SBT BOTOU SHEHERAZADE EM SEU DEVIDO LUGAR

Com pena de Sheherazade? Leva pra casa

Por : *

sheiraNão poderia ter sido mais bizarra a maneira encontrada por Sílvio Santos para lidar com o caso Sheherazade.

Nem mandou embora e nem manteve tudo igual.

Ela continua no SBT, mas para ler apenas o que escrevem, e não para gritar teatralmente suas opiniões arquiconservadoras.

Foi um prêmio de consolação para Sheherazade, que mesmo numa mudez parcial continuará a receber seus 90 mil reais mensais.

Foi, também, uma vitória da civilização, porque houve consequências para a abjeta incitação ao crime feita por Sheherazade ao elogiar os delinquentes que amarraram um jovem negro a um poste.

Sobraram as lamúrias falaciosas de Sheherazade e súditos segundo as quais a liberdade de expressão foi agredida.

Ora, liberdade de expressão absoluta não existe. Ou então poderíamos, por exemplo, dizer que foi injustiçado o apresentador do SBT do Paraná que chamou dias atrás um jogador de macaco.

A melhor definição para os limites da liberdade de expressão veio, no passado, de um juiz americano.

Suponha, disse ele, que numa sessão de cinema lotada alguém irrompesse e gritasse “fogo” no auditório.

Seria um caos com consequências imprevisíveis.

E se o autor do berro invocasse depois a liberdade de expressão? Foi esta a especulação que o juiz fez, para chegar à conclusão de que você não pode dizer tudo que quer.

O arranjo que Sílvio Santos encontrou para Sheherazade é obviamente provisório. Para ela, não é satisfatório, a longo prazo, se limitar ao papel de apresentadora.

E para o SBT, em algum momento, vai ficar claro que é um salário muito alto para alguém que apenas lê o texto do telejornal.

Mas por ora a situação é satisfatória.

Com o silêncio parcial de Sheherazade, ou a voz restrita, Silvio Santos consegue mitigar o risco de ver crescer a discussão em torno dos 150 milhões de reais por ano que o SBT recebe em verbas publicitárias do governo.

Tanto dinheiro assim para promover justiçamentos e crime?

Quanto a Rachel Sheherazade, vale para ela o que ela disse para sobre o jovem acorrentado.

Você que a admira está com pena? Leva pra casa, então. Adota.

*Paulo Nogueira é jornalista, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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13 Resultados

  1. Roberto disse:

    É muito engraçado como os posts desse blog acompanham todos os posts dos chamados “blogs sujos”, que é como chamam os blogueiros dp pt….

    Estão simonalizando a Rachel, isso mostra muito bem o tipo de preparo dos donos da verdade, da patrulha ideológica. Agora amigo pelegrini, como você pode defender esse tipo de atitude? Logo você, que utiliza desse meio de comunicação para expor suas ideias, para se expressar…..é claro, esqueci, são dois pesos e duas medidas, quem é “cartilhado” pode falar o que quer, mas quem é oposicionista deve se reservar a se conter…..

    Quanto a definição desse juíz, citada por esse jornalista….extremamente pobre. Uma pessoa tem o direito de gritar, até de querer se matar, de fazer o que quiser com sua vida, mas o grito dentro do cinema iria acarretar outros meios de enquadrar o suposto…..esse tipo de justificativa é extremamente falho, é citar uma verdade universal, para justificar um tema que não está sobre análise….essa tática é antiga, e já não cola mais….

    Cada vez mais a intolerância dos nossos esquerdistas se revela….. quem tem o mínimo de raciocínio entendeu o que a Rachel falou, e não foi esse paranauê criado por quem quer calar ela! Silvio Santos está de parabéns por manter a Rachel, de maneira corajosa! Afinal, o partido que está atualmente no poder, vestiu as roupas de napoleão, e acha que “O estado sou eu”, e utiliza o dinheiro do contribuinte para fazer pressão e calar a boca de quem não é alinhado! Parabéns ao PT, ao PCdoB, PSol, parabéns, é com atitudes como essa que vocês mostram que realmente gostam da democracia….só que não….

  2. Jaime disse:

    Rachel nao fez apologia a violencia, quem faz sao os nossos Deputados e Senadores que não tiveram coragem para Reduzir a maioridade Penal, nem aumentar as penas pra quem usa menores em crimes.

    o que ela falou é o que esta entalado na garganta de varios brasileiros e não tem o Poder de falar.

    Ninguem gosta da Policia nao é, mas quando a PM da Bahia anunciou hoje a greve Todo mundo inclusive órgãos da Justica e dos municipios, escolas , Faculdades suspenderam as aulas e liberaram seus funcionarios
    O que Rachel clama é por uma politixa seria e não um faz de cobtas que todos quetem sair Gatinhos na foto, vom seus discursos politicamente correto. Hipocritas pois quando as cameras são desligadas e não existem mais os holofotes, então pregam que bandido ten que morrer e são eles (politicos e hipocritas) que sao os verdadeiros ladrões

  3. Jaime disse:

    Estamos pagando com toda essa banalização do crime por causa dos Hipocritas dos discursos politicamente correto.
    Deixemos de hipocrisia e vamos tratsr o problema com seriedade.
    Desde Roma antiga o povo é enganado com pao e circo e nos tempos atuais ainda insistem em tratar o povo da mesma forma.
    Deixemos de ser massa de manobra dos poderosos ! Vamos acordar. Hoje tudo no brasil !é proibido, é falta de Decoro, é preconceito . Isso é um absurdo !

  4. mari pimentel disse:

    Parece-me perfeito seu post pelegrini, se realmente coaduna-se com seu pensamento está de parabéns, não se pode alegar a liberdade de expressão para se liberar a libertinagem de expressão, a cada dia que passa parece-me indispensável este marco regulatório, para se abstermos de declarações como a de CHEIRAZADE

  5. XPTO disse:

    Incrível como as pessoas se deixam levar por um discurso claramente ideologizado, sem fazer o menor esforço crítico. Vamos a verdade dos fatos: Se Rachel Sheherazade tem a opinião que tem, problema dela. E não é isso que foi colocado em xeque em nenhum momento. o problema foi ONDE e EM QUAL SITUAÇÃO ela expressou.

    01) Ela não expressou opinião (a meu ver, tacanha) dentro de um ambiente de total privacidade e/ou intimidade. Não falou numa mesa de bar, dentro da sua casa ou numa roda íntima de amigos. Ela se expressou publicamente, na sua condição de jornalista e em meio de uma matéria (friso isso, MATÉRIA, tipo que texto que qualquer faculdade séria de jornalismo é classificado de INFORMATIVO, diferente do Editorial, do Artigo, da Coluna e da Crônica, que são textos OPINATIVO e, portanto, claramente delimitados dentre de qualquer jornal). Não foi a PESSOA Rachel, mas a JORNALISTA Sheherazade quem emitiu uma opinião (que continha uma apologia ao crime, ao defender a ação de justiceiros) no momento que a sociedade esperava ser INFORMADA. Isso, publicado na imprensa escrita e digital, já seria motivo mais do que suficiente para um jornalista se retratar ou ser demitido.

    02) Ela emitiu essa opinião DENTRO de um jornal televisivo, o que complica mais a situação. Isso porque os canais de TV são concessões públicas que são renovadas periodicamente. Portanto, os concessionários dos canais de radiodifusão ESTÃO SUJEITOS A LIMITES, a fim de que INTERESSE PÚBLICO seja preservado. E dentre os limites, está a proibição de proselitismo e APOLOGIA AO CRIME. Um âncora realmente profissional sabe alguns comentário, mesmo que represente o pensamento de um segmento da audiência, não pode ser veiculado na TV e na rádio. E isso NÃO CENSURA. Qualquer países democráticos tem essas salvaguardas na legislação de radiodifusão.

    03) E para piorar mais a mais o caso (Sheherazade conseguiu essa proeza de feder ainda mais a merda), o personagem que motivou o comentário, ou seja, o rapaz NEGRO (hummm…. queria ver se a reação foi com branco….) que foi espancado por justiceiros e preso num poste como se estivesse num pelourinho, é menor de idade….

    FRIA, OBJETIVA e TECNICAMENTE, Rachel Sheherazade cometeu um grave excesso dentro do seu exercício profissional. Tanto é que, mesmo o corporativo sindicado de jornalista profissionais do Rio de Janeiro entrou CONTRA ELA um representação no Conselho de Ética da entidade. Os próprios pares e colegas de profissão saber que ela cometer um erro que macula a própria classe, feri os códigos de conduta e agrede a sociedade, o estado de direito e até a própria liberdade de imprensa. Qualquer jornalista sério, diplomado e com um mínimo de honestidade profissional sabe que isso seria um caso de, pelo menos, o afastamento da bancada de apresentação de um telejornal, quando não, de demissão. Por coisa menor, vários jornalistas já foram para o olho da rua, como aconteceu com Lourival Santos, da Rede Massa.E isso não considerado ato de censura e nem “privilégio´do Brasil pós 2002”. Não devemos esquecer que a Grã Bretanha, pátria do liberalismo conservador, adota hoje uma Lei de Imprensa moderna para coibir excessos, como os promovidos pelo jornal “News of the World”.

    Silvio Santos, raposa velha no meio televiso, não tomou nenhuma atitude corajosa, mas foi pragmaticamente condescendente: manteve uma funcionária, cujas polêmicas poderiam alavancar a audiência de seu telejornal (e só por isso, pois não devemos esquecer que o telejornalismo do SBT é um dos mais inexpressivos da TV brasileira), mas pôs freios, para que nenhum outro erro de tal monta venha acontecer posteriormente. O velho Senor Abravanel não fez sua fortuna se arriscando a toa e ele sabe que outras derrapagens TÉCNICAS como essa farão ele perder o ganso dos ovos de ouro de seu império econômico.

    E como se comporta a “juíza-e-carrasco-do-mundo” Rachel Sheherazade? Se ela fosse realmente uma boa profissional, tivesse realmente aprendido alguma coisa, no mínimo, ficaria calada, deixaria que a “manobra abafa” fosse executada para garantir seu posto. Só que, pelo contrário, ela prefere posar de vítima! Que se apresentar como uma “Joana D’Arc da imprensa” e vem com um discurso sem fundamento de que está sendo “perseguida”. Quer partir para uma “pseudo ideologização”. Usa da má-fé para atrair a audiência simpática e ludibriar, iludir, enganar de forma falaciosa os incautos. Como ela pode ser censurada, se ainda está trabalhando, normalmente? Acaso ela se julga acima das leis, para se achar que ela e/ou atitudes são imune ao ministério público, caso esse encontre motivos técnicos para se instaurar uma investigação? Agir assim é “ter dois pesos e duas medidas”? Democracia é permitir irresponsabilidades gritantes no exercício da comunicação social? Por favor, quem defende isso ou deve está de brincadeira ou está ofendendo a inteligência alheia, menosprezando-a…

    Resumindo, discordo dos que concordam com a opinião infeliz e insensível de Rachel Sheherazade. Que os defensores delas expressem sua opinião. Mas não me venham com baboseiras de que ela está sendo uma mártir da liberdade de imprensa, porque existe um suposto “bicho-papão vermelho” que não gosta do “rostinho angelical” dela. E atentemos para a verdades dos fatos, sem manipulações ou falácias doutrinárias. Ela cometeu um crime sim e merecia uma punição profissional. E se o nosso atual governo tiver uma “culpa”, foi porque nunca vestiu o manto de Luís XIV (quem realmente disse “L’État c’est moi”) ou farda bonapartista. Antes, está sendo republicano e democrático demais, em se recusar de fazer das verbas públicas de publicidade como pressão contra “não-alinhados”. E ser TOLERANTE DEMAIS contra os irresponsáveis na comunicação.

    Só lamento que “cartilhados” anti-esquerdistas insistem em pseudo-politizar situações em que a razão mostra claramente se de caráter técnico. Vamos devagar com o andor, que o santo é de barro. Sejamos coerentes no exercício do “senso crítico”. Principalmente se for o senso “crítico” for inspirado em autores revisionistas cuja crítica histórica é tão doutrinária, com a “doutrinação” que eles julgam “criticar”….

  6. pelegrini disse:

    Boa, XPTO!

  7. ROBERT disse:

    XPTO quer a ditadura do seu entendimento e do politicamente correto ! Mas não entendo pelegrini que sempre fala o que quer do jeito que quer e já foi processado varias vezes por isso ,ficar do lado dos bonitinhos da ética e dos bons costumes. Que é só conversa em faculdades e discussões de intelectuais. O curso de Direito é o que mais fala em Ética e o que menos cumpre-a depois de formados.
    Por isso aprendam só se deve falar o que fica bonito na foto !! hipócritas !

  8. XPTO disse:

    Para os coxinhas que defende irracional e emocionalmente a pobrezinha da Rachel Scherazeda:

    Kant contra Sheherazade

    Immanuel Kant continua atual. Em seu livreto Resposta à pergunta: O que é o Esclarecimento?, de 1784, o filósofo alemão define Aufklärung(iluminismo, esclarecimento) como uma condição moral que combina conhecimento profundo e autonomia crítica do sujeito do conhecimento. Partindo deste princípio, ele argumenta que é perfeitamente possível um público se esclarecer a si mesmo, desde que lhe seja dada a liberdade. Porém, entre os tutores estabelecidos da grande massa – dentre os quais atualmente se destacam os âncoras e comentadores de jornais e programas de TV – podemos encontrar sempre alguns indivíduos incapazes de qualquer esclarecimento.

    Rachel Sheherazade, âncora e comentarista do programa SBT Brasil, é destas incapazes de uma avaliação racional do próprio valor e da vocação de cada homem em pensar por si mesmo. Na edição do programa que foi ao ar no dia 04 de fevereiro a jornalista usou tom de voz hostil e abusou da liberdade de expressão para afirmar que acha “compreensível” o ato criminoso de três homens que espancaram, desnudaram e prenderem pelo pescoço a um poste um adolescente negro, pobre, morador de rua e autor de pequenos furtos:

    “O contra-ataque aos bandidos é o que chamo de legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite. E, aos defensores dos Direitos Humanos, que se apiedaram do marginalzinho preso ao poste, eu lanço uma campanha: faça um favor ao Brasil, adote um bandido”.

    Em entrevista a Leonardo Azzali, publicada no portal RD1 em 7 de fevereiro, Sheherazade mostrou-se incapaz de qualquer esclarecimento ao afirmar que seu editorial foi completamente desconstruído, pois em nenhum momento do texto teria apoiado ou incitado a violência.

    Raciocínio pobre

    Se Sheherazade fosse dotada de autonomia crítica e tivesse conhecimento profundo da Constituição da República Federativa do Brasil, do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros e da Declaração Universal dos Direitos Humanos saberia que o seu discurso de ódio violou os direitos humanos, o Estatuto da Criança e do Adolescente e fez apologia à violência, que é um crime previsto por lei. Se, por definição, “bandida” é a pessoa que praticou atividades criminosas, isto é, que infringiu por ação ou omissão o código penal, cometendo crime, Raquel Sheherazade, ao infringir a lei, tornou-se uma bandida. Kant já ensinou que semear preconceitos é muito danoso, porque acabam por se vingar dos que pessoalmente, ou os seus predecessores, foram os seus autores.

    Pelo pobre raciocínio da apresentadora do SBT Brasil, ela mesma poderá vir a ser vítima da defesa coletiva dessa sociedade sem Estado, afinal, ela é uma criminosa. No entanto, para sairmos da barbárie, cabe ao Estado puni-la, de acordo com a lei.

    ***
    Vítor Cei é jornalista e pesquisador visitante da Universidade Livre de Berlim
    http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed786_kant_contra_sheherazade

  9. XPTO disse:

    Outro texto paras coxinhas entenderem que a questão não é política, mas puramente técnica de erro profissional:

    A jornalista e os justiceiros do Flamengo

    Este texto se destina a quem tem dificuldade de entender o motivo pelo qual Rachel Sheherazade recebeu tantas críticas a respeito de seu comentário no Jornal do SBT, em 5/2/2014, quando comentou e justificou a ação de justiceiros que espancaram, mutilaram, desnudaram e acorrentaram a um poste um jovem que supostamente assaltava pessoas no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro:

    1. – O pensamento dela parte de uma visão distorcida do filósofo Thomas Hobbes (1588-1679). Resumidamente, Hobbes afirmava que o ser humano em “estado de natureza” (sem uma estrutura política que o limite) iria sempre perseguir a satisfação de seus desejos, o que resultaria em incessantes conflitos entre as pessoas quando o desejo de um entrasse em conflito com o do outro. Isso resultaria em uma “guerra de todos contra todos”, e daí deriva a necessidade de um Estado forte – e absolutista – que através de sua enorme força repressiva conseguisse limitar os conflitos e assim preservar a integridade física das pessoas – ao custo de sua liberdade. O erro de Rachel Sheherazade nesse aspecto: Hobbes nunca defendeu que os cidadãos seriam capazes de executar “justiça” por conta própria – pelo contrário, considerava que a população em geral é intelectualmente incapaz para discernir sobre questões de justiça, e que todos (sem exceção) possuem o mesmo potencial para serem violentos e despóticos em relação aos seus pares.

    2. Quando ela fala sobre o governo ter desarmado os cidadãos e sobre o grupo de justiceiros estar usando de “legítima defesa”, está usando uma interpretação igualmente distorcida de outro filósofo do período moderno, John Locke (1632-1704). Locke afirmava que todo cidadão deveria possuir meios de defender suas propriedades. Mas para Locke a principal propriedade de um ser humano é seu próprio corpo, e este é inviolável – com esse argumento Locke se opôs fortemente à tortura, à pena de morte, a castigos físicos em prisioneiros e à escravidão como fora praticada nas Américas (ele admitia a possibilidade de trabalhos forçados como reparação para crimes contra indivíduos). Na verdade, para Locke o direito à propriedade material nada mais é do que uma “extensão” dos direitos de se autopossuir (ou seja, propriedade sobre o próprio corpo), então os bens materiais são secundários em relação à integridade física, que seria inviolável. O pensamento de Locke é a base sobre a qual começou a ser construída a noção de direitos humanos, que pessoas como Rachel Sheherazade – e aqueles que a aplaudem – rejeitam (mesmo sem saberem do que se trata).

    “Legítima defesa coletiva”

    3. Quando ela defende que alguém seja capaz de determinar quem é culpado ou inocente, julgar qual seria a pena aplicável e executá-la, está violando um dos fundamentos mais básicos de toda a organização política ocidental: a divisão de poderes. Essa noção se iniciou com Locke (já citado), mas foi aprimorada pelo pensador Montesquieu (1689-1755). Para Locke, quanto mais “fraco” for o Estado, menor a possibilidade dele se tornar tirânico e abusar do cidadão (o que é uma crítica ao que Hobbes, também já citado, defendia). Montesquieu formulou que o estado deveria, portanto, ser dividido em três seções distintas, cada uma com função diferente: aquela que faz leis, aquela que julga as relações entre cidadãos de acordo com as leis já existentes, e aquela que executa as leis e os julgamentos. Aquilo que hoje chamamos de Legislativo, Judiciário e Executivo, respectivamente. Ao defender a atitude dos justiceiros (ou de policiais que realizam execuções sumárias – coisa que ela também já defendeu), ela está eliminando essa divisão de poderes: o mesmo que determina regras, julga; o mesmo que julga, executa. A consequência, clara, é a de que alguém que faça essas três coisas ao mesmo tempo passa a ter poder de vida ou morte sobre outro cidadão, sem necessariamente ter preparo ou legitimidade para isso – ou seja, nada mais é do que um déspota. E não faltam exemplos históricos disso: todas as ditaduras da história se basearam na falta de limites entre essas três funções.

    4. Quando ela afirma que o fato do rapaz ter fugido imediatamente ao invés de ter prestado queixa é um indício de que ele era culpado de algo, está simplesmente sendo burra: após ser espancado, ter sua orelha arrancada e ser acorrentado nu a um poste – pelo pescoço – alguém em sã consciência iria permanecer no local? Ainda mais sabendo que os mesmos a quem ele deveria reclamar poderiam fazer a mesma coisa novamente, ou podem ter sido coniventes com o que já havia ocorrido? E o fato de que os agressores provavelmente estavam nas redondezas? Qualquer um fugiria correndo em pânico assim que a corrente fosse serrada.

    5. A frase “o contra-ataque aos bandidos é o que chamo de legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite” é absurdamente parecida com as frases usadas por alguns dos movimentos mais violentos da história. Cito como exemplos a Ku Klux Klan (que existe até hoje) e os nazistas à época da Segunda Guerra Mundial – podem procurar vídeos a respeito no YouTube. Todos os movimentos de “limpeza social” se justificam afirmando que estão apenas se defendendo contra uma ameaça externa. Inúmeros grupos terroristas islâmicos emitem exatamente o mesmo tipo de discurso, e se justificam da mesma forma. A ditadura no Brasil também foi instaurada para supostamente livrar o país da “ameaça” do “comunismo” – e, até onde sabemos, deixou 20 anos de repressão, 457 mortos (confirmados) e pelo menos mil outros “desaparecidos” políticos, além de um grande número de exilados.

    “Comportamento de massa”

    6. Em seu discurso ela propôs que fossem jogados fora todos os fundamentos da Constituição brasileira, além de nossos códigos penal, processual e civil.

    7. Ela não atentou para o fato de que os “justiceiros” também cometeram vários crimes graves, e que por isso são potencialmente tão perigosos para a sociedade quanto o homem que “puniram”.

    8. Quando falou sobre defensores dos direitos humanos, demonstrou não conhecer sequer o conceito de “direitos humanos”. Ela e seus admiradores acreditam que “direitos humanos” é o nome de alguma coisa genérica que só aparece em casos que envolvem criminalidade, e sempre para defender a parte “errada” da história. Desconhece, por exemplo, que é por causa do conceito de direitos humanos que as pessoas não podem mais ser escravizadas, que é proibido chicotear alguém para que trabalhe mais, que jornadas de trabalho são limitadas a um determinado número de horas, que ninguém pode ser preso sem justificativa, que todos devem ter direito a um julgamento justo e a ampla defesa, que tortura não é aprovada como método de interrogatório, que o governante não pode ordenar a execução sumária de alguém que não goste, que o estado deve providenciar o mínimo necessário para a sobrevivência e a educação das crianças, que jovens menores de idade não podem ser vendidas para casar, que o governante não pode exigir de um casal recém-casado que a mulher passe a noite de núpcias com ele… coisas que afetam o cidadão comum, que poderia ainda estar sendo vítima disso tudo – como já aconteceu em outros momentos históricos.

    Ou seja, a mentalidade de Rachel Sheherazade precisa alcançar, no mínimo, o século 17. E eu nem entrei em outros pormenores, como os fundamentos da ética kantiana (que também é base da concepção de direitos humanos), da ética cristã (ela alega ser cristã), dos crimes que ela cometeu ao falar aquelas barbaridades em rede nacional (incitação ao ódio e apologia ao crime), do fato de que a criminalidade é fruto de condições sociais e por isso o indivíduo que se torna criminoso não tem total controle sobre sua escolha (coisa que se sabe desde o século 19), que o sentimento de revanchismo pode levar a população a um “comportamento de massa” que resulte em um movimento totalitário (fenômeno que ocorreu na Segunda Guerra Mundial, mas só foi explicado academicamente na década de 1950), e assim sucessivamente.

    No final das contas, quando você concorda com Rachel Sheherazade isso diz muito mais a seu respeito do que a respeito dela.

    ***

    David G. Borges é professor universitário, Vila Velha, ES
    http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed785_a_jornalista_e_os_justiceiros_do_flamengo

  10. XPTO disse:

    Robert, sou eu defendo a ditadura do meu entendimento? Ou, para “ficar bem na foto”, meu comentário deveria ser a mediocridade dos coxinhas? Eu apenas estou levantando um ponto de vista TÉCNICO, além do bate-boca de torcedores fanáticos. E não é porque outros fazem mazelas e irresponsabilidades profissionais que o errado deva ser glorificado. E não apenas “conversinha de faculdade ou papo de intelectuais”, mas a vida. A lugares e lugares, como formas e formas de se expressar uma opinião. E em cada uma dela, a um preço a pagar, caso se cometa algum excesso… Agora, se é para vivermos num mundo hipócrita (típico dos coxinhas), então devemos ter sim dois pesos e duas medidas: A jornalista comete um crime, mas como expressou a sua opinião, caro Robert, merece todas as glórias. Agora, quando alguém expressar um comentário diferente, esse deve ser crucificado, acusado de defender a “ditadura”… Francamente! Leia os textos acima, retirados do observatório da imprensa, para entender qual é o ponto da questão que eu me refiro. e verá que não é nada a ver com “politicamente correto”.

  11. anonimo disse:

    Os Direitos dos Manos pira com a realidade que essa competente reporter relata nos seus comentarios. Isso incomoda um bando de Politicos Ladroes

  12. ROBERT disse:

    XPTO

    Immanuel Kant, pai da Etica fala ” conduze-te de tal modo que o seu comportamento possa coezistir com os demais ,sem um atrapalhar o outro…” ou seja, o meu direito termina ,quando o seu começa…desta forma, não se pode engessar o que se deve pensar nem o que se deve dizer…principalmente quando o que foi dito é uma grande VERDADE….A quem interessa a manutenção do sistema aí como está….a quem interessa a corrupção, o politicamente correto ,somente no discursso….então siga a premissa de Kant e respeite a opinião dos outros….e não me venha com esse papo de TECNICA, pois é assim que os despostas se perpetuam no poder….desde a revolução francesa .

    Vamos dar a Cesar o que é de Cesar, XPTO ,aproveite para se identificar e não ficar atras de siglas !!

  13. XPTO disse:

    Caro Robert, vou começar respondendo de cima para baixo.

    XPTO é o meu apelido na época em que eu estudei história, na UNEB Santo Antonio de Jesus e baseado na escrita de meu sobrenome (Cristo), em grego, ou seja, Χριστός. Conhecendo como conheço essa cidade (e isso já vão quarenta e dois anos de vida), prefiro usar o velho apelido nos debates do blog de Pelegrini, o que não é nenhum crime! Não teria porque lhe dizer isso, mas vamos manter a educação e, por enquanto, isso só já basta.

    Quanto a seguir as premissas de Kant, só estou respondendo no mesmo tom que você me respondeu. Nas suas colocações (não só nessa, como nas outras), sempre me acusa de ser “o” déspota, “o” antidemocrático, dentre “otras cositas más”, apenas porque eu discordo de ti. Sou “o” déspota porque acho Leandro Narloch um tolo no seu revisionismo histórico infantil; porque eu acho que Lobão, hoje, é um niilista decrépito; sou “o” déspota porque chamo Olavo de Carvalho de astrólogo (e isso está no próprio currículo dele); sou “o” déspota porque acho que Diogo Mainardi é um deslumbrado que não se aceitar ter nascido brasileiro (como pude ler a entrevista que deu para a Playboy). Para você, eu sou “o” antidemocrático, porque cometo o pecado de ainda ser um marxista gramsciano que é crítico da senso comum dos coxinhas e dos fundamentalistas religiosos, nesse modismo de ser “antiesquerda”. E exatamente por pensar diferente, procuro participar de um bom debate de ideias, pois minha perspectiva é pautada na dialética, no velho embate da tese e antítese, para se chegar a uma síntese democrática. E, para isso, mantenho a ética de respeitar as pessoas que pensam diferente de mim e,no entanto, atacar as ideias que eu discordo. Até onde eu aprendi, isso é a base da DEMOCRACIA, na disputa pela hegemonia dentro da sociedade, respeitando sua diversidade e pluralidade de ideia. Tanto é que evito colocar pensamento como a “VERDADE” em maiúscula, como se fosse a única verdade absoluta… Aos que não conhecem ou não gostam do bom jogo democrático, deixo essa pretensão de proclamar suas opiniões como se fossem “VERDADES” absolutas.

    E, finalmente, na minha humilde opinião, o que aconteceu com Rachel Cheirazeda é uma questão técnica sim, a luz dos que os próprios jornalistas discutem sobre o que é ser um bom jornalista ético, profissional e responsável. Para ilustrar o que penso, trouxe exatamente os textos do Observatório da Imprensa, para que possamos ter um debate profundo e de alto nível, sem ficar na rasa briga de torcida, como vi em diversos blogs, sites e redes sociais. Se os defensores de Cheirazeda (e espero que meu direito de ser irônico não seja tachado de fascista, uma vez que até o filósofo Luiz Felipe Pondé, papa do neoconservadorismo brasileiro, usa nos livros deles) querem limitar o debate em sofismas e falácias, aí eu não tenho culpa. Cabe a cada um ser tão profundo como pode.

    Por isso, meu caro Robert, não me leve mal. Apesar de me enxergar como defensor de “ditaduras” e “regimes autoritários”, eu sou e serei um voltairiano convicto e jamais te mandaria para um gulag, apenas por discordar de mim. Eu posso nunca concordar contigo, mas defenderei até a morte o direito de vocês explanar suas ideias. Apenas peço, educadamente: vamos manter o debate saudável aqui no blog de Pelegrini, discutindo e criticando as IDEIAS dos outros. Só isso.

    Uma boa noite e uma boa páscoa para você e sua família

    Do vosso oponente nos debates, Sr. X.X. Cristo, também conhecido como XPTO nos meios unebianos.

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