (já extinta em Boipeba, passível de reintrodução).

Famílias:Bradypodidae (preguiças); Dasypodidae (tatus)

Família Myrmecophagidae (tamanduás)

Ordem: Lagomorpha – coelho silvestre, lebre ou tapiti ou tapeti(Silvilagus brasiliensis)
As palavras “tapeti, tapici, tapiti, tepiti” em tupi-guarani significam coelho-silvestre…

Répteis

Iguanas (Iguana iguana), lagartos, Teiús, Jacarés, Cágados e o enorme conjunto de Serpentes são os mais afetados.

Anfíbios

A Mata Atlântica abriga possivelmente 260 espécies de anfíbios, mas em Boipeba pouco se conhece sobre a sua distribuição geográfica, número de indivíduos, conservação etc. O mesmo acontece em relação aos peixes e aos invertebrados. Sabe-se que para o equilíbrios do ecossistema eles são fundamentais (cadeia alimentar).

Crustáceos

Caranguejo é a designação comum às espécies de crustáceos decápodes. Terrestres ou aquáticos, marinhos ou de água doce, vivem, na maioria, em tocas que eles mesmos escavam, alimentam-se de detritos orgânicos, e são utilizados na alimentação humana. Esses Artrópodes são conhecidos na Ilha de Boipeba por guaiamuns e são de extrema importância na economia local de marisqueiras e catadores. Na época de reprodução dos guaiamuns é necessário para a espécie percorrer áreas contínuas para sua reprodução e desova.

Proposta

Vencer o isolamento da área atingida pela construção do muro e ampliar a conectividade dos ambientes nativos, permitindo o trânsito das espécies de flora e fauna entre os remanescentes.

Para isso é necessário que o muro não seja contínuo, não ultrapassando a extensão de 500 m de área contínua, intercalando trechos já construídos com cercas abertas ou mesmos cercas vivas.

O muro contínuo impossibilitará o contato visual dos animais com a floresta, resultando assim na barreira da passagem. Mesmo com pequenos canais e túneis de passagem os animais podem não ultrapassar. Estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas tem demonstrado o isolamento de espécies que não arriscam atravessar via barreiras físicas (muros, estradas, pastos, etc).

É necessário então paralisar novos trechos e substituir o muro fechado por cercas abertas ou vivas.

Já os trechos construídos, se não forem retirados, deverão conter passagens para o trânsito da fauna, como aberturas tipo túneis ou canais rentes ao chão.

Consideração Final

Pode ser difícil de imaginar o quanto um simples muro ou barreira física possa realmente interferir no equilíbrio das formas de vida da natureza.

Como imaginar um teiú macho de uma família, sair em busca de uma fêmea a 5 km de distância, tudo isso porque na sua área tem outros machos competindo e ainda fêmeas da sua família, ou seja com as mesma características genéticas, “quase irmãos”, o que resultaria em uma prole frágil, fácil de ser predada e sem possibilidades de reprodução.

Como imaginar um tatu fugindo de uma raposa e de repente não ter sua toca para se esconder ou simplesmente não ter como fugir.

Talvez mais fácil seja imaginar, você saindo de sua casa e não poder a partir de hoje nunca mais viajar, ou seja nunca mais encontrar novos lugares, novas pessoas, novas comidas, novos ares…

Esta sensibilização busca trazer dentro de cada empreendedor, de cada construtor, uma visão mais humana, e mais sustentável de seus investimentos não somente com suas vidas e sim com todas as formas de vida do planeta. Planeta que não seria inteiro se faltasse a pequena Ilha de Boipeba.

Referências Ecológicas

IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recusros Naturais Renováveis). Leis Ambientais. Sistema Nacional de Unidades de Conservação, SNUC.

Instituto de Pesquisas Ecológicas IPÊ (www.ipe.org.br)

Guimarães, Janaina. Manejo e Conservação da fauna silvestre em ambientes fragmentados. Centrofauna (Centro Regional Científico de Manejo, Reabilitação e Triagem de Animais Silvestres. Pós Graduação, Universidade Estadual Paulista (UNESP). 2004.

Novo Código Florestal.

Procarnívoros. Conservação da mamíferos.www.procarnivoros.com.br

*Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ).

Pós-graduação na disciplina de Manejo de Fauna

Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA)

Anexos

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Dois fragmentos divididos (trilhaTassimirim com Outeiro/Barra)

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Dois fragmentos de dunas/campos de mangabas em divisão(mirante da Cueira)

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Muro em construção. Dunas e campo de mangabas. Praia da Cueira.

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Abertura de estrada entre dois fragmentos florestais (trilha Tassimirim com Caixa d’Água).

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Construção do muro e estrada efetivadas. (Igreja matriz, estrada em acesso ao Rio do Inferno)

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Vista da Igreja ao alto. Estrada em construção. Muros aos dois lados, à direita da foto e acima, ao lado da igreja.

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5 Resultados

  1. Anderson Vieira disse:

    O POVO DE CAIRÚ AGUARDA EXPLICAÇÃO. CRIMES AMBIENTAIS ESTÃO VIRANDO ROTINA EM NOSSO MUNICÍPIO. ISSO TEM QUE ACABAR. É INADIMISSÍVEL QUE ESSE TIPO DE SITUAÇÃO ACONTEÇA.

    NÃO TEM FISCALIZAÇÃO?

    QUEM ESTÁ AUTORIZANDO ESSAS OBRAS?

    TEM INTERESSES FINACEIROS POR TRÁS DESSE MASSACRE À MÃE NATUREZA?

    QUAIS PROVIDÊNCIAS AS AUTORIDADES COMPETENTES IRÃO TOMAR?

    EM NOME DA COMUNIDADE CAIRUENSE MOSTRO MINHA INDIGNAÇÃO E REPITO, AGUARDAMOS EXPLICAÇÕES.

  2. Dedo duro disse:

    Invés do Prefeito de Cairú fica preocupado com a política de cidades vizinhas, possivelmente almejando se candidatar a Deputado; Deveria está procurando saber quem da Prefeitura está dando autorização para essas construções, consideradas irregulares, que estão destruindo o meio ambiente e também no futuro, expulsará os turistas que é o único meio que gera emprego na ilha.

  3. Elisete Souza disse:

    CARO PELEGRINI, BOA NOITE!

    ESTOU RESIDINDO EM BOIPEBA E POSSUO DIVERSAS FOTOS RECENTES DE CRIMES AMBIENTAIS NAS PRAIAS DA BOCA DA BARRA E CUEIRA, ALÉM DE DESTRUIÇÃO DE DUNAS NO RODÃO E MUITO ASSOREAMENTO NAS FAZENDAS (NA CUEIRA) DE FÁBIO PERINI.
    ESTOU CHOCADA COM O ESTRAGO QUE ESTÃO FAZENDO COM A NATUREZA, A EXMPLO DO QUE ACONTECE NAS DUNAS DO RODÃO, ONDE SEQUER HÁ VESTÍGIO DE PRESENÇA DE ANIMAIS, MANGABEIRAS E CAJUEIROS SÃO TOMBADOS POR TRATORES, NO LUGAR DA AREIA EXISTE PEDRA, POSTES ELÉTRICOS ESTÃO NA IMINÊNCIA DE CAIR PELAS ESCAVAÇÕES. JÁ NA BOCA DA BARRA AS BARRACAS ESTÃO SENDO CADA VEZ MAIS TRAGADAS PELA MARÉ, ALGUMAS ESTÃO SEM CONDIÇÕES DE FUNCIONAMENTO, COQUEIROS DERRUBADOS E NÃO EXISTE MAIS CAMINHO DE TERRA (QUANDO A MARÉ ENCHE) PARA A LOCOMOÇÃO DAS PESSOAS. TUDO ESTE QUADRO FOI REGISTRADO POR MIM ATRAVÉS DE FOTOS.
    NECESSITO URGENTE DO SEU E-MAIL PARA ENVIO DAS MESMAS.

    ESPERO RETORNO O MAIS BREVE POSSÍVEL!!!

    GRATA,

    ELISETE SOUZA

  1. agosto 30, 2011

    […] vereadores deveriam ler o resumo ecológico sobre o impacto ambiental causado pela construção do muro “Fazenda Perini” n… de Janaina Mello […]

  2. fevereiro 13, 2016

    […] veíamos algunas amenazas a la isla, nos llegan ahora más denuncias sobre crímens ambientales: Crimes ambientais chegaram a Boipeba. El texto contiene un llamamiento […]

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