Globalização: o impacto do coronavírus em nossas vidas

Por Luciano Lima *

“Nós somos responsáveis pelo outro, estando atentos a isto ou não, desejando ou não, torcendo positivamente ou indo contra; pela simples razão de que, em nosso mundo globalizado, tudo o que fazemos (ou deixamos de fazer) tem impacto na vida de todo mundo e tudo o que as pessoas fazem (ou se privam de fazer) acaba afetando nossas vidas.”

Pouco conhecido do povo brasileiro, o escritor, sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, em sua obra intitulada “Globalização: As Consequências Humanas” analisa o impacto da Globalização na vida das pessoas, bem como os reflexos de cada comportamento individual intrassocial e seu caráter ambivalente.
Segundo o pensamento de Bauman e de outros sociólogos contemporâneos: Immanuel Wallestein, Roland Robertson e Anthony Giddens, a dialeticidade da globalização impõe estudar conceitos que, longe de se excluírem, é um processo externo, uma ação a distância, que se nutre de ações individuais e das circunstancias da vida local.

Neste diapasão, ensina Zigmunt, linearidade e descontinuidade, homogeneidade e heterogeneidade, local e global, interno e externo, tempo e espaço não são conceitos que se excluem.

A globalização não é sinônimo de sistema mundial, e não está simplesmente lá fora. É um fenômeno também, interno, que está ligado as ações da vida local. Destarte, decisões que tomamos como indivíduos são com frequencia, globais em suas implicações.

Em tempos de pandemia do Coronavirus, fica evidente o pensamento desses sociólogos, acerca dessa interrelação entre as ações (dos indivíduos), as causas e os efeitos, (nos indivíduos), desse mal globalizado.

A globalização das doenças, ou seja, a difusão dos mesmos quadros mórbidos por todas as partes do mundo começou no ano de 1492, com a descoberta (ou conquista) da América, que assinalou, para povos e doenças, a passagem da separação à comunicação.

Antes disso, diferentes condições de ambiente, de nutrição, de organização social e cultural, de presença ou ausência de agentes e de vetores biológicos das doenças transmissíveis haviam criado quadros epidemiológicos muito particulares, no velho e no novo mundo.

Hodiernamente, as denominadas doenças da globalização: SARS, Ebola, Gripe Aviaria, Gripe Suína e agora Covid-19, tem causado a morte de milhões de pessoas ao longo do tempo e no espaço geográfico global.

A velocidade de disseminação dessas doenças é a mesma verificada nas revoluções: industrial, tecnológica, econômica e social, ao longo das últimas décadas.

O Coronavirus indica produzir efeitos sociais e econômicos que podem ser devastadores. Os impactos na saúde e na mortalidade humana também podem ser imensuráveis. Mas isso vai depender de pelo menos três fatores essenciais: 1) como o vírus evolui diante das vacinas e dos medicamentos utilizados; 2) o que os governos estão fazendo; 3) o que cada pessoa está fazendo.

É exatamente no comportamento humano que reside o maior desafio nessa batalha epidemiológica. Pois impõe ao cidadão uma pseudo dualidade entre SEGURANÇA e LIBERDADE. Onde a primeira é o nosso lar, o nosso isolamento social, uma separação temporal, e a segunda é a nossa escolha entre sorte e azar, saúde e doença, vida ou morte.

Mas afastando-se dessa aparente – e somente aparente – dualidade, o momento é de reflexão e de contribuição individual. De atenção as regras de educação sanitária, de restrição social e de comportamento empresarial.
Cada conduta individual pode impactar a saúde e a vida alheias, numa escala mórbida sem precedentes, não importando se você está na base ou no topo dessa cadeia vitimológica, política, social, cultural ou econômica.
É muito difícil prever. Mas uma coisa é certa: depois que essa crise finalmente for controlada, haverá outra. Após esse virus, virá outro.

Portanto devemos usar essa pandemia, por mais que ela ainda se desenvolva, como uma lição para o futuro, sem esquecer o que FIZEMOS, o que FAZEMOS e o que FAREMOS para “desglobalizar” as doenças e humanizar nossas condutas cotidianas.

Aproveitemos os ensinamentos propostos por Haemin Sunim, em seu livro “As coisas que você só vê quando desacelera”.

“O ar que INSPIRO entra em meu corpo e se torna parte de mim. O ar que EXPIRO entra em outra pessoa e se torna parte dela”.

Assim, com essa desaceleração imposta pela quarentena, podemos analisar e compreender a importância de cada um de nós. Dentro e fora de nossos lares. Dentro e fora dos corações alheios.

Globalizaremos então, o amor, o carinho, o afeto, a compreensão e a proteção. Contaminando cada irmão com abraços, beijos e apertos de mão. Isso num futuro que logramos esteja bem próximo.

*Luciano Lima
Advogado, Pós-Graduado em Direito,
Professor de Direito Civil e Processual Civil.
Mestrando em Ciências Jurídicas e Ciência Política,
pela Universidade Infante Dom Henrique.
Articulista e Consultor Político.

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