Torcida da Arena ou Baiano Burro Nasce Morto

Chegou aos meus ouvidos o tal do movimento “Bahia da Torcida”. A princípio me pareceu ótimo. Sempre sou a favor das manifestações do povo em geral. Principalmente com algo que sou entusiasta como o futebol e envolvendo um time que tenho grande simpatia, apesar de ser vascaíno. Mas algo não me cheirava bem.

Não foi a ascensão meteórica da campanha, com mídia espontânea de Correio, A Tarde, ESPN, entre outros; afinal, a torcida do Bahia é grande e apaixonada, e o boca-a-boca é a forma mais incrível de propaganda. Não foi o esmero visual da peça publicitária, mesmo porque bastaria algumas horas de tempo livre de algum profissional da área fã do clube para dar tons profissionais ao trabalho.

O que atacava a pulga que reside atrás da minha orelha é o fato da reunião com os torcedores, marcada para hoje, 17 de maio, ser na Arena Itaipava, que antes respondia por Fonte Nova.

Então hoje, dois dos jornalistas esportivos mais respeito, Juca Kfouri e Mauro Cezar Pereira, divulgaram um texto de um jornalista baiano, torcedor do Vitória, que aponta a perigosa ligação entre o comando do movimento, o consórcio do novo estádio e o governo do estado.

Fazia sentido.

Fui dar uma olhada no que o Google me dizia sobre o publicitário Sidônio Palmeira, cabeça do movimento, que eu só conhecia de “ouvir falar”. Além de sua agência, a Leiaute, sua ligação com o governo e do movimento em si. Alguns links que achei interessantes, compartilho para cada um tirar suas próprias conclusões:

– Página no Facebook do movimento Bahia da Torcida
– Saiba detalhes do Bahia da Torcida, grupo que exige democracia no clube
– Sidônio Palmeira fala sobre o movimento “Bahia da Torcida”
– Leiaute comanda a campanha de Guilherme
– O dinheiro era para o partido
– Wagner foi apenas com César Lisboa e Sidônio Palmeira a filiação de João Henrique
– Busca no site da Secretaria de Comunicação do governo do estado pelo termo “leiaute”

Agora meus dois centavos.

É óbvia a ligação entre a agência Leiaute e seu diretor com o governo, seja ele do estado ou de alguns municípios. Isso não é segredo, basta ver o portfólio da empresa no seu site. Aparentemente nada demais aí. Mas como à mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta, levo isso em consideração. Afinal não sou político nem militante de partido, apenas um cidadão com um projeto de opinião.

Tendo isso em vista, é de se estranhar que tal movimento aconteça justamente em vésperas de Copa das Confederações e do Mundo. Meu medo é que o povo – neste caso especificamente a torcida do Bahia – esteja sendo manipulado. Afinal, um grande grande estádio foi construído e há uma empresa com interesse no futebol baiano para aumentar ao máximo seu faturamento. Ter controle sobre o clube que tem a maior torcida do estado e uma das maiores do país seria extremamente lucrativo.

Façamos um paralelo em Minas Gerais, onde o Atlético recusou-se a mandar seus jogos no Mineirão. Será que isso foi bom para os concessionários da nova Arena? Com contrato apenas com o Cruzeiro, a Minas Arena provavelmente não vai ter tanto lucro quanto poderia, apesar de ter direito à arrecadação de 98 dos 100 camarotes, além de 13% da bilheteria dos jogos.

Enquanto isso no Rio de Janeiro, o estádio palco do Pan de 2007 e principal legado dos jogos foi interditado. Em mais uma coincidência do país do futebol, às vésperas da privatização do ex “Maior do Mundo”. O cenário do futebol carioca mudou de “nenhum clube precisa de estádio, estamos nos virando bem com o que temos” para “três dos quatro grandes precisam de um estádio para jogar”.

É notório que o problema do Bahia está na direção. O mínimo que Marcelo Guimarães Filho pode ser chamado sem ônus de prova é de incompetente no comando do Esquadrão de Aço. O clube ainda precisa de uma reestruturação na sua base, no seu arcaico estatuto. E essa ação pode sim ser uma boa forma sair da inércia.

Mas é preciso que se tome cuidado para não servir a interesses duvidosos. Ademais, a frigideira e o fogo não podem ser as únicas opções de vida nesta nação. (daniel log)