O FUTURO EM BUSCA DO PASSADO

Por Maurício Sena

Dilma ganhou as eleições de 2014 já diante de um clima de crescimento do pensamento liberal dentro do ambiente institucional. Se por um lado a sua deposição origina-se de uma manobra articulada por forças políticas e econômicas que não conseguiam mais eleger um presidente dentro das regras democráticas, por outro é preciso se reconhecer que erros contribuíram significativamente para a ocorrência do golpe parlamentar de 2016. Os tarifaços, a implantação equivocada de uma política de subsídios e isenções fiscais numa conjuntura de retração econômica e a nomeação de Joaquim Levy com uma agenda ortodoxa de ajustes foram também responsáveis pela perda de popularidade e credibilidade. Faltou ao governo Dilma, como falta a esse, encontrar uma linguagem apropriada para explicar ao povo qual a dimensão real da crise que o mundo atravessa e os seus efeitos para a economia brasileira.

Com a “Inês morta” e a conspiração vitoriosa, Temer assume. Já são mais de 6 meses de aposta na mudança de humor do mercado como se a simples troca de governo fosse suficiente para isso. Durante esse período assistimos o crescimento da crise política e o agravamento da recessão, um governo acuado pelas forças que o alçaram ao poder claramente evidenciada pela relativização do seu pacto com a grande mídia, o que o torna cada vez mais impopular e fragilizado politicamente. Um novo cenário é perceptível, já é possível se prever um novo capítulo dessa mesma novela que consiste na consolidação da hegemonia tucana nos rumos da politica econômica do País com o intuito de se consolidarem como alternativa para 2018 e quem sabe até antecipada e indiretamente ainda em 2017. Seria o reencontro definitivo do Brasil com o neoliberalismo para concluir o que foi interrompido com a ascensão de Lula em 2003. Muita coisa já se encontra encaminhada, entre elas a imposição de um teto para a despesa pública justificada pelo mito da gastança e da insolvência da dívida pública, privatização de negócios lucrativos do estado relacionados à cadeia de petróleo e gás, redução do acesso ao crédito através da esterilização de ativos de bancos públicos, manutenção de altas taxas reais de juros privilegiando o mercado financeiro e a formação de uma maioria parlamentar disposta a fazer uma reforma previdenciária e trabalhista redutora de direitos. Acontece que a cartilha tucana baseada em premissas puramente ideológicas já não é mais nenhuma novidade. Esse experimentalismo ancorado no engodo da austeridade já nos levou a explosão da dívida, inibição do investimento, estagnação econômica, redução da renda e desemprego. Do ponto de vista estratégico carece de imaginação para mitigar os efeitos da crise e propor um projeto eficiente de nação.

Não deve haver uma única maneira de se sair de uma crise, porém, qualquer alternativa deve prioritariamente passar pela volta do crescimento econômico no curto prazo. É o crescimento que gera as receitas necessárias para que o governo equilibre sua situação fiscal sem abrir mão das responsabilidades que possui com o seu povo afastando a necessidade de dilapidar o patrimônio público. A busca do equilíbrio somente pela ótica da demonização do gasto público é caolha, num orçamento comprimido significa fechar escolas, hospitais, reduzir salário e programas sociais. As medidas para a retomada do crescimento em um cenário de depressão econômica possuem como pista a retomada do consumo, o fomento da atividade produtiva e principalmente o aumento dos investimentos estatais. Com o mundo em dificuldades e exportações depreciadas, o foco deveria estar na priorização do mercado interno estimulando paralelamente tanto a oferta como a demanda. O retorno à cartilha liberal dos anos 90 e sua política de redução do tamanho do estado aliada a teimosia cega na crença do espontaneísmo do mercado são alternativas que além de inapropriadas, certamente irão aprofundar uma crise que parece infinita. Tanto a OCDE como o FMI revisaram publicamente suas posições sobre políticas de austeridade que serviram de sustentação teórica para governos liberais que nitidamente fracassaram nas décadas de 80 e 90. O mercado irá contribuir com o crescimento da atividade econômica quando for financiado, a atividade produtiva for mais atrativa que os juros na remuneração do capital e ainda condicionada a potencialização da demanda através do aumento da renda e do crédito. Condições que só um estado forte e empoderado podem proporcionar.

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