Uma dose de Brizolismo!

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Leonel Brizola, de metralhadora na mão, conclamou o povo à resistência natural

Por Mauricio Sena

Leonel Brizola foi um dos maiores estadistas brasileiros, por muitas vezes a voz mais ativa na defesa da classe trabalhadora. Detentor de uma personalidade forte e caricaturesca, sempre se posicionou de forma intransigente com as questões que envolviam os interesses nacionais.

Como governador do Rio Grande do Sul se tornou o grande líder da cadeia da legalidade, movimento que garantiu a posse de Jango após a renúncia de Jânio Quadros em 1961. Utilizando os transmissores da rádio Guaíba e arma na mão convocou o povo e as forças progressistas a resistirem ao Golpe de Estado que já se encontrava em curso. Evitou em parte, já que devido às aspirações e negociações realizadas por Tancredo Neves teve que engolir um arranjo Parlamentarista que retirava de Jango as prerrogativas de chefe do governo brasileiro.

Consumado o Golpe em primeiro de abril de 1964, diante da perplexidade de Jango, preocupado com a eminência de uma guerra civil que sem dúvida levaria ao derramamento de sangue, Brizola, mais uma vez se dispôs a fazer o enfrentamento armado em nome da legalidade. Num ato “impulsivo” acusou o Presidente de traidor e covarde, acreditava que a partir do sul do país e com apoio popular seria possível reinventar a cadeia da legalidade e reverter a situação. Já era tarde, a mistura de hesitação e bom senso de Jango arrefeceu qualquer alternativa de resistência, restando a ambos o exílio e a indiferença, ficaram distantes por 11 anos.

Enfrentou e denunciou como ninguém os grandes oligopólios de comunicação que se instalaram no Brasil durante o regime militar, em especial as Organizações Globo. Em 1982, quando candidato a Governador do Rio de Janeiro, invadiu as dependências da emissora para questionar a apuração feita pela TV Globo baseada nos números da Proconsult. Esse caso foi apenas mais um das dezenas de fraudes provenientes da aliança espúria de Roberto Marinho com os militares. Durante o ato foi aplaudido de pé pelos técnicos da emissora (Ver http://observatoriodaimprensa.com.br/memoria/a-globo-e-a-proconsult/).

A sua maior vitória contra a Globo foi em 1994. Em pleno exercício do seu segundo mandato como governador do Rio de Janeiro sofria sistematicamente com os ataques proferidos pelos Jornais, TVs e Rádios da família Marinho. Devido a um artigo publicado no Jornal “O Globo” com o título “Para entender a fúria de Brizola”, a justiça lhe concedeu direito de resposta por ter sido acusado de ter a mente senil e de estar em declínio da sua saúde mental. Esse direito foi exercido em pleno horário nobre, no Jornal Nacional através da voz de Cid Moreira e, sem dúvida, é um dos mais marcantes episódios do jornalismo brasileiro (https://www.youtube.com/watch?v=ObW0kYAXh-8). Um dos trechos dizia; “Não reconheço na Globo autoridade em matéria de liberdade de imprensa, e, basta, para isso, olhar a sua longa e cordial convivência com os regimes autoritários e com a ditadura que por 20 anos dominou o nosso País”.

Talvez fosse o único político da sua geração capaz de fazer o que Lula e o PT não fizeram, enfrentar a Globo! Paulo Henrique Amorim no livro “O quarto poder” relata que em confidência a Armando Nogueira (diretor de Jornalismo da TV Globo), Roberto Marinho ao receber a visita de Brizola em sua sala privativa no alto da “Vênus Platinada”, que possuía uma visão magnífica para o Jardim Botânico e Lagoa Rodrigo de Freitas, disse: “pois, não é que ele foi incapaz de elogiar a vista?”.

Brizola estava longe de possuir um perfil político perfeito, sua biografia como a de tantos outros personagens da história política brasileira é carregada de contradições, porém, parece inegável, que para o atual momento político brasileiro, um pouco de brizolismo seria adequado. Num cenário de conspirações e aspirações golpistas, sua disposição e coragem para o enfrentamento faz falta à esquerda brasileira, que não consegue encontrar um meio termo entre o extremismo e o reformismo fisiológico que claramente chegou a exaustão.

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2 Resultados

  1. XPTO disse:

    Parabéns ao articulista, que de forma simples e erudita, fez uma excelente perfil do Gigante dos Pampas. Uma excelente aula de história para conduzir uma boa discussão política – numa época em que reina os brucutus.

  2. Coração Valente disse:

    Já vi de ontem pra hoje nos perfis de alguns PTistas xiitas “alusões” a luta armada e inocentes relatos históricos referentes ao uso da força como forma de “resistir a golpe de estado” perpetrados em outras épocas…
    Então Pelegrini, como nada nesse mundo ocorre por “coincidência” e, na política não existe “algo por acaso”, me responda:

    Será que a resistência armada à queda de Dilminha já começou a ser articulada?!!!

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